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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 7. Psicologia do Ensino e da Aprendizagem

PESQUISA-INTEVENÇÃO NO CONTEXTO DE SALA DE AULA: AS ESTRATÉGIAS DE MEDIAÇÃO NAS ATIVIDADES COMPARTILHADAS ENTRE CRIANÇAS

Veriana de Fátima Rodrigues Colaço 1
Ana Cleide Barros Jucá 3
Francisco Edmar Pereira Neto 2
Paulo André Teixeira 3
Ricardo Rilton Nogueira Alves 3
Ticiana Santiago de Sá 3
(1. Professora do Departamento de Psicologia da UFC; 2. Professor do Curso de Pedagogia da Faculdade Vale do Salgado; 3. Estudante do Curso de Psicologia da UFC)
INTRODUÇÃO:

Este trabalho, vinculado ao Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará através do Programa de Educação Tutorial (PET-Psicologia) e do Núcleo Cearense de Estudos e Pesquisas sobre a Criança (NUCEPEC), objetivou investigar, compreender e potencializar as possíveis estratégias de mediação desenvolvidas entre as crianças em situação de interação no contexto de sala de aula de uma escola filantrópica de Fortaleza. Baseada nos referenciais teórico-metodológicos da teoria Histórico-cultural de Vygotsky e da teoria da linguagem de Bakhtin, a concepção subjacente aos processos investigados pautou-se pela compreensão do desenvolvimento e aprendizagem como mutuamente relacionados e gerados nas e pelas interações sociais. Essas interações assumem papel decisivo e catalizador destes processos, e são concebidas como espaço simbólico gerador de conhecimentos, de apropriação de significados e de construção de subjetividades, por conseguinte, promotoras de aprendizagens que impulsionam o desenvolvimento. Desta forma, compreende-se que examinar os processos interacionais significa buscar entender o fenômeno intersubjetivo, com suas implicações sobre o movimento dialético do desenvolvimento, envolvendo processos interpsicológicos e intrapsicológicos constitutivos do mesmo.

METODOLOGIA:

Constituiu-se uma pesquisa-intervenção, cuja atuação inicial ocorreu junto aos professores e coordenadores da educação infantil e ensino fundamental da mencionada escola.  Realizaram-se oficinas pedagógicas com os docentes, a fim de contextualizar as atividades e referencias teórico-metodológicos da pesquisa, bem como sensibilizá-los para o papel das interações no contexto da aprendizagem escolar. A partir dessas oficinas, três professores se dispuseram a colaborar na pesquisa disponibilizando horários de suas turmas para observações das crianças por ocasião de aulas em que elas realizavam atividades de forma compartilhada. Foram registradas, através de vídeogravações, atividades discursivas de quatro crianças de uma turma de alfabetização, uma dupla de crianças da quarta série e outra de sexta série. O processo de observação e registro aconteceu no decorrer de um mês. As análises das situações de interações entre as crianças das referidas turmas, como desdobramentos das oficinas realizadas com os docentes, seguiram a perspectiva da pesquisa sócio-cultural com enfoque da etnometodologia, associado ao enfoque microgenético dessas atividades discursivas, as quais foram tomadas como unidade de análise do estudo.

RESULTADOS:

Os objetivos das oficinas com os professores chegaram a termo, na medida em que favoreceram a discussão e sensibilização acerca das possibilidades de construção de conhecimento e aprendizagem em situações de interação entre as crianças em sala de aula. A análise microgénetica realizada com as atividades discursivas das crianças indicou uma série de estratégias de mediação simbólica utilizadas por elas. As estratégias identificadas foram classificadas em duas grandes categorias segundo a tarefa em que foram empregadas: estratégias de tarefas de matemática e estratégias de tarefas de linguagem. As estratégias de matemáticas mais comumente encontradas nas duas turmas do ensino fundamental foram: a utilização de recursos como contagem coletiva, utilização de somas parciais com intuito de evidenciar os passos da resolução da tarefa, utilização de subtração como estratégia reversível para situação de demanda de adição, a contagem manual indicando os passos da solução de problemas. Na turma de alfabetização não houve atividades com conteúdo matemático no período das observações. As estratégias de linguagem encontradas foram: leitura complementar, repetição em voz alta de termos, uso de perguntas retóricas, respostas antecipatórias, independentemente das turmas, entretanto, destaca-se que na alfabetização apareceu ainda linguagem egocêntrica e experimentação da sonoridade das palavras.

CONCLUSÕES:

A riqueza percebida nas interações entre as crianças deixa claro a força construtiva dos processos mediacionais e estes circulam a todo momento nas relações sociais estabelecidas no contexto escolar. Os resultados acima mencionados reafirmam a utilização de estratégias no processo de aprendizagem em sala de aula e o papel potencializador das interações que acontecem entre as crianças. Há uma certa homogeneidade entre as turmas no uso dessas estratégias, especialmente, as complementaridades e repetições nas tarefas de linguagem e o uso da contagem manual nas de matemática. Por outro lado, há algumas especificações em relação à turma de alfabetização, considerando que as crianças encontram-se em fase de aquisição da lecto-escrita.  Em conformidade com os autores que referenciaram teoricamente a pesquisa, as observações do cotidiano da sala de aula revelaram o papel da linguagem como organizadora do pensamento, integradora das ações e recurso privilegiado de mediações, que através de redes de significações construídas na intersubjetividade promovem as reconstruções singulares de cada sujeito, tanto no que se refere aos conhecimentos novos daí originados como na produção de suas subjetividades forjadas nessas interações.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Mediação Simbólica; Aprendizagem; Conhecimento compartilhado.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006