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G. Ciências Humanas - 1. Antropologia - 2. Antropologia da Saúde
A VISÃO DOS FUTUROS TERAPEUTAS SOBRE A HOMOSSEXUALIDADE EM ATENDIMENTO
Fábio Leandro Stern 1
Luana Maribele Wedekin 2
(1. Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL); 2. Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) - orientadora)
INTRODUÇÃO:
Embora as profissões da área da saúde baseiem-se na linguagem científica e destarte devem evitar que preconceitos interfiram nas relações com seus interagentes, pesquisas estrangeiras mostraram que uma parcela dos terapeutas apresenta uma postura discriminatória ao atenderem pacientes homossexuais, prejudicando a eficácia do processo de cura e ferindo seu código de ética profissional. Sendo o preconceito um paradigma criado sem uma base teórico-científica que o sustente, a Academia jamais deveria perpetuá-lo. Sendo assim, o objetivo da pesquisa foi identificar traços de preconceito ainda no ambiente universitário, fazendo-se do universo de pesquisa os acadêmicos da área da saúde da UNISUL, campus Pedra Branca, do segundo semestre de 2005; que pudessem interferir na relação com seus futuros interagentes homossexuais.
METODOLOGIA:
A amostra foi não-probabilística e por quotas. Passou-se de sala em sala pedindo que 20% dos alunos de cada turma de todos os cursos da área da saúde respondessem voluntariamente ao questionário. Para saber o número de alunos de cada turma, foi solicitado ao professor em sala que verificasse o número de matriculados na lista de presença. Após os alunos disponibilizarem-se a participar da pesquisa, os mesmos foram levados a um local reservado para que respondessem aos questionários com toda a privacidade que a pesquisa exigia. Nesta sala havia carteiras distribuídas longe o suficiente umas das outras para que não fosse possível um aluno espiar as respostas dos outros e com as instruções e os questionários já sobre elas. A urna ficou lacrada até que a coleta de dados tivesse sido feita com todos os cursos. Desta forma não foi possível identificar o autor de cada questionário. A diferenciação de cursos nos questionários foi subliminar. Ela estava exposta como um código de 9 dígitos em vermelho para evitar fraudes através de fotocópias. Todo questionário que não apresentasse todas as respostas preenchidas foi anulado, assim como questionários que contivessem alternativas com duas respostas ou os questionários nos quais os alunos assinaram ou escreveram algo que os pudesse identificar.
RESULTADOS:
Obteve-se 242 questionários de todos os cursos da área da saúde da UNISUL, unidade Pedra Branca do segundo semestre de 2005. Dos 242 questionários, somente 6 foram anulados. Até a presente fase da pesquisa, analisou-se que dos questionários válidos, 16,8% foram da Enfermagem; 12,1% da Fisioterapia; 50,0% da Naturologia; 10,3% da Nutrição; e 10,8% da Psicologia. Dos homens, 8,1% são homossexuais. Das mulheres, 3% são homossexuais ou bissexuais. 83,3% dos homossexuais consideraram que a homossexualidade não é uma escolha. A partir da orientação sexual dos acadêmicos, analisamos quais haviam lido material científico sobre a homossexualidade: 83,3% dos homossexuais responderam que sim contra 38,3% dos heterossexuais. Ao perguntar se a homossexualidade é doença, dos que nunca leram trabalhos científicos, 5,6% responderam que sim e 11,2% não tinham certeza. Ao analisar o grupo dos que leram, 3,2% disseram sim e 3,2% ficaram em dúvida. 13% de todos os questionários da Nutrição consideraram doença, contra 7,7% de todos os questionários da Enfermagem, 7,1% dos da Fisioterapia e 2,7% da Naturologia. Nenhum aluno da Psicologia considerou a homossexualidade patológica. 39,3% dos alunos da Fisioterapia consideraram que homossexuais têm maiores chances de contrair aids; 26,1% da Nutrição; 23,5% da Enfermagem; 22,9% da Psicologia; e 19,8% da Naturologia. Somente alunos heterossexuais disseram se sentir desconfortáveis em lidar com interagentes portadores de HIV caso eles sejam homossexuais.
CONCLUSÕES:
Com base nos atuais dados da pesquisa, foi identificado que há desconhecimento científico acerca da homossexualidade nos alunos da área da saúde, em especial nos cursos de Nutrição, Enfermagem e Fisioterapia. Acreditamos que os números foram menores nos cursos de Naturologia e Psicologia por suas disciplinas tratarem mais os aspectos humanitários e não se focar tanto num modelo de cura essencialmente fisiológico como as outras três áreas. Constatou-se que o número de homossexuais no ensino acadêmico é maior que o indicado oficialmente pelo governo federal brasileiro. Comprovou-se que o número de alunos considerando que a homossexualidade é patológica ou em dúvida sobre o assunto é menor naqueles que leram publicações científicas. Indicamos um projeto de capacitação voluntário aos professores e alunos dos cursos envolvidos.
Instituição de fomento: Universidade do Sul de Santa Catarina (Programa UNISUL de Iniciação Científica)
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: homossexualidade; preconceito; saúde.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006