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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática

COMPOSIÇÃO DA DIETA DE Aphyocharax anisitsi EM UMA LAGOA ARTIFICIAL DA PLANÍCIE DE INUNDAÇÃO DO ALTO RIO PARANÁ, MATO GROSSO DO SUL

Cristina Viana Sales 1
Adilson Rodrigues 1
Dhonatan de Oliveira dos Santos 1
Valéria Flávia Batista da Silva 1
(1. Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul -Unidade Universitária de Mundo Novo)
INTRODUÇÃO:

   Estudos sobre dieta e atividade alimentar em peixes tem gerado subsídios para um melhor entendimento das relações entre os componentes da ictiofauna e os demais organismos da comunidade aquática. Desta forma, o conhecimento das fontes alimentares utilizadas pelos peixes pode fornecer dados sobre habitat, disponibilidade de alimento no ambiente e mesmo sobre alguns aspectos do comportamento. Por outro lado, informações acerca da intensidade na tomada de alimento podem ser úteis para a complementação de estudos que visem detectar interações competitivas entre as espécies ou partição de recursos entre elas. A espécie estudada Aphyocharax anisitsi, conhecida popularmente por piqui, enfermeirinha, pertence à família Characidae, subfamília Aphyocharacinae, sendo representada por indivíduos de pequeno porte, que servem de alimento para espécies carnívoras. Esta espécie é encontrada nos rios Paraná, Paraguai, Uruguai e na Lagoa dos Patos, e em várzeas na região Sul da América do Sul. Desta forma, este trabalho teve como objetivo analisar a dinâmica alimentar e  a composição da dieta de A. anisitsi, durante os períodos de seca e cheia, com o intuito de determinar o hábito alimentar desta espécie.

METODOLOGIA:
O local de estudo, conhecido como lagoa do Cascalho (24º 02’ 28,4”S e 54º 14’ 00,2” W), é uma lagoa artificial, formada a partir de escavações para a construção de uma área de lazer (Prainha artificial). Esta lagoa localiza-se na margem direita do rio Paraná (final do alto e início do médio rio Paraná) na porção sul do estado de Mato Grosso do Sul, próximo ao município de Mundo Novo/MS. As coletas foram realizadas durante o período de seca (julho e agosto) e cheia (outubro e março), utilizando-se de um peneirão com 1,0 m2 de área e malhagem de 0,5 mm. As amostras foram colocadas em sacos plásticos, identificadas e fixada com formol 10%. Em seguida as amostras foram triadas, anotados os dados biométricos de rotina de cada exemplar coletado e posteriormente efetuou-se a retirada dos estômagos, os quais foram fixados em solução neutralizada de formol a 4%. No laboratório, os conteúdos estomacais foram examinados sob microscópio estereoscópico e óptico sendo os itens identificados até o menor nível taxonômico possível. O volume dos itens foi obtido pela compressão do material, por meio de uma lâmina de vidro, sobre placa milimetrada até uma altura de 1 mm, sendo o resultado convertido em mililitros (1mm³=0,001ml). Os dados foram expressos de acordo com os Métodos de Freqüência de Ocorrência e Volumétrico e sobre estes, aplicados o Índice Alimentar (IAi). Para a análise da dinâmica alimentar foram utilizados a freqüência do grau de repleção estomacal e o índice de repleção.
RESULTADOS:

Durante o período de estudo foram capturados 323 exemplares de A. anisitsi. Analisando a dinâmica alimentar por períodos amostrados verificou-se que esta espécie alimentou-se mais intensamente durante o período de seca. Este fato é constatado pelos valores elevados do índice de repleção e da freqüência de estômagos com alimento (GR 02 e 03) registrados neste período.

Para a caracterização qualitativa e quantitativa da dieta de A. anisitsi foram utilizados 30 exemplares. Os itens encontrados foram agrupados 06  em categorias taxonômicas amplas, tais como: algas (Chlorophyta e Euglenophyta), insetos aquáticos (larvas de Diptera, Ephemeroptera, Megaloptera, Collembola, larvas de Odonata), insetos terrestres (Isoptera, Hemiptera, Lepidoptera e Hymenoptera), microcrustáceos (Cladocera e Copepoda), vegetal superior (raízes)  e outros invertebrados aquáticos (Hidracarina, Aranae, Nematoda e Mollusca). Uma análise geral da dieta de A. anisitsi realizada para a lagoa, verificou-se que o item insetos aquáticos (principalmente dípteros) apresentou os maiores valores do índice alimentar, seguido pelo item microcrustáceos (cladóceros). Em relação à variação sazonal, o item insetos aquáticos (IAi=72,19%) foi o  mais abundante na dieta durante o período de seca, seguido pelos microcrustáceos (IAi=6,43). Por outro lado, durante o período de cheia os itens microcrustáceos (IAi=49,83) e insetos aquáticos (IAi = 46,24) apresentaram valores próximos do índice alimentar.

CONCLUSÕES:

Aphyocharax anisitsi é uma espécie importante que compõem a cadeia alimentar, servindo de alimento para as outras espécies de peixes, de aves e de outros carnívoros que vivem na planície de inundação. A dinâmica alimentar de peixes baseada na análise das freqüências de estômagos vazios e com alimento, embora não possa ser considerada como método de avaliação da dieta, revela muitas vezes, aspectos interessantes do comportamento alimentar das espécies. Neste estudo, foi possível classificar A. anisitsi como espécie insetívora, pois durante o período de estudo, este foi o item que mais contribuiu na dieta desta espécie. Apesar de não se conhecer a disponibilidade deste item no ambiente estudado, sugere que os peixes são, de modo geral, bons amostradores, e seus conteúdos estomacais refletem em grande parte a disponibilidade de alimento no ambiente, seja ele de origem autóctone ou alóctone.

Instituição de fomento: Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – Unidade Universitária de Mundo Novo
 
Palavras-chave: Aphyocharax anisitsi ; Rio Paraná; Alimentação.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006