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F. Ciências Sociais Aplicadas - 11. Educação Física e Esportes - 1. Educação Física e Esportes

RELAÇÕES DE GÊNERO E DANÇA NA ESCOLA

Maria do Carmo Saraiva 1
(1. Departamento de Educação Física/Centro de Desportos/UFSC)
INTRODUÇÃO:

 

Pretendendo contribuir para a inclusão da dança para meninos e meninas, particularmente como conteúdo da Educação Física, esta investigação  desenvolveu elementos para redimensionar a dança e as atividades expressivas como vivências co-educativas de gênero e no âmbito da educação estética.

A problemática envolveu a cultura de movimento, as representações sociais sobre o que é o movimento humano na perspectiva do gênero e, também, a dança e a capacidade de expressão vivencial e artística para homens e mulheres. O objeto central de estudo foi a relação de escolares, alunos e alunas com a dança e outras atividades expressivas e a relação entre alunos e alunas nessas vivências, destacando as possibilidades da arte, da dança e das atividades expressivas de desenvolverem potencialidades para a percepção estética e para o uso do movimento expressivo.

Partiu-se da compreensão de que a construção de culturas diferenciadas para meninos e meninas (cf. SARAIVA, 1999) na educação formal favorece uma cultura mais dançante do que a outra e de que a mentalidade que associa a sensibilidade ao feminino favorece a prática da dança para as meninas e mulheres, dificultando o ingresso dos homens nas atividades expressivas; de que a oferta das vivências no contexto escolar é influenciada por representações de gênero e de potencialidades estéticas diferenciadas para meninos e meninas.

O estudo foi fundamentado em três “frentes” de conhecimento:  a educação estética, a dança e as relações de gênero.

METODOLOGIA:

O enfoque fenomenológico desta pesquisa, privilegiou a experiência vivida e encaminhou a interpretação dos dados da realidade. A análise hermenêutica extraiu o sentido das aparências (fenômeno) no processo concomitante de descrever, compreender e interpretar a realidade. Isso implicou, por exemplo, a intuição do significado do encontro menino-menina na dança ou na atividade expressiva, a percepção dessa relação no momento em que acontece, conforme Merleau-Ponty (1999).

A pesquisa empírica realizou-se numa escola privada de Florianópolis, enfocando as  4ªs e 5ªs séries, alguns professores e professoras - privilegiando ministrantes dessas séries -  e também pais e mães dos alunos e alunas dessas turmas.

Durante três meses desenvolveu-se a observação livre sobre as aulas das 4ª e 5ª séries, nas disciplinas que ofereceram a dança e atividades expressivas - Educação Física, nas 4ª séries e Artes Cênicas nas 5ªs séries.  Foram realizadas entrevistas com o total de alunos e alunas estudados e com os professores e as professoras; também questionários foram aplicados em todas as turmas, e aos pais e às mães.

Feita a observação dos momentos significativos, resultou um quadro descritivo, cuja analise apontou os significados aparentes, que geraram as unidades de significado mais relevantes de todas as situações. Para isso, foi fundamental a detecção desses momentos significativos, pois neles está a essência que gera sentidos.

RESULTADOS:

Nos momentos significativos descritos revelaram-se os sentidos dos fenômenos observados, entrelaçados com as possibilidades de percepção estética e de gênero na prática expressiva. Entre esses sentidos se manifestaram: a expressão em construção pelo diálogo; o momento mimético; a subversão da hierarquia de gênero; permeabilidade da fronteira de gênero; a presença do mundo vivido; o gosto pela moda e pela performance; as danças folclóricas como universo de aproximação com a dança; a representação das diferenças na valorização dos movimentos próprios; a desconstrução da imagem feminina da dança. 

Nesses sentidos, meninos e meninas, manifestaram a consciência de que os condicionantes das diferenças são culturais e não naturais.

Os docentes apontaram tanto a necessidade de formação específica dos professores e das professoras para o ensino da dança e de outras atividades expressivas, como a necessidade de conscientização sobre as questões de gênero envolvidas nas artes corporais.

Emergiram dúvidas e incertezas de docentes e responsáveis sobre a importância da dança na educação e no contexto social, e  a constatação da situação paradoxal da dança - pois é valorizada como arte, sensibilidade e expressão e como potencial educativo. Também foi paradoxal a compreensão das questões de gênero, pois se destacou o entendimento de que o esclarecimento sobre o tema é importante, mas que a escola não atende às estratégias necessárias para um trato pedagógico eficiente sobre tais questões.

 

CONCLUSÕES:

Compreendendo revelações do conjunto que forma essa realidade escolar estudada é importante destacar a importância dos projetos pedagógicos voltados para os desafios da diversidade na contemporaneidade e dos projetos multidisciplinares para o ensino da dança.

Todas as questões e a compreensão levantadas no estudo esclarecem que a dança é um objeto cultural indissociado de vários campos do conhecimento e da atuação dos seres humanos, como a arte, a cultura e a educação, e que se constitui em celeiro socializante e instigante das atuações sociais, demonstrando e provendo relações interpessoais que podem contestar e romper moldes culturais, ou “um meio de explorar as condições mutáveis da sexualidade, da identidade e do papel sexual que ocorrem por sobre o curso do ciclo de vida” (Hanna,1999, p.345)

No contexto investigado ficaram evidentes as possibilidades de desconstrução de relações polarizadas de gênero no interior da dança e de outras práticas expressivas, utilizando-se o potencial da educação estética para ampliar capacidades, experiências e conhecimentos em relação à dança e ao gênero, para alunas e alunos. Afirma-se, sobretudo, a relevância de propostas pedagógicas que respeitem a forma de cada pessoa ser e viver no mundo.

 

REFERÊNCIAS

HANNA, J. L. Dança, Sexo e Género. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

SARAIVA, M. C. Co-Educação Física e Esportes: quando a diferença é mito. Ijuí, RS: UNIJUÍ, 1999.

Instituição de fomento: CNPq
 
Palavras-chave: Dança; Gênero; Fenomenologia.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006