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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 9. Educação Permanente

UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO CONTINUADA: ESTUDO DA TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA DE OFICINAS PEDAGÓGICAS PARA SALA DE AULA

Suzana Maria Coelho  1
António Dias Nunes  1
Lílian Nalepinski Wiehe  2
Anderson Jackle Ferreira  3
(1. Faculdade de Física / PUCRS; 2. Colégio Estadual Júlio de Castilhos / CEJC; 3. Instituto de Geriatria e Gerontologia / PUCRS)
INTRODUÇÃO:

Este trabalho apresenta resultados de uma experiência de formação continuada de professores do ensino fundamental e médio, tendo a pesquisa como princípio norteador. Professores de ciências revelam a falta de incentivo das escolas para os mesmos desenvolverem a experimentação com seus alunos. A falta de apoio material e pedagógico, aliada a uma estrutura muitas vezes insuficiente, favorece abordagens puramente demonstrativas e não investigativas. Há carência de materiais instrucionais para aulas experimentais e de habilidades por parte dos professores para manuseio do equipamento, bem como dificuldades para criação de novas abordagens na exploração didática dos recursos disponíveis. Entretanto, o papel motivador da experimentação e sua importância na aprendizagem dos alunos são considerados relevantes para a mudança dessa realidade. A formação permanente proposta privilegia uma reflexão do professor sobre suas próprias ações pedagógicas em relação ao ensino experimental e ao papel da experimentação no ensino de ciências físicas. São investigados como ocorre a aprendizagem dos professores, a forma como realizam a transposição didática de conteúdos, atitudes e métodos e o papel que eles conferem à experimentação.

METODOLOGIA:

Foram ministradas 52 horas de oficinas para treze professores, durante as quais foram construídos, testados e analisados vários dispositivos experimentais, como eletroscópios, eletróforo de Volta, máquinas eletrostáticas, garrafa de Leyden e balança analítica, doados aos mesmos para utilização nas escolas. Dois docentes orientaram os professores, em equipes de três a cinco componentes, com livre interação entre os grupos. Optou-se por uma abordagem construtivista, uma formação pela pesquisa, tomando-se a atividade científica como prática social de referência e considerando-se a importância do aprender sobre a natureza das ciências. A metodologia adotada possibilitou, além de confecção e teste de material didático de baixo custo, uma série de outras atividades como leitura de artigos e textos, discussões, questionamentos, emissão de hipóteses e pesquisa, estudo de textos históricos e filosóficos, discussão de temas abordados em vídeo e participação em palestras sobre resultados de pesquisas recentes com enfoque no ensino experimental. Respostas a questões escritas sobre os fenômenos a serem observados ou observados nos experimentos, planejamento de atividades didáticas para o ensino com base no conhecimento adquirido nas oficinas, relatos orais transcritos e relatórios escritos dos professores sobre suas atividades em sala de aula, auto-avaliações, assim como relatórios escritos de atividades dos alunos formaram o corpus dessa pesquisa.

RESULTADOS:

Em relação ao conhecimento prévio, denota-se uma falta de conexão entre o saber teórico e o experimental, o desconhecimento de alguns fenômenos e algumas confusões conceituais. Assim, por exemplo, a diferença entre isolantes e condutores não é levada em consideração no ato de eletrizar corpos por contato; há desconhecimento do fenômeno da blindagem e crença na possibilidade da gaiola Faraday ser de material isolante e de uma blindagem externa sem aterramento. O fenômeno das descargas elétricas e a construção e funcionamento de pára-raios são desconhecidos da grande maioria. Uma confusão semântica em relação aos termos raios, relâmpagos e trovões reflete uma confusão conceitual em relação a esses fenômenos. Entre os mecanismos e formas de aprendizagem, salienta-se a aprendizagem pela ação, ou seja, ações mal sucedidas dos professores durante a confecção e teste dos dispositivos experimentais favorecem uma conscientização e reflexão da falha por não considerarem corretamente, na situação, alguns conceitos físicos e uma aprendizagem do que é preciso saber para sua ação dar certo. A própria ação é, então, fonte de conhecimento. Alguns professores manifestam poucas habilidades psicomotoras e, quando ocorre divisão de tarefas nos grupos, estas dificuldades não são superadas. A transposição para sala de aula, independente do papel que o professor confere ao experimento, suscita atitudes que expressam entusiasmo, motivação, curiosidade e muitos questionamentos por parte dos alunos.

CONCLUSÕES:

Competências para fabricar e ampliar, de forma autônoma e criativa, material instrucional de baixo custo para ensinar física pela experimentação e uma formação pela pesquisa fornece ao professor a oportunidade para desenvolver métodos, instrumentos de análise, reflexão e tomada de consciência sobre o que está acontecendo em sala de aula para desenvolver formas, mecanismos e processos de ensino-aprendizagem que favorecem a compreensão dos fenômenos físicos.

 

Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul / FAPERGS
 
Palavras-chave: formação continuada; experimentação; transposição didática.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006