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D. Ciências da Saúde - 3. Saúde Coletiva - 1. Epidemiologia

ANÁLISE DA PREVALÊNCIA DE ENTEROPARASITOSES EM CRIANÇAS QUILOMBOLAS DE PRAIA GRANDE, BAHIA - BRASIL

Edisandra Marilúsia Silva 1
Lílian Marina Mota dos Santos  1
Catiane Lopes da Silva Santana 1
Michelle Rodrigues Lima 1
Priscila Costa Pimentel 1
Climene Laura de Camargo 1
(1. PROGRAMA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL, ESCOLA DE ENFERMAGEM, UFBA)
INTRODUÇÃO:

As parasitoses intestinais, apesar de serem um problema de saúde há muito tempo estudado e combatido, continua sendo um agravo de saúde pública na atualidade. A carência de saneamento básico, as condições educacionais, econômicas e sociais, a destinação inadequada do lixo, as condições de uso e contaminação do solo, da água e dos alimentos, além do índice de aglomeração populacional, situações causadas principalmente pelo descaso dos governantes, continuam sendo uma tônica das populações de baixa renda. As comunidades quilombolas, grupos populacionais remanescentes dos antigos quilombos, são exemplos típicos destas populações, onde as parasitoses intestinais são agravos freqüentes encontrados, mas pouco estudados e não combatidos com eficácia; seja pelas autoridades sanitárias ou pela sociedade. Esta situação se agrava no contexto dos afrodescedentes, pois as políticas públicas e os serviços de saúde para esta população são poucos e não se concretizam no cotidiano. Isso se reflete devido ao Brasil apresentar um dos mais elevados graus de desigualdade do mundo, além de apresentar alto índice de pobreza em comparação com outros países com renda per capita similar. Este estudo faz parte de um projeto de extensão, que tem como um de seus objetivos promover a Educação em Saúde para a população quilombola de Praia Grande, uma das comunidades de Ilha de Maré. O objetivo deste estudo consistiu em analisar a prevalência de enteroparasitoses em crianças quilombolas de Praia Grande.

METODOLOGIA:

Trata-se de um estudo quantitativo epidemiológico do tipo transversal, no qual exposição e efeito são avaliados simultaneamente, numa única ocasião. Este estudo é, desta forma, um instantâneo da situação de saúde, interrompendo o percurso longitudinal da doença, mostrando características da mesma naquele dado momento. A população do estudo foi constituída por crianças residentes em Praia Grande e a amostra por 61 crianças com idade entre 04 meses a 12 anos, escolhidas aleatoriamente. Esta escolha se deu através da distribuição de coletores no dia anterior a uma feira de saúde realizada nesta comunidade. Escolheu-se esta faixa etária para estudo devido a maior susceptibilidade destes em adquirir verminoses. Além disso, as complicações da verminose são mais relevantes em crianças, pois podem comprometer o crescimento e desenvolvimento destas e conseqüentemente, da comunidade. Em 13 de Março de 2005, dia da feira, foi realizada a coleta do material para o exame coproparasitológico, que foi analisado bioquimicamente através método direto. As variáveis do estudo correspondem à espécie parasitária, sexo e idade. A análise destas variáveis foi feita através de uma abordagem exploratória descritiva, por meio do cálculo da medida de prevalência.

RESULTADOS:

Através da análise dos 61 exames, obtiveram-se os seguintes resultados: 36 amostras foram de crianças do sexo feminino, o que corresponde a 59% do total de exames e 25 do sexo masculino, representando 41%. Foram encontradas 73,8% amostras positivas e 26,2% negativas. A prevalência de verminoses em meninas foi de 45,9% e de 27,9% em meninos. Verificou-se que os exames negativos distribuíram-se eqüitativamente entre os sexos. Em relação à quantidade de parasitos, encontraram-se as prevalências de 41% de monoparasitismo, 18% de biparasitismo e de 14,8% de poliparasitismo. Observou-se que a presença de poliparasitismo foi mais freqüente em meninos do que em meninas, 20% e 11,1% respectivamente. As espécies de parasitos encontradas no estudo foram Ascaris lumbricoides, Giardia lamblia, Endolimax nana, Entamoeba coli, Strongyloides stercoralis e Trichuris trichiura. Além destes, encontraram-se parasitos dos gêneros Ancylostoma e Necator. O parasito mais freqüente no estudo foi o Ascaris lumbricoides, correspondendo a 50,8%, sendo também o mais prevalente em ambos os sexos. Para uma melhor análise da variável idade, dividiu-se a amostra em seis grupos etários com intervalo de dois anos. No grupo etário de 6 a 8 anos, 18% da amostra, 100% encontravam-se infectadas, apresentando também a maior prevalência de poliparasitismo (45,4%). 

CONCLUSÕES:

A análise dos dados evidencia que as enteroparasitoses são de elevada prevalência nas crianças de Praia Grande. É escassa a produção de estudos acerca deste tema em populações quilombolas, porém pode-se fazer uma comparação dos dados encontrados com os de estudos em índios e populações carentes. Esta comparação justifica-se pela discriminação e descaso da sociedade para com esses grupos, pois a pobreza no Brasil é caracterizada pela raça, cor e/ou etnia. O elevado índice de prevalência de parasitismo encontrado é justificado por fatores ambientais, educacionais e governamentais existentes na comunidade. A ausência de saneamento básico que culmina no despejo do esgoto no mar, a defecação dentro do domicílio, nas suas proximidades e no mar, as más condições de higiene dos alimentos, a ausência do uso de calçados pela maioria das crianças, o hábito de tomar banho e catar mariscos na água do mar contaminada, além do clima úmido que propicia o desenvolvimento e manutenção de estágios infectantes dos parasitos perpetuam o alto índice de enteroparasitoses. O controle eficaz das parasitoses intestinais será mais bem realizado através da realização periódica de exames coproparasitológicos nas crianças, o que também servirá para avaliar as estratégias e planejar medidas de combate ao parasitismo, como a implementação de medidas de saneamento básico, educação sanitária da população e a implantação de políticas públicas de saúde na comunidade.

 
Palavras-chave: Enteroparasitoses; Crianças; Quilombo.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006