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G. Ciências Humanas - 5. História - 8. História Regional do Brasil
MOBILIDADE INTERNA E USO DO ESPAÇO NA RESERVA PORTO LINDO/ JAKAREY- MS.
Carlos Antônio Zanovello Munaro  1
Beatriz dos Santos Landa  1
(1. Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul)
INTRODUÇÃO:
Com uma população em torno de 4000 pessoas, a reserva Porto Lindo/Jakarey está localizada no município de Japorã, no sul do estado de Mato Grosso do Sul, e tem uma área total de 1648 ha. È constituída por índios pertencentes ao sub-grupo Ñandeva -que se auto denominam por Guarani - falantes da língua Guarani. Entre os objetivos de uma pesquisa que está sendo realizada na região sul do estado, está a compreensão mais ampla do uso, construção e delimitação do espaço partilhado por este povo, que no ano de 2003 viveu intensos conflitos pela ampliação da área com os proprietários da região, e que mobilizou indígenas de outras áreas para apoiar as reivindicações do grupo. O desmatamento generalizado que atingiu toda região a partir da década de 50 do século passado para abertura de áreas para a agropecuária, ocasionado pela vinda de colonizadores dos estados do sul, e o avanço sobre as terras indígenas deu origem ao que se denomina de confinamento, caracterizado pelo processo iniciado no início do século XX que aglutinou as famílias extensas ñandeva e kaiowá que possuíam áreas diversas espalhadas pelo Estado a conviverem em um espaço exíguo, desrespeitando a sua organização social anterior. O fenômeno da mobilidade, isto é, o deslocamento de famílias ou grupos para outros locais com motivações variadas foi estudado para os Guarani-Mbyá, enquanto que a mobilidade interna nas áreas, ainda não foi estudada, assim como suas motivações, e estes são os objetivos desta pesquisa.
METODOLOGIA:
Para compreender as motivações e os movimentos de deslocamentos que ocorrem na reserva Porto Lindo/Jakarey , inicialmente identificaram-se algumas famílias extensas no local a partir de estudos feitos anteriormente, onde foi produzido mapa do local indicando a localização de cada família. A seguir, estão sendo contatadas estas famílias ou alguns de seus membros, para verificar se houve alterações na conformação anteriormente identificada no ano de 2004. Através de entrevistas semi-estruturadas, busca-se determinar as principais motivações para o mudança de habitação na área, trocas de famílias inteiras que ocupam outros espaços, e a atual configuração do local a partir desta dinâmica social. Estes dados estão sendo colocados em mapas que apresentam a conformação anterior e a atual demonstrando os movimentos de famílias ou de seus membros em um local que se apresenta inadequado para a vivência do modo-de-ser guarani.
RESULTADOS:
Através do acompanhamento de cinco famílias extensas e das entrevistas realizadas até o momento pode-se apontar que as motivações para deslocamento de um local para outro no âmbito da reserva variam muito. Entre aquelas que podem ser apontadas até o momento estão: a obtenção de empregos ligados a órgãos públicos como a prefeitura municipal e a FUNASA, a melhoraria da vida de algum dos membros, construção de uma nova habitação, troca de residência ou área entre parentes. Também estão sendo elaborados os mapas, em autocad, de cada uma destas famílias extensas com a visualização gráfica de seus deslocamentos internos, e também com a ocupação do espaço no limite da reserva, demonstrando que estes, podem ser ocupados por duas ao mesmo tempo.
CONCLUSÕES:
O confinamento alterou profundamente as relações e a organização social anteriormente vivenciada, que se atualiza em um espaço amplo de mobilidade pela região sul do Mato Grosso do Sul e Paraguai, que permitia o deslocamento por áreas consideradas de usufruto por parte dos membros desta área indígena, para obtenção dos recursos de fauna e flora, tanto em terra quanto na água. A limitação espacial, cujas cercas são barreiras em muitos casos intransponíveis, ampliou os deslocamentos a nível interno na reserva Porto Lindo/Jakarey. Se anteriormente, os conflitos familiares eram resolvidos com o afastamento para outras áreas, o exíguo espaço que pode ser ocupado atualmente, força mudanças dentro da própria área. A diminuição ou ausência de recursos animais e vegetais anteriormente comuns na região obriga os ñandeva a conviverem com programas sociais governamentais, que tem alterado o sistema anterior vivenciado por eles, em períodos anteriores. No entanto, atualizam, sob formas diferenciadas, o sistema de reciprocidade que constitui o modo-de-ser guarani-ñandeva.
Instituição de fomento: PIBIC/CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Ñandeva-Guarani; mobilidade; territorialidade.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006