Cultivares crioulas de milho são aquelas que, introduzidas a um longo período de tempo, sofreram um processo de adaptação a determinadas regiões através de seleção massal realizada por agricultores. O milho é originário das Américas, provavelmente do México, tendo sido desenvolvido nos últimos oito mil anos. Os povos primitivos que habitavam a América Central conseguiram domesticar o milho e ao mesmo tempo, por seleção, produzir um número grande de raças. No Brasil, entre os milhos indígenas, a maioria era constituída por milhos de grãos farináceos, muito moles, que se prestavam à moagem e à produção de farinha. No entanto, havia ainda os de pipoca e os de grãos duros. Esses foram os principais milhos desenvolvidos pelos índios no Brasil, Uruguai e Paraguai, e tiveram grande importância no melhoramento genético atual, principalmente o milho cateto. Embora a utilização de sementes híbridas tenha ocupado a grande maioria das áreas agricultáveis, ainda há um grande patrimônio genético preservado de forma natural pelos agricultores, que por motivos culturais ou pelo fato de nunca terem conseguido acesso ao crédito, trazem consigo até hoje uma rica diversidade de sementes. Resgatar a diversidade das sementes e o conhecimento dos agricultores, com um aporte científico, para que eles voltem a ser autônomos, pode ser um dos caminhos mais curtos para estabelecer uma nova ordem, que venha garantir a sustentabilidade dos agroecossistemas e a preservação da agricultura familiar.

O material genético utilizado no trabalho constou de 14 cultivares crioulas de milho enviado pela AS-PTA de União da Vitória, num projeto desenvolvido em conjunto entre a UNIOESTE, EMATER, CAPA e Itaipu Binacional para desenvolver a agricultura orgânica na região oeste do Paraná. O experimento foi conduzido em condições de agricultura orgânica em Marechal Cândido Rondon - Paraná, no delineamento de blocos ao acaso com 16 tratamentos com três repetições. A parcela experimental foi constituída por quatro fileiras espaçadas 0,80 m com 5 metros de comprimento, onde serão avaliadas as duas fileiras centrais menos 0,5 m iniciais e finais de cada fileira. As sementes de milho foram semeadas em outubro de 2004 e raleadas em espaçamento de 5 plantas por metro linear. Foram avaliadas as seguintes características: número de dias para florescimento masculino, porcentagem de plantas com raízes adventícias, número de plantas quebradas, número de plantas acamadas, altura da planta, altura da inserção da espiga, número de ramificações no pendão, número total de folhas, diâmetro do colmo. Após a coleta das parcelas experimentais as espigas foram levadas ao em laboratório onde foram avaliadas as seguintes características: comprimento da espiga, comprimento do sabugo, diâmetro da base da espiga, diâmetro da ponta da espiga, diâmetro da base do sabugo, diâmetro da ponta do sabugo, peso da espiga, peso de grãos, número de fileiras, número de grãos por fileira, cor do sabugo.

As cultivares crioulas de milho enviado pela AS-PTA de União da Vitória não mostraram diferenças significativas para a maioria dos caracteres de planta avaliados, com exceção de número de dias para florescimento masculino, acamamento e altura de planta, enquanto os caracteres de espiga e grãos mostraram diferenças significativas. A cultivar Sol da Manhã se mostrou a mais precoce e Encantilado a mais tardia para número de dias para florescimento masculino e Sol da Manhã apresentou a menor altura de planta em relação às demais cultivares. As cultivares Caiano e BR 106, obtiveram maiores médias nos caracteres, comprimento da espiga, diâmetro da base da espiga, diâmetro da ponta da espiga, peso da espiga, comprimento do sabugo, altura dos grãos, largura dos grãos, e peso dos grãos. A cultivar Rajado, apresentou a maior massa de mil grãos e médias altas para peso de grãos, altura dos grãos, largura dos grãos, comprimento do sabugo, comprimento da espiga, diâmetro da base da espiga, diâmetro da ponta da espiga e peso da espiga, apresentando-se bastante uniforme. A cultivar Asteca obteve a menor massa de mil grãos, e a cultivar Pérola o menor peso de grãos, apresentando estas cultivares, baixas médias para quase todos os caracteres. A maioria das cultivares crioulas apresentou grãos de coloração amarelada e sabugo branco. Observou-se um bom empalhamento das espigas e palha de cor verde e palha roxa.

A avaliação e a caracterização de variedades locais de milho crioulo, são importantes fontes genéticas para trabalho de pesquisa, podendo ser utilizadas em programas de melhoramento ou diretamente com os agricultores. As sementes devem responder às exigências do tipo de agricultura. Essas exigências constituem o verdadeiro conceito de qualidade, o que as distingue e as faz apropriadas para cada tipo de agricultura e de usuário.