IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 3. Filosofia - 2. Filosofia
PLATÃO E LACAN: AMOR E FALTA
Luciano Chaves Sampaio 1
Maria Afonsina Ferreira Mattos 1
(1. UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA/DQE)
INTRODUÇÃO:
Platão defende que a capacidade de amar não pode ser rival da razão, porque não há busca da verdade sem Amor. Isso se vê, N“O Banquete”, onde Eros (amor) e logos (razão) estão juntos, conduzindo à virtude – só alcançada através do conhecimento e domínio racional do desejo. Este estudo, desejando contribuir para a reflexão sobre o assunto, apresenta, inicialmente, uma síntese dos discursos proferidos pelos oradores do Banquete de Platão, com enfoque central no discurso de Sócrates/Diotima. Em seguida, faz uma discussão sobre o amor, colocando em diálogo o pensamento de Platão e de Lacan no livro O Seminário oito que trata do mesmo tema. O discurso de Sócrates/Diotima explica as qualidades do Amor pela sua origem: é um seguidor da Beleza e amante do belo,  por ter sido gerado na festa de nascimento da deusa Afrodite. É carência, fraco e pobre, característica herdada da sua mãe, Penia. É um grande herói, inteligente, belo e virtuoso que são as características herdadas do pai; passa a vida inteira a filosofar, um feiticeiro, um gênio. O psicanalista Lacan, recorrendo a esse mesmo diálogo, comenta o mito do nascimento do Eros, e destacando dois pontos importantes com relação ao amor: a falta e a ignorância. É sobre essas idéias que este estudo faz uma reflexão.
METODOLOGIA:
A partir da análise comparativa entre as idéias de Platão e Lacan sobre o amor, faz-se reflexão sobre o amor, enquanto falta. O “Corpus” de análise se constitui pelo discurso de Sócrates, no Banquete de Platão – donde se destacam suas considerações sobre o mito de “Eros” -; e pelas análises lacanianas sobre esse mito. A técnica empregada para análise do “Copus” é o confronto de idéias através da qual são feitas as observações a propósito da filiação e emancipação lacaniana em relação às idéias platônica sobre o amor. Dessa análise comparativa, são elaboradas as considerações deste estudo.
RESULTADOS:
Do confronto entre as idéias de Platão e Lacan sobre o amor verificou-se que tanto a tese filosófica como a psicanalítica concebem o amor como falta. A diferença entre os dois está no fato de que Platão coloca o amor, enquanto falta, é um desejo e inspiração para a completude, no sentido de alcançar um Bem, enquanto, para Lacan, o amor é uma falta constante que busca a completude de um amor perdido, desejando sempre reencontrá-lo. Mas, este permanece enquanto falta.
CONCLUSÕES:

Observamos que o psicanalista Lacan, analisando o Banquete de Platão apresenta duas categorias importantes para uma leitura sobre o amor: a falta e a ignorância. No complexo de Édipo, Édipo também não sabia que tinha matado o seu pai e casado com sua própria mãe. Assim, decorre que, na psicanálise, o neurótico é aquele que ignora o seu desejo e, partindo de uma falta estruturante, ama aquele que supõe responder ao que ele não conhece.  Assim sendo, pode-se dizer que, segundo Lacan, o analisando espera encontrar o amor, para amar o que pensa se esconder como saber no Outro. Por isso, o que o analisando ama é o saber sobre o seu desejo que é o que ele não conhece. A transferência é o que vai dar um sentido a análise, e o amor transferencial é amar no Outro o saber, a busca de conhecimento. O amor é um desejo de ser integral. É justamente por haver uma falta naquele que ama, que ele vai ao encontro do Outro o que ele acrdita estar oculto, para responder ao seu desejo de ser integral. Essa estrutura coloca em movimento de transferência. Mas o essencial continua o mesmo: a Verdade, o Bem e a Beleza não  são senão manifestação do Mesma e única Realidade suprema, o próprio Deus. Neste sentido, o Amor é, sobretudo o intermediário entre o sensível e o inteligível, entre o humano e o divino.

 
Palavras-chave: Amor; Falta; Transferência.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006