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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 6. Lingüística
O TRABALHO COM GÊNERO TEXTUAL NA SALA DE AULA: A CARTA COMO MEDIAÇÃO
Rejane Maria Alves de Melo 1
(1. Escola Municipal Adauto Pontes)
INTRODUÇÃO:

As condições sócio-históricas estabelecem relações não como se ver o “mundo” mas como se escolhe “dizê-lo”. Diante disso, emergem os gêneros textuais, como defendem diversos autores, como Jauss (1970), Todorov (1980), Canvat (1996), Bakhtin (2000), dentre outros, que os gêneros textuais são “formas relativamente estáveis tomadas pelos enunciados em situações habituais, entidades culturais intermediárias que permitem estabilizar os elementos formais e rituais das práticas de linguagem” Scheneuwly e Dolz (1999, p.7). Acreditamos que trabalhar com gêneros em sala de aula conduz os alunos a produzirem ou analisarem eventos lingüísticos, orais ou escritos, e identificarem as características de cada um, pois além de instrutivos, permitem ao produtor praticar a produção textual, construir esquemas de interação com outras pessoas através do texto e criar situações sistêmicas de reflexões sobre os aspectos estruturais desses gêneros, como confirmam Scheneuwly e Dolz (1999. p.10): “Toda introdução de um gênero na escola é resultado de uma decisão didática que visa a objetivos precisos de aprendizagem... trata-se de aprender a dominar o gênero, primeiramente, para melhor conhecê-lo, melhor produzi-lo na escola e fora dela e, em segundo lugar, para desenvolver capacidades que ultrapassam o gênero e que são transferíveis para outros gêneros.”

METODOLOGIA:

Objetivando confirmar a funcionalidade e eficácia dos gêneros textuais como instrumento didático de produção textual no cotidiano dos alunos, como sugerem os PCNs que “o trabalho com o texto seja na base dos gêneros textuais”,  realizamos um trabalho com alunos da sétima série da Escola Municipal Sevy Rocha na Cidade do Moreno. O primeiro passo foi trabalhar vários gêneros textuais, como: carta pessoal, diário, bilhete, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio, piada, letra de música, charge, e priorizar um dentre eles. O gênero escolhido pelos alunos foi a carta de solicitação, cuja habilidade comunicativa é de argumentar, pois os mesmos desejavam a ampliação da biblioteca no aspecto físico e do acervo. Procedeu-se da seguinte maneira: elaboração de cartazes cujo tema era “leitura” como forma de sensibilização. Em seguida, um debate sobre o tema e notação de sugestões sobre o que seria necessário ampliar na biblioteca. Após, leitura e assimilação da estrutura e componentes de vários modelos de carta de solicitação. Em duplas, realizaram as produções textuais. Após a leitura de todas as cartas produzidas, selecionaram os pontos primordiais de cada uma delas, procederam com a revisão e produção coletiva da carta de solicitação a ser entregue à direção da escola em nome da turma.

RESULTADOS:

O acesso a um variado leque de gêneros permite ao produtor construir esquemas de interação com outras pessoas através do texto e criar situações sistêmicas de reflexões sobre os aspectos estruturais desses gêneros. É fundamenta reconhecer o valor de tal atividade! Trabalhar com o gênero carta foi tão satisfatório, que os alunos após terem produzido a carta de solicitação e entregue à direção da escola, se sentiram motivados a produzirem espontaneamente outras cartas com o enfoque argumentativo. O fato ocorreu porque a escola estava em período de eleição para diretores e eles decidiram que seria interessante elaborar algumas cartas de reclamação apontando alguns pontos a serem melhorados dento da unidade educacional, acatamos com satisfação a sugestão. O resultado foi ótimo, e vale ressaltar que as cartas produzidas apresentaram elementos estruturais de um texto argumentativo, levando em consideração a estrutura, finalidade, destinatário, estratégia de produção, objetivo, organização dos conteúdos numa seqüência lógica sem desprezar os aspectos discursivos, ortográficos, concordância, etc.

CONCLUSÕES:

Concluímos que a Língua é uma atividade social, histórica e cognitiva, e entendemos que a comunicação verbal se faz através de algum gênero e que é impossível se comunicar verbalmente senão por um texto. Os gêneros textuais têm sua importância, pois amplia, diversifica e enriquece a capacidade dos alunos de produzirem textos orais e escritos, aprimora sua capacidade de recepção, isto é, de leitura, compreensão e interpretação dos textos apontando-lhes formas concretas de participação social como cidadão. Através dos gêneros os aprendizes reconhecem o texto enquanto texto, com funções sociais delimitadas no exterior da escola. Segundo Marcuschi (2002, p. 36), “O trabalho com gêneros será uma forma de dar conta do ensino dentro de um dos vetores da proposta oficial dos Parâmetros Curriculares Nacionais que insistem nesta perspectiva”, o gênero assume, portanto, o papel de objeto de ensino e aprendizagem a fim de melhor instrumentalizar o professor, auxiliando-o no processo de produção de texto. As produções de texto trabalhadas na base dos gêneros textuais passaram a ter sentido concreto e os alunos a se envolverem a ponto de evitarem frases tradicionais, tais como: “não gosto de escrever...”, “não sei produzir texto...”, “não gosto de Português...”.

                                       

Instituição de fomento: Prefeitura da Cidade do Recife
 
Palavras-chave: Gêneros textuais; Texto; Produção de texto.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006