O Programa Saúde da Família(PSF) foi instituído pelo Ministério da Saúde em 1994 como estratégia para mudar o modelo de atenção à saúde, emergindo como espaço fecundo para práticas educativas.

Em Campina Grande o PSF tem sido adotado como a principal estratégia de atenção básica, contando com 50 equipes que atendem a 36% da população. Dentre as ações realizadas, ressalta-se a educação em saúde junto aos grupos acompanhados pelos(as) profissionais que atuam no programa.

Assim, o presente estudo teve como objetivo geral analisar a prática do(a) assistente social no âmbito da educação em saúde desenvolvida no PSF de Campina Grande. Objetivamos ainda, apreender o significado de educação em saúde para os(as) profissionais de Serviço Social; Identificar as abordagens teórico-metodológicas que orientam a educação em saúde efetivada; Perceber a relação entre os(as) profissionais de saúde e destes(as) com os(as) usuários(as) nas práticas educativas; e identificar os desafios e possibilidades para a efetivação de ações de educação em saúde pelos(as) assistentes sociais.

A relevância desta pesquisa consiste na possibilidade de vir a contribuir para a construção de conhecimentos que aprimorem a educação em saúde, como enfoque metodológico interdisciplinar no campo da saúde coletiva, podendo subsidiar o fortalecimento das práticas desenvolvidas pelos(as) assistentes sociais bem como da formação dos futuros profissionais de Serviço Social que têm no PSF um fecundo campo de estágio.

A pesquisa constituiu-se num estudo de caso desenvolvido no PSF de Campina Grande, junto às onze unidades básicas de saúde da família que, no período de 2005. 2, foram campo de estágio para os(as) estudantes de Serviço Social da UEPB. Dada a natureza do objeto de estudo, pautou-se numa abordagem qualitativa.

A amostra foi constituída pelos(as) profissionais de Serviço Social que compõem as equipes das áreas delimitadas para a pesquisa, inseridas no universo de vinte e duas assistentes sociais que atuam no Programa Saúde da Família de Campina Grande.

A pesquisa priorizou a educação em saúde realizada nos grupos acompanhados pelo PSF. Assim, a coleta de dados se deu a partir de pelo menos um dos grupos acompanhados pelas assistentes sociais pesquisadas, utilizando-se a técnica da observação sistemática direta, seguida de registro em diário de campo. Outra técnica utilizada na coleta de dados foi a entrevista semi-estruturada com os(as) assistentes sociais que atuam nas áreas delimitadas. As entrevistas foram registradas em fitas cassete passando, posteriormente, por transcrição literal.

O tratamento e análise dos dados coletados no trabalho de campo foram realizados a partir da técnica de análise de conteúdo. A organização e codificação dos dados deram-se com base na definição de unidades temáticas (unidade de registro), em torno das quais categorizamos e agrupamos as respostas das assistentes sociais entrevistadas.

A pesquisa revelou, no tocante à concepção de educação em saúde, que as entrevistadas foram quase unânimes em entenderem a educação em saúde numa perspectiva crítica, evidenciando o seu papel político-pedagógico de contribuir para a melhoria das condições de vida dos(as) usuários(as) e para viabilizar a proposta de prevenção e promoção da saúde inerente ao PSF.

Quanto ao desenvolvimento das atividades de educação em saúde, as falas das assistentes sociais indicam que as atividades de educação em saúde se dão a partir da abordagem de temáticas, previamente preparadas, através de instrumentos e técnicas como dinâmica de grupo, sala-de-espera, oficina e palestra. A observação dos grupos revelou que embora as entrevistadas desejem estabelecer uma relação dialógica, de troca de saberes e construção conjunta das ações educativas, ainda é muito forte o protagonismo dos profissionais nesse processo, o que tende a desfavorecer a participação dos usuários como sujeitos ativos.

Assim, a relação entre profissionais e usuários nas atividades educativas, fica bastante limitada, em virtude especialmente dos entraves relativos às condições de trabalho no PSF, e porque não dizer no sistema de saúde, que podem ser resumidos basicamente na ausência de investimento na educação em saúde, expresso na falta de capacitação das equipes nesta área, ausência de material didático-pedagógico e insumos necessários, e espaços físicos inadequados para o trabalho educativo com os grupos.

Os resultados obtidos nos levam a concluir que, embora as concepções de educação em saúde norteadoras das práticas educativas das assistentes sociais se expressem, em sua maioria, numa perspectiva crítica, dialógica, a operacionalização da educação em saúde desenvolvida por estas tende a reproduzir a “pedagogia da transmissão”.

Contudo, a pesquisa evidenciou que a prática educativa realizada pelas assistentes sociais vem contribuindo para a superação do caráter biologicista e disciplinador que ainda se insinua nas ações de saúde, através da discussão de temas como direitos sociais, controle social, dentre outros, que visam não só o fortalecimento da prevenção e promoção da saúde mas a construção coletiva da cidadania.

Desta forma, identificamos como um dos desafios que se colocam no cotidiano do PSF a construção de práticas educativas que se pautem numa relação crítica e problematizadora, por parte dos profissionais e usuários. Nesse sentido, a educação em saúde, entendida como um processo educativo baseado no diálogo entre saber científico e popular, pode contribuir consideravelmente para a efetivação da proposta do PSF, e até mesmo do Sistema Único de Saúde, de modo especial no tocante à participação popular e a atenção integral à saúde.

Instituição de fomento: Universidade Estadual da Paraba(UEPB)

Trabalho de Iniciação Científica