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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

ANÁLISES ETNOGRÁFICAS SOBRE O CONTROLE EXERCIDO PELA ESCOLA ATRAVÉS DO CONSELHO DE CLASSE: O ESTIGMA.

Paula Almeida de Castro  1
Carmen Lúcia Guimarães de Mattos  1
Aline Leal da Silva  1
(1. Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
INTRODUÇÃO:
O presente texto tem como objetivo analisar as condições excludentes que são produzidas no interior das escolas públicas do município do Rio de Janeiro. Nossas análises foram feitas a partir do estudo de campo realizado numa dessas escolas. Há que se considerar que a escola está no cerne de discussões sobre a qualidade do ensino, apresentando índices de evasão escolar, cada vez maior e que, portanto, refletem direta ou indiretamente no cotidiano de sala de aula. Cotidiano este explorado em nossas análises a partir da estigmatização presente na  interação professor e aluno. A compreensão acerca do que venha a ser o estigma perpassa os padrões de normalidade imposta pela sociedade. A definição de normalidade, por um lado, expressa a conformidade com um tipo médio e, por outro, a ausência de patologia. Entretanto, na atualidade, existe a formação de grupos e ou a formação individual que implica num padrão de normalização que se aproxima ou se afasta de determinado grupo ou pessoa. Na escola, assim como na sociedade podemos visualizar essa repulsa ao diferente. Os alunos, quando não se encaixam nos padrões de normalidade impostos pelos professores, recebem uma marca atribuída por eles, passando a ser reconhecido no meio escolar por tais atribuições. Há na fala dos professores um controle, que torna essa marca visível a todos que convivem com esses alunos.
METODOLOGIA:

Para subsidiar o entendimento da rotina escolar realizamos observações nos conselhos de classe que ocorreram durante o ano. A observação das falas de professoras, diretoras e coordenadora pedagógica nos proporcionou uma visão macro da sala de aula e dos procedimentos adotados no interior da mesma. A abordagem etnográfica, que subsidiou nossa pesquisa assim como a análise do material coletado, foi pensada levando em consideração a sua contribuição nos estudos das desigualdades e exclusões sociais: primeiro, por se preocupar com uma análise holística ou dialética da cultura, isto é, a cultura não é vista como um mero reflexo de forças estruturais da sociedade, mas como um sistema de significados mediadores entre as estruturas sociais e a ação humana; segundo, por introduzir os atores sociais com uma participação ativa e dinâmica no processo modificador das estruturas sociais. Com isso, buscamos propiciar um envolvimento com o campo estudado a fim de buscar explicações pelo cotidiano dos participantes. A observação de gestos, comportamentos e falas nos oferecem pistas para a compreensão que eles possuem da sua própria prática. À luz da etnografia foi possível analisar a fala de professores, coordenadores e diretores sobre as características de seus alunos que determinarão seus sucessos ou fracassos na escola. Retiramos os eventos de fala dos conselhos de classe que acompanhamos onde os professores estigmatizam seus alunos comparando-o a todo tipo de mazela social existente.

RESULTADOS:

Nos conselhos de classe nos deparamos com uma série de julgamentos de professores sobre a capacidade de seus alunos. Os conselhos de classe são organizados com o objetivo de proporcionar uma análise dos conteúdos transmitidos pelos professores e a assimilação desses conteúdos pelos alunos. No conselho de classe os participantes relacionam as características dos familiares com as condições precárias com que os alunos freqüentam a escola.Percebemos que o contato com a família do aluno é utilizado como uma ferramenta de exclusão escolar. Os problemas familiares são evocados pelos professores nos conselhos também como alternativa para encontrar um culpado para as dificuldades escolares dos alunos. Os professores associam o comportamento dos filhos às atitudes e comportamento dos seus familiares quando de sua ida à escola. Os pais são sempre colocados numa condição de inferioridade sem qualquer condição de proporcionar aos filhos recursos mínimos para que eles superem a condição de miséria em que nasceram e estão crescendo. Para essas professoras a herança cultural é fator preponderante para definir a condição de fracasso dos alunos. E também ao avaliar o aluno em sala de aula os professores acrescentam dados relacionados ao dia-a-dia da comunidade. Na maioria dos casos relatados esses dados são utilizados para estigmatizar o aluno, inviabilizando o desenvolvimento social, cultural e acadêmico do aluno.

CONCLUSÕES:
Nos conselhos de classe visitados os professores se reportam ao histórico comportamental, familiar e da saúde física e mental dos alunos, para ratificar a sua argumentação, na maioria dos casos negativa, com relação ao aluno e tal discurso dos professores acaba por definir o futuro escolar desses sujeitos. Foi possível identificar no locus de estudo que o discurso e a prática funcionam favorecendo apenas à alguns e que apesar dos esforços de implementação de políticas pedagógicas que visam a criação de uma escola inclusiva, humanitária, voltada para o atendimento das necessidades educacionais de seus alunos, há ainda uma lacuna a ser preenchida, relacionada com as formas de estigmatização do aluno. Podemos considerar que o nosso sistema educacional é meritocrático (RIST,1970), dificultando  a criação de uma avaliação qualitativamente relevante para a vida e para o desenvolvimento realista das capacidades de alguém. Para tal, reforçamos a idéia de que o professor precisa estar em contato com essa diversidade presente no âmbito escolar e promover junto aos seus alunos a inclusão dos mesmos através de uma pedagogia culturalmente sensível (MATTOS, 2005). Desse modo, acreditamos que a escola percorreu um longo caminho no sentido de promover a inclusão da adversidade presente em nossa sociedade, contudo, há ainda muitas considerações a serem tecidas rumo à um sistema educacional que proporcione à valorização da diferença e o respeito ao diferente.
Instituição de fomento: Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
 
Palavras-chave: estigma; exclusão escolar; família – escola.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006