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C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 5. Genética Vegetal

VERIFICAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE FLUXO GÊNICO ENTRE PLANTAS DE SOJA TRANSGÊNICAS E NÃO-TRANSGÊNICAS CULTIVADAS EM CASA DE VEGETAÇÃO, ATRAVÉS DA ANÁLISE DA PROTEÍNA TRANSGÊNICA

Fernanda Born 1
Fátima Terezinha Rampelotti 2
Kaira S. Pauli 3
Maycon Eduardo Nicoletti 3
Fernando Adami Tcacenco 3
(1. UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí, Curso de Ciências Biológicas; 2. UFPel - Universidade Federal de Pelotas; 3. EPAGRI - Estação Experimental de Itajaí)
INTRODUÇÃO:

A soja (Glycine max) é uma leguminosa anual pertencente a família Leguminosae  e possui grande importância econômica, sendo plantada em treze estados brasileiros. Com o avanço da biotecnologia moderna foi possível desenvolver novas cultivares de soja, mais adaptadas a condições climáticas desfavoráveis e com mais alta produtividade e qualidade, além de cultivares transgênicas, por exemplo com resistência a herbicidas. A soja transgênica resistente ao herbicida glifosato em pós-emergência (Roundup Ready) foi modificada por técnicas de engenharia genética pela emprega Monsanto (EUA), recebendo sua primeira autorização para comercialização em 1994. Conforme o Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações em Agrobiotecnologia (ISAAA), o Brasil está em quarto lugar entre os países que mais plantam transgênicos no mundo (15% do total da área cultivada com soja no país), e com a Lei de Biossegurança (Lei No. 11.105), que autorizou, a pesquisa, o cultivo, a comercialização e o consumo de organismos geneticamente modificados (OGMs), estes números tendem a se tornar cada vez mais elevados. Questões referentes à biossegurança têm sido discutidas, incluindo o fluxo gênico via dispersão de pólen. Produtores brasileiros têm questionado a possibilidade dos plantios de soja não-transgênica serem polinizados por cultivares de soja transgênica. Sendo assim, o presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de verificar a ocorrência de cruzamentos entre plantas de soja transgênicas e plantas convencionais em condições controladas.

METODOLOGIA:

Foram utilizadas 20 plantas transgênicas (cultivar Diamante) e 20 não-transgênicas (cultivar BRS 133) em casa de vegetação certificada pela CTNBio (CQB 092/98). A semeadura foi realizada em 03/10/2005, em vasos dispostos de forma que as plantas ficassem próximas o suficiente para que o cruzamento entre as cultivares fosse possível. As cultivares foram selecionadas observando características como altura, hábito e ciclo, para o florescimento e a formação das vagens das plantas ocorrem simultaneamente. A colheita das sementes foi realizada no período de 8/02 a 23/02/2006. As vagens das plantas não-transgênicas foram colhidas individualmente e catalogadas para posterior análise. A identificação da ocorrência de sementes transgênicas foi realizada pela análise da proteína CP4 EPSPS através da aplicação de testes comerciais baseados na metodologia ELISA, segundo recomendações do fabricante. Foram testadas todas as vagens das plantas não-transgênicas (172 vagens), sendo cada semente testada separadamente. Os grãos de cada vagem foram triturados, o farelo obtido foi colocado em um tubo apropriado fornecido com o kit e foi adicionada água suficiente para a solubilização da proteína. Em seguida as amostras foram homogeneizadas manualmente e as fitas-teste foram adicionadas ao extrato nos tubos. Após dez minutos, foi possível observar e interpretar os resultados.

RESULTADOS:

Apesar das cultivares utilizadas apresentarem sincronização de florescimento e estarem dispostas fisicamente próximas, permitindo a livre troca de pólen, não foi detectada fertilização de nenhuma semente das plantas não-transgênicas por pólen proveniente das plantas transgênicas. Este fato pode ser justificado porque a soja é uma planta autógama cuja percentagem de fecundação cruzada, em geral, é menor que 1 %, sendo que em campo esta taxa pode atingir até 2,5%. Mais importante ainda, a falta de vento e de insetos polinizadores pode também ter contribuído para a ausência de polinização cruzada. No entanto, as condições foram favoráveis à autofecundação, fato este comprovado pela ampla frutificação de todas as plantas. Em estudo realizado na região do Cerrado, foi observado fluxo gênico entre plantas de soja transgênicas e não-transgênicas crescidas a campo, havendo marcada influência da distância entre as plantas, sendo as taxas de cruzamento de aproximadamente 0,45% a 0,5 m de distância, caindo para 0,07% a 1,0 m de distância e 0,00% a 6,5 m de distância. Em arroz, bem como em outras culturas, também já foi observado o fluxo de pólen de plantas transgênicas para plantas não-transgênicas. Com relação à sensibilidade do teste aplicado no presente experimento, o mesmo pode detectar um grão transgênico em mil grãos, o que não deixa margem de dúvida quanto aos resultados obtidos, já que as vagens foram testadas individualmente, e havia no máximo três sementes por vagem.

CONCLUSÕES:

Os resultados demonstram que, nas condições controladas de casa de vegetação em que o experimento foi conduzido, não ocorreu fluxo gênico através de pólen de plantas transgênicas para plantas não-trangênicas nas cultivares de soja testadas. No entanto, para responder ao questionamento dos produtores de soja quanto ao risco de contaminação de lavouras não-transgênicas com pólen transgênico, seria necessário realizar experimentos adicionais, em condições de campo, onde as plantas estariam expostas a condições mais favoráveis à movimentação de pólen, tais como ocorrência de vento e presença de insetos polinizadores, o que não ocorreu na casa de vegetação utilizada, que, por apresentar Certificado de Qualidade em Biossegurança emitido pela CTNBio, segue necessariamente as normas de contenção estipuladas pela legislação vigente. 

Instituição de fomento: CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e Governo do Estado de Santa Catarina
 
Palavras-chave: cruzamento; Glycine max; OGM.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006