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H. Artes, Letras e Lingüística - 2. Letras - 1. Língua Portuguesa

A AULA DE PORTUGUÊS NO ENSINO MÉDIO

Mary Neiva Surdi da Luz 1
(1. Universidade Comunitária Regional de Chapecó/UNOCHAPECÓ)
INTRODUÇÃO:

Esta pesquisa nasceu da necessidade de conhecer a realidade do ensino de língua portuguesa nas escolas da rede estadual de Chapecó-SC. Embora o processo de ensino/aprendizagem de língua materna seja uma questão que vem há tempos inquietando profissionais na área, ainda não há um número expressivo de pesquisas que diagnostiquem a realidade local. Este trabalho apresenta os resultados da pesquisa que investigou o ensino de língua portuguesa, no nível médio, da rede estadual de Chapecó-SC. Não raramente, ouve-se alguém dizer que os estudantes de hoje não sabem falar, muito menos escrever. Deve-se considerar que tal tipo de afirmação tem como base a idéia que falar ou escrever ‘bem’ está estreitamente relacionado ao domínio da tradição gramatical. Nas últimas décadas, especialmente em relação ao ensino de língua materna, concentram-se esforços no sentido de se dar a todos os cidadãos o acesso à língua padrão sem a desvalorização das variantes lingüísticas e de seus aspectos culturais. Tendo em vista esse panorama, esta pesquisa objetivou verificar como se configura o ensino de língua portuguesa, no nível médio nas escolas estaduais do município de Chapecó-SC, verificando quais são as bases teóricas que dão suporte à metodologia empregada pelos professores em sala de aula; qual a visão dos discentes em relação ao ensino de língua portuguesa e como se dá a articulação das práticas de leitura, oralidade, produção de textos e análise lingüística à realidade lingüística dos alunos.

METODOLOGIA:
Para a coleta de dados foi utilizada como ferramenta metodológica, a aplicação de questionários. Os questionários consistiam em uma série de perguntas, entregues por escrito aos informantes que deveriam respondê-las por escrito também. Os questionários eram compostos por perguntas abertas e por perguntas fechadas. Antes da aplicação definitiva, foram aplicados questionários pilotos para testagem. Para a aplicação dos questionários, foi realizado o contato inicial que é de grande importância para motivar e preparar o informante, a fim de que suas respostas sejam realmente sinceras e adequadas. A aplicação definitiva se deu nos meses de abril e maio de 2003, com a aplicação de 220 questionários, numa amostragem de 10 alunos por turma. Os dados obtidos nos questionários foram classificados, codificados, tabulados e analisados. Depois de tabulados, os dados foram analisados quantitativa e qualitativamente e também articulados ao referencial teórico e confrontados aos objetivos do estudo a fim de se ver o seu significado para a pesquisa.
RESULTADOS:

Mesmo tão criticado por vários estudiosos, entre os alunos, o LD tem uma boa aceitação, 23% dos alunos o consideram ótimo ou bom, argumentando que:“quando dá preguiça, está pronto no livro”, “muitas informações e assuntos interessantes”. Por outro lado, 77% dos alunos se mostram insatisfeitos e apontam, baseados na experiência prática de estudantes, o que vários pesquisadores já apontaram: “tem pouco conteúdo”, “o professor só ocupa ele”, “não tem textos diferentes”. Os conteúdos propostos, segundo 55% dos alunos, não correspondem aos seus interesses. O uso do LD pode justificar tal ocorrência.Contudo, 45% dos alunos apontam que sempre são trabalhados conteúdos de seu interesse. Esse índice está relacionado ao vestibular, pois para muitos, a função do ensino médio é preparar os alunos para as provas e o estudo gramatical e as produções pré-definidas representam o tipo de conteúdo que o aluno precisa dominar. 68% dos sujeitos relatam que a análise e estudo das produções dos alunos é uma prática pouco utilizada. Dos alunos pesquisados, 44% apontam que nas atividades de leitura são realizadas análises e reflexões sobre o tema abordado nos textos. O estudo da gramática segue a seqüência apresentada pelo LD, segundo 36% e 33% dos alunos responderam que a gramática é estudada, a partir de regras e exercícios.

CONCLUSÕES:

Infelizmente, o ensino de língua portuguesa não vai muito bem. Alguns problemas se revelaram mais preocupantes do que se imaginava no início da pesquisa. O uso ilimitado do livro didático parecer ser o grande vilão dos problemas: conteúdos descontextualizados, leituras sem prazer, gramática normativa, não uso de outras linguagens e pouco, ou nenhum espaço, para a realidade dos alunos. Não se pode cair na ingenuidade de querer expulsar os livros didáticos do contexto escolar. O problema não está no LD em si, mas sobretudo na forma como ele é usado pelos professores. Mais do que rever os livros didáticos, e essa função já vem sendo realizada por comissões que analisam periodicamente os materiais didáticos disponíveis no mercado, é preciso que se repense a forma como são utilizados em sala de aula. Para muitos, professores e alunos, o LD é uma fonte, quando não uma das únicas de acesso a materiais de leitura e de informações. Há também aqueles professores que dentro de suas possibilidades fazem trabalho excelentes e que conseguem despertar no aluno o prazer em estudar a língua. Há uma preocupação em torno não só do ensino da língua que vem florescendo e que já vem dando bons resultados.

Instituição de fomento: BALCÃO DE PROJETOS- UNOCHAPECÓ
 
Palavras-chave: metodologia; língua portuguesa; ensino médio.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006