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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 8. Psicologia do Trabalho e Organizacional

“A VIDA NO LIXO E O LIXO NA VIDA”: OS FATORES DE RISCOS EXISTENTES NO TRABALHO DOS CATADORES PRECOCE DE LIXO NA CIDADE DE CAMPINA GRANDE-PB.

 

Natércia Janine Dantas Da Silveira 1
Edil Ferreira da Silva 1
Keila Kaionara Medeiros de Oliveira 1
Kalyana Cristina Fernandes de Queiroz 1
(1. Departamento de Psicologia da Universidade Estadual da Paraíba-UEPB )
INTRODUÇÃO:

As implicações que envolvem o trabalho precoce são de extrema complexidade e magnitude no Brasil. Apesar dos esforços que foram realizados nos últimos 15 anos, ainda existem no país, cinco milhões de crianças e adolescentes trabalhando em atividades proibidas pela legislação vigente. Um dos efeitos perversos, deste panorama, refere-se às exposições dos trabalhadores precoces a ambientes insalubres e perigosos, que além de prejudicar o desenvolvimento saudável destes jovens, também interfere nos aspectos subjetivos e coletivos de suas socializações. A atividade de catar lixo surge como uma forma de sobrevivência para os grupos familiares mais excluídos sócio-economicamente, os trabalhadores precoces estão cada vez mais inseridos neste processo, que nega os seus direitos fundamentais. O comprometimento de sua saúde física e psíquica é uma realidade. Pode-se continuar compactuando com esta situação? O que se deve fazer? Nessa direção, a sociedade é responsável por toda esta condição. Esta pesquisa à medida que tem como objetivo analisar a atividade dos catadores precoces da cidade de Campina Grande-PB busca compreender as reais condições de trabalho e alertar para a sua precariedade. Os estudos, neste campo, possuem o intuito de subsidiar a sociedade e, principalmente, os poderes públicos para ações comprometidas e compromissadas na solução deste grave problema.

METODOLOGIA:

O estudo em questão trata-se de uma pesquisa do tipo transversal, descritiva e analítica, com o enfoque qualitativo, utilizando métodos da psicologia do trabalho e da etnografia. Nesta perspectiva, prima-se pelo sentido das falas, bem como dos atos dos atores sociais, através, dos quais, os elementos subjetivos são destaques nas análises. Participaram deste estudo, 27 trabalhadores com idades compreendidas entre 4 e 14 anos. Os critérios utilizados para definir a amostra foram: pertencer à faixa etária que determina as fases de crianças e adolescentes, e se encontrar em atividade no lixão, além do interesse em participar da pesquisa. Os dados foram coletados, no local de exercício da atividade, o lixão de Campina Grande-PB, haja vista, compreender que as análises subjetivas são enriquecidas, a partir do momento em que o pesquisador se insere e observa a atividade. Para tanto, utilizou-se de observações globais por possibilitarem maior aproximação dos sujeitos com a situação da pesquisa. Foram realizadas, ainda, entrevistas semi-diretivas, que permitiram a coleta de dados mais detalhada acerca dos aspectos sócio-econômicos dos sujeitos da pesquisa, da atividade de catação de lixo e dos fatores de riscos imbricados no lixão. Os instrumentos utilizados para registro foram: máquina fotográfica digital, lápis, papel, mini-gravador, fita-cassete. A cada levantamento de dados foi construído um diário de campo. Para a análise dos dados foi utilizada a análise de conteúdo.

RESULTADOS:

O lixão, abrange uma área de 3 hectares, está inserido em um terreno bastante irregular, de difícil acesso, recebe o lixo domiciliar de todos os bairros de campina Grande-PB, bem como o lixo hospitalar. Na área física do lixão, foi verificada a existência de um posto fiscal, de uma cooperativa e de comércio. De acordo com as informações da cooperativa e com as observações realizadas, existem em média 150 trabalhadores precoces, destes 83% não freqüentam a escola, 50% recebem a bolsa do PETI. O processo de trabalho se divide em dois momentos: a cavação do lixo e a separação do material recolhido.  A primeira esta se processa concomitantemente a descarga dos coletores, o segundo constitui-se da separação do material (plásticos, latas, borrachas, vidros, dentre outros), geralmente aos sábados.  Foi constatada ainda a incidência de vários fatores de riscos: Físicos, Químicos, Biológicos, Ergonômicos, Sociais e Psicológicos. Para o enfrentamento das situações de trabalho foram detectadas estratégias defensivas elaboradas por crianças e adolescentes, como o brincar (futebol, baleado, faz-de-conta, correr), conversas, pausas de atividade, a negação e a banalização de riscos, a construção de brinquedos por meio de sucatas e o jogo de diferentes papéis. Ademais, verificou-se que o trabalho de catação apesar de repercussões negativas aos trabalhadores precoces possibilita o desenvolvimento, expresso por meio de características como liberdade e autonomia.

CONCLUSÕES:

Fazer a análise da atividade dos catadores precoces é uma tarefa no mínimo complexa. O pesquisador ao adentrar neste mundo, depara-se com inúmeras sensações e sentimentos como: angústia, revolta, inquietação, tristeza, indignação, com a limitação do ser humano, com a desigualdade social. A pesquisa neste campo, além dos objetivos propostos, assume a responsabilidade de denúncia e de compromisso com o social, diante de uma “dita realidade” em que se negam os direitos básicos das crianças (saúde, alimentação, educação, convivência familiar e lazer). Mesmo com os dispositivos legais que proíbem o trabalho precoce e dos programas sociais que emergem como “soluções paliativas” do governo a problemática, existe um abismo a se ultrapassar para garantir as crianças e adolescentes o direito de ser crianças, de se desenvolverem integralmente, de evitar os riscos químicos, físicos, biológicos, ergonômicos, sociais, psicológicos que um ambiente a “céu aberto” oferece. È dever do governo, do município, do estado, da nação, das autoridades, dos cidadãos, dos pesquisadores, agirem diante da exploração do trabalho precoce, de construir ações que promovam uma melhor distribuição de renda, proporcionem a população melhores condições de trabalho, de moradia, de segurança, de saúde, de alimentação, de educação com o mínimo de dignidade. “A vida no lixo e o lixo na vida” não deve ser a única ciosa que as crianças e adolescentes podem ter.

 

 

 

Instituição de fomento: CNPq/UEPB
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Catadores de Lixo; Trabalho Precoce; Fatores de Riscos.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006