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D. Ciências da Saúde - 2. Medicina - 7. Saúde Materno-Infantil
EVOLUÇÃO DOS RECÉM-NASCIDOS DE MUITO BAIXO PESO ACOMPANHADOS NO AMBULATÓRIO ACRIAR-HC-UFMG
Cynthia Lazara Caldeira  1
Maria Cândida Ferrarez Bouzada  1
Eduardo Araújo de Oliveira  1
Lívia Castro Magalhães  2
Pablo Almeida Carvalho 1
(1. Departamento de Pediatria / DEPE-UFMG ; 2. Departamento de Terapia Ocupacional / DTO-UFMG )
INTRODUÇÃO:

 

O muito baixo peso ao nascer, ou seja menor de 1500 g e a idade gestacional são fatores que caracterizam a criança de risco, porém somente a presença desses fatores, não determinam o prognóstico destas crianças. Visto que, o desenvolvimento resulta da interação de fatores biológicos e sócio-ambientais, o seguimento do recém-nascido de muito baixo peso (RNMPB), pode revelar seqüelas, relacionadas a morbidades apresentadas no período perinatal, tais como: Sepse Neonatal, Enterocolite Necrosante, Hemorragia Periventricular, Leucoencefalomalácia, Retinopatia da Prematuridade, Displasia Broncopulmonar, alterações no desenvolvimento neuropsicomotor e Disfunção Neuromotora. Tais ocorrências perinatais podem ter conseqüências altamente incapacitantes, que devem ser detectadas e tratadas precocemente. O Ambulatório ACRIAR (Ambulatório da Criança de Risco) do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais - HC UFMG, presta assistência interdisciplinar nas áreas de Pediatria, Neuropediatria, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional e Serviço Social aos recém-nascidos de risco, acompanhando-os desde a alta hospitalar até a idade de 7anos.

METODOLOGIA:

Foi realizado estudo descritivo, retrospectivo, onde foram analisados 116 RNMPB nascidos no período de janeiro a dezembro de 2003, na Maternidade Otto Cirne do HC UFMG e acompanhados no Ambulatório ACRIAR. A coleta de dados foi realizada por meio de consultas aos prontuários. Os critérios de inclusão foram: concepto vivo e peso ao nascimento menor ou igual a 1500g. Foram excluídos neonatos com malformações e/ou síndromes, citomegalovirose, rubéola, toxoplasmose e herpes congênita.  No período mencionado, foram realizados 130 partos de recém-nascidos com peso menor ou igual a 1500g, dos quais 116 (89.2%) preencheram os critérios de inclusão. Foi investigada a prevalência de eventos adversos como Sepse Neonatal, Enterocolite Necrosante, Hemorragia Periventricular, Leucoencefalomalácia, Retinopatia da Prematuridade, Displasia Broncopulmonar e Disfunções Neurológicas. Avaliou-se os fatores de risco para morbidades, tais como, tipo de ventilação, uso de corticoesteróide , uso de surfactante. O desenvolvimento neuropsicomotor das crianças foi avaliado com o Teste de Triagem do Desenvolvimento Denver II, sendo utilizados seus resultados aos 12 e 24 meses de idade corrigida.

RESULTADOS:

Das 116 crianças avaliadas , 22 (19.1%) foram a óbito, a maioria no período perinatal; 32 (27.6%) nasceram de parto vaginal e 84 (72.4%) cesariana; o peso ao nascer variou de 400 g a 1500 g (média de 1100g ± 255 g); a idade gestacional variou de 21 a 38 semanas (média de 30 ± 2.5 sem.);52 (44.8%) do sexo masculino e 64 (55.2%) feminino. 86 (74.1%) foram classificados adequados para a idade gestacional (AIG) e 30 (25.9%) pequenos para a idade gestacional (PIG). Corticoesteróide antenatal foi administrado a 56 (48.3%); 65 (56%) apresentaram doença da membrana hialina; 57 (49.1%) usaram surfactante; 29 (25.0%) evoluíram com Displasia Broncopulmonar, destes, 17(58.6%) apresentaram peso menor ou igual a 1000g ao nascer. Sepse Neonatal confirmada foi encontrada em 42 (36.2%); 12 (10.3%) Enterocolite Necrosante e 37 (31.9 %)  Retinopatia da Prematuridade, sendo 27 (73 %) graus 1 e 2, 10 (27 %) graus 3 e 4. Hemorragia Periventricular foi detectada em 37 (31.9%), sendo 28 (75,6%) graus 1 e 2 e 9 (24,4%) graus 3 e 4, 16 (43.2%) evoluíram com atraso em seu desenvolvimento neuropsicomotor nos primeiros dois anos de idade corrigida e 13 (35.1%) apresentaram disfunção neuromotora. 14 (12.1%) evoluíram com Leucoencefalomalácia. O teste DENVER II apresentou resultado alterado em 20 (17.4 %) crianças no primeiro ano de vida e em 15 (12.9 %) no segundo ano, sugerindo alterações no desenvolvimento neuropsicomotor,  e 16 (13.7 %) evoluíram com disfunção neuromotora de graus variados.

CONCLUSÕES:

O presente estudo revela que o muito baixo peso ao nascer e a prematuridade estão intimamente relacionados à ocorrência de doenças como Sepse Neonatal, Enterocolite Necrosante, Displasia Broncopulmonar, Hemorragia Periventricular, Retinopatia da Prematuridade e outros, que se revelam como condições de risco para aumento na morbidade e mortalidade infantil. O acompanhamento destas crianças demonstrou, que quase metade das que apresentaram Hemorragia Periventricular, tiveram Teste de Denver alterado. Tais dados reforçam a importância da adoção de medidas que reduzam estes fatores de risco nas Unidades Neonatais, pois os mesmos podem interferir no desenvolvimento dessas crianças. O acompanhamento ambulatorial representa a oportunidade de se detectar alterações e intervir no desenvolvimento infantil, favorecendo assim, a prevenção de atrasos e/ou recuperação destes lactentes.

 
Palavras-chave: Recém-nascidos de muito baixo peso; prematuridade; desenvolvimento.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006