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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática

DIETA DE  Pachyurus bonariensis (SCIAENIDAE, PERCIFORMES) NO RIO IBICUÍ-RS.

Daniela Oliveira de Lima 1
Everton Rodolfo Behr 2
(1. Universidade Federal de Santa Maria/Bolsista PET - SESu/MEC; 2. Projeto Bioindicador das Bacias dos rios Vacacaí e Vacacaí-Mirim/UFSM)
INTRODUÇÃO:

A família Sciaenidae, com 78 gêneros descritos e 287 espécies, pertence ao grupo dos peixes da divisão periférica, ou seja, peixes em sua maioria marinhos e alguns gêneros com adaptação secundária à vida estuarina e dulcícola. Desses gêneros, seis são restritos à água doce e quatro desses, Pachyurus, Pachypops, Plagioscion e Petilipinnis, são endêmicos da América do Sul. Sobre a alimentação dessa família, os itens mais consumidos das poucas espécies já estudadas são animais de fundo, como crustáceos, poliquetos, moluscos, insetos e pequenos peixes, podendo algumas vezes também se alimentarem de algas. Estudos sobre dieta e atividade alimentar dos peixes geram um melhor entendimento das relações entre os componentes da ictiofauna e os demais organismos da comunidade aquática, além de servirem de base para o entendimento do papel ecológico desempenhado pelos peixes. O gênero Pachyurus possui dez espécies descritas, sendo seis restritas ao Brasil. A corvina-de-água-doce (Pachyurus bonariensis) tem sua ocorrência restrita aos países do sul da América do Sul (Argentina, Brasil e Uruguai). Até o presente momento não há estudo abordando a ecologia alimentar dessa espécie, tendo esse trabalho o objetivo de preencher essa lacuna sobre a ecologia trófica de P. bonariensis.

METODOLOGIA:

Este estudo foi realizado em três estações de coleta no rio Ibicuí, um rio lento, com substrato arenoso, de leito raso, ladeado por pantanais e com ampla planície de inundação. Localiza-se na região da campanha do Rio Grande do Sul. Os pontos de amostragem foram próximo da confluência dos rios Ibicuí-Mirim e Santa Maria no município de São Vicente do Sul (29º47`S – 54º56`O), no trecho intermediário, município de Manoel Viana (29º33`S – 55º37`O) e próximo da ponte da BR 472 no município de Uruguaiana (29º25`S – 56º38`O). Cada ponto foi amostrado em dois ambientes, um no leito do rio (lótico), e outro em canais ou lagoas que possuiam conexão como o rio (lêntico). As coletas foram realizadas bimestralmente em cada ponto, iniciando em dezembro de 1999 a estendendo-se até janeiro de 2002. Foram utilizados 10 metros de redes de espera com as seguintes malhas: 1,5; 2,0; 2,5 e 3,0. Já para as malhas 4,0; 5,0; 6,0; 8,0 e 10,0 e redes feiticeiras 4,0/20 5,0/20 e 6,0/20, foram utilizados 20 metros. Estas redes permaneceram na água por 24 horas, sendo revisadas a cada seis horas (6:00; 12:00; 18:00; 24:00). Para fins de analisar a dieta de P. bonariensis foram utilizados 325 indivíduos, esses tiveram seus estômagos abertos e seus itens identificados e quantificados através do método volumétrico. As medidas de volume foram analisadas juntamente com a frequência de ocorrência pelo Índice de Importância Alimentar (IAi).

RESULTADOS:

Os itens encontrados com os respectivos IAi para todos os indivíduos analisados são Ephemeroptera (40,75%), Diptera-larvas (24,74%), matéria orgânica digerida (13,41%), Odonata (9,77%), Trichoptera (9,72%), insetos não identificados (0,95%), Anellida (0,25%), matéria vegetal (0,16%), Decapoda (0,14%), Diptera-pupas (0,09%), Mollusca (0,01%) e Coleoptera (0,01%). Destes, Ephemeroptera, Diptera-larvas, matéria orgânica digerida, Odonata, Trichoptera, insetos não identificados, matéria vegetal e Diptera-pupas aparecem em todos os seis ambientes analisados, já Anellida aparece em quatro, Decapoda e Mollusca em três e  Coleoptera em apenas dois. Na lagoa do ponto um, destacou-se a alta freqüência de odonatos (51,3%) e a ausência de Mollusca. E no ambiente de rio do mesmo ponto temos a ausência de Anellida, Decapoda e Coleoptera, com grande destaque para Ephemeroptera (69,88%). Para a lagoa do ponto dois também temos a ausência de Anellida, Decapoda e Coleoptera, e as larvas de Diptera como o principal item (50,86%). No ambiente de rio deste mesmo ponto todos os itens estão presentes, apresentando novamente como item principal Diptera-larvas (36,24%) mas quase em equivalência com os tricópteros (35,16%). No ponto três, temos a ausência de Mollusca e Coleoptera nos dois ambientes e ainda a ausência de Decapoda no rio, e tanto na lagoa (71,73%), quanto no rio (40,49%), novamente Ephemeroptera foi o principal item.

CONCLUSÕES:

P. bonariensis apresentou hábitos estritamente invertívoros, com nenhuma ocorrência de peixes em sua dieta, diferentemente de outras espécies da sua família. Dentro dos invertebrados predados por esse sciaenídeo, destacam-se principalmente as efêmeras, que foram o principal item dos 325 indivíduos analisados e também o principal item nos ambientes de rio dos pontos um e três e na lagoa do ponto três. Os outros três grupos de invertebrados que se destacaram na dieta de P. bonariensis são: Odonata, Diptera-larvas e Trichoptera, que estão presentes em todos os ambientes e apresentam grande expressão (maior que 35%) em pelo menos um dos ambientes, além de, juntos com Ephemeroptera, representarem 85% da alimentação dessa espécie. Para muitas das espécies da família, principalmente as marinhas, os crustáceos são o principal item da alimentação, porém para P. bonariensis esse grupo foi fracamente representado, estando ausente em três dos seis ambientes estudados e com pouca expressão nos ambientes em que aparecem. Essa mudança no principal item alimentar com relação às espécies marinhas provavelmente é uma adaptação aos recursos alimentares disponíveis em água doce, uma vez que, em relação à água salgada, a água doce apresenta pouca diversidade e abundância de crustáceos quando comparados aos insetos.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Alimentação; Ecologia; Pachyurus bonariensis.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006