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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial
O PAPEL DA FAMÍLIA NA FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL DA PESSOA CEGA: UM ESTUDO DE CASO COM ALUNOS DA UNIDADE EDUCACIONAL ESPECIALIZADA JOSÉ ÁLVARES DE AZEVEDO NO ANO DE 2005
Liliane Vieira Moraes 1
(1. UFPA)
INTRODUÇÃO:

A noção de família, em qualquer contexto social, relaciona-se à posição ocupada por cada um de seus membros no interior da instituição familiar, uma vez que, em torno da posição de marido, mulher, filho ou irmão, localizam-se inúmeras expectativas de comportamento, de obrigações e de direitos, que nada mais são do que os papéis atribuídos a cada um desses indivíduos, conforme o conjunto dos valores socialmente estabelecidos. Diante disso, o presente trabalho procurou verificar o papel da família à formação sociocultural da pessoa cega, instituindo, como objetivo geral: analisar o papel da família na formação sociocultural do aluno cego da Unidade Educacional Especializada José Álvares de Azevedo no ano de 2005; e, como objetivos específicos: investigar o processo de inserção da pessoa cega na referida Unidade Especializada, bem como identificar a influência familiar sobre esse aluno, relativamente às suas atividades de Orientação e Mobilidade. A importância deste trabalho, está na reflexão sobre o fato de que a imagem construída sobre a "deficiência", aliada a fatores econômicos, e ao modo com que se percebem os padrões de normalidade, repercute no modelo de educação dispensado por essas famílias aos seus membros com limitações visuais, bem como na interação destes com o restante da sociedade.

METODOLOGIA:

Primeiramente, efetuou-se uma revisão bibliográfica acerca do conceito, histórico e legislações, que envolvem as noções de família e educação, destacando-se, simultaneamente, as diversificadas relações estabelecidas com aquelas pessoas consideradas "deficientes". Num segundo momento, estabeleceram-se critérios para a delimitação do Universo da pesquisa empírica. Tais critérios foram: setor da Unidade Especializada ao qual o aluno estava matriculado no período estabelecido para a realização do trabalho (ano de 2005); grau de resíduo visual do aluno; e, por fim, nível escolar deste, relativamente ao ensino regular. Assim, obtivemos: alunos considerados cegos, matriculados no setor de Orientação e Mobilidade, e que cursavam, em escolas regulares, entre quinta e oitava série. Como último procedimento, adotou-se um roteiro de entrevistas abertas, visando delinear, junto às famílias dos alunos selecionados, os principais pontos a serem abordados. As respostas foram gravadas, e os principais trechos, transcritos para o computador, sendo, posteriormente, analisados e relacionados à bibliografia consultada.

RESULTADOS:

Os principais aspectos abordados nas entrevistas foram: as motivações que levaram as famílias a procurar a Unidade Especializada; a relação da pessoa cega com os parentes de fora do ambiente doméstico; e a realização de atividades de Orientação e Mobilidade (O. M.). Relativamente à primeira, constataram-se pontos comuns nas falas dos pais: a procura pela Unidade deveu-se à busca de uma vida "normal", bem como à possibilidade de ajuda à superação dos traumas da "deficiência". No que tange à relação entre a pessoa cega e os membros da família, verificou-se que, os parentes que não co-habitam, exercem influência em sua formação sociocultural, pois entre as famílias que possuem crianças cegas, faz-se necessário, sobretudo quando ambos os pais trabalham fora, ou a família é monoparental, conjugar esforços para mantê-las vinculadas às Unidades Especializadas. Ainda sobre essa relação, os entrevistados demonstram que alguns familiares tendem a sugerir formas de tratamento das "anomalias" dessas pessoas, bem como sua permanência, quando consideradas incapazes de conviver "normalmente" em sociedade, nas Unidades Especializadas. Relativamente às atividades de O. M., as famílias possuem em comum, o fato de seus membros cegos não possuírem autonomia, o que foi atribuído a questões como: violência urbana, falta de acessibilidade nas ruas etc.

CONCLUSÕES:

Diante do exposto, assinala-se o forte vínculo entre o contexto social e as realidades familiar e educacional, observadas ao longo da história. Tal constatação ancóra-se no fato de que, conforme o indicado pelo referencial teórico, de acordo com a mentalidade vigente em cada época, bem como com a classe ocupada por cada família, o tipo de educação por ela recebida e difundida, sofre igual multiplicidade. Do mesmo modo ocorre na relação com aqueles considerados "deficientes". Em vista disso, conclui-se que a forma com que se observou a pessoa cega em 2005, é extremamente diversa do que foi observado no início da sociedade capitalista. Além disso, as famílias não estão preparadas para conviver com a deficiência, em parte pelos padrões de "normalidade" muito absorvidos por elas, em parte, pelas condições econômicas desfavoráveis, no que tange ao grupo pesquisado. Por fim, constatou-se que o papel dessas famílias na formação sociocultural da pessoa cega, tem sido o de tentar adequá-la aos padrões já mencionados.

 
Palavras-chave: FAMÍLIA; SOCIOCULTURAL; PESSOA CEGA.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006