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G. Ciências Humanas - 2. Arqueologia - 2. Arqueologia Pré-Histórica

Levantamento dos recursos vegetais do entorno de sítios arqueológicos: suporte para estudos sobre a ocupação pré-histórica das áreas de encosta da Mata Atlântica

Gina Faraco Bianchini 1
Vivian Loch 1
(1. Grupo de Pesquisa/ GRUPEP, Universidade do Sul de Santa Catarina/UNISUL)
INTRODUÇÃO:
A região de encosta de Santa Catarina, tem sido objeto de estudos arqueológicos recentes.  Está inserida no Domínio da Mata Atlântica, possuindo amplo potencial de subsistência para os grupos pré-históricos. A diversidade de espécies bem como, de formações vegetais encontradas neste bioma, seria essencial à permanência destes grupos, que teriam à disposição recursos vegetais para os mais variados fins. O estudo da vegetação contemporânea no contexto dos sítios arqueológicos, enfocando as espécies com potencial de uso, pode fornecer informações tanto para a reconstrução paleoambiental, como também fomentar discussões a respeito dos padrões de assentamento dos grupos. Para a reconstrução da paleovegetação é necessário o suporte da arqueobotânica, que estuda os restos vegetais resgatados do contexto dos sítios. Porém de acordo com Blanquet (1979), para considerar o significado ecológico da vegetação fóssil identificada, geralmente se parte do princípio, que as plantas identificadas coincidam morfológica e anatomicamente com as atuais. Que as representem da mesma forma, ecológica e fisiologicamente, para tal, a comunidade atual deve ser minuciosamente estudada, em seus aspectos florísticos, ecológicos, fitogeográficos. Assim, foram realizados levantamentos florísticos nas áreas de remanescentes florestais adjacentes aos sítios mapeados na região da Amurel (Associação dos Municípios da Região de Tubarão), com o objetivo de fornecer informações que subsidiem estudos arqueológicos.
METODOLOGIA:
Com auxílio de GPS Garmin Etrex, foram percorridas as áreas de remanescentes florestais no entorno dos sítios arqueológicos da região da Amurel (SC-TB-01, SC-TB-02, SC-TB-03, SC-Gravatal-São Miguel-01, SC-Pedras Grandes- 01, SC-Pedras Grandes-02, SC-São Martinho-01) mapeados por Farias (2005). O levantamento da vegetação se deu através da amostragem expedita das espécies, onde foram coletados indivíduos preferencialmente em estádio vegetativo, quando isso não foi possível, procedeu-se a coleta de material vegetativo.  O material levado para o laboratório de Paleoetnobotânica do GRUPEP/UNISUL (Grupo de Pesquisa em Educação Patrimonial e Arqueologia), onde foi herborizado, seco em estufa e identificado. A identificação se deu com auxílio de estereomicroscópio 40X, chaves analíticas e consulta em bibliografia específica. Seguidamente foi elaborada uma tabela onde os espécimes foram agrupados, seguindo a ordem alfabética por famílias botânicas e contendo também informações sobre ecologia, local de coleta, fenologia e potencial de utilização pelos grupos (alimento, artefato, medicinal, atrativa da fauna).
RESULTADOS:
Foram identificadas diversas espécies com potencial de utilização pelos grupos pré-históricos. Muitas das quais fornecem alimentos saborosos e ricos em vitaminas através de: frutos (Inga sessilis-ingá, Eugenia uniflora-pitanga, Calyptranthes grandifolia-guamirim, Campomanesia guazumifolia-guabiroba,  Psidium guajava-goiaba), tubérculos e folhas (Dioscorea dodecaneura-inhame), palmito (Bactris lindimaniana-tucum, Euterpe edulis-juçara) entre outros. Outras apresentam potencial para confecção de artefatos (Chusquea sp, Phillodendron selloum), propriedades medicinais (Aspidosperma australe-peroba, Schizolobium parahyba-garapuvu, Sorocea bonplandii-falsa espinheira santa), condimentares e tintoriais (Piper sp-pimenta, Cabralea canjerana-canjarana). A família Myrtaceae (guamirins, pitangas) foi a que obteve maior representatividade em número de espécies identificadas, ocorrendo em praticamente todos os sítios estudados. Várias espécies desta família fornecem frutos comestíveis, consumidos principalmente por populações tradicionais ainda nos tempos atuais.  Devido às variações fenológicas específicas, a oferta de alimentos vegetais poderia ser mantida sazonalmente ao longo do ano, sendo a diversificação maior durante os meses mais quentes. Esse fato, juntamente com outras evidências de ocupação poderia sugerir maior estabilidade nos padrões de assentamento dos grupos pré-históricos que habitaram a região. 
CONCLUSÕES:
Com o levantamento dos recursos vegetais nos remanescentes florestais de entorno dos sítios arqueológicos da região, foram levantadas diversas espécies com potencial de utilização pelos grupos pré-históricos. A presença destas espécies em tempos pretéritos é fato (Behling, 1998, 2001), o que deve ser considerado mesmo sabendo-se que a dinâmica vegetacional apresentava-se de maneira amplamente distinta. Este estudo somado à futuras análises arqueobotânicas poderá servir para aprofundar discussões sobre a oferta alimentar nos sítios, bem como as espécies preferencialmente utilizadas. Agregando com isso, informações que poderão auxiliar não somente na descrição do paleoambiente, da paleovegetação, mas também associado a análises dos aspectos tecnológicos (artefatos líticos, cerâmica) questionar os modelos sócio-culturais dos grupos pré-históricos. 
Instituição de fomento: Fundação de Apoio a Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de Santa Catarina
 
Palavras-chave: Arqueologia; Mata Atlântica; Recursos Vegetais.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006