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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 4. Ecologia

DIVERSIDADE DA AVIFAUNA EM LAVOURA DE ARROZ IRRIGADO, NO SUL DO ESTADO DE SANTA CATARINA

Matheus de Almeida Beltrame 1
Antonio Augusto Alves Pereira 2
Maurício Eduardo Graipel 3
Paul Richard Monsen Miller 2
(1. Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas, UFSC; 2. Departamento de Engenharia Rural, UFSC; 3. Laboratório de Mamíferos Aquáticos, UFSC)
INTRODUÇÃO:
A atividade agrícola deve ser compatível com a conservação da biodiversidade. Os campos de arroz irrigado, onde as aves constituem parcela significativa da fauna, embora apresentem menor riqueza de espécies quando comparados a ecossistemas naturais, podem servir como referência para o estudo da conservação das aves. O manejo adotado para a produção do arroz, que inclui a formação de espelhos d’água rasos e uniformes durante a maior parte da estação de crescimento, seguida por drenagem na época da colheita e entressafra, faz com que este ambiente apresente condições variáveis para descanso, alimentação e em menor escala, reprodução das espécies. Assim, as lavouras de arroz irrigado cumprem papel importante para a manutenção da diversidade da avifauna, pois ao longo dos estádios de crescimento das plantas e também durante a entressafra, muitas aves utilizam estes campos. O objetivo deste trabalho foi verificar a presença de aves durante os períodos de safra e entressafra da cultura do arroz irrigado, relacionando-a com variações das condições ambientais, decorrentes da atividade agrícola.
METODOLOGIA:
O trabalho de campo foi realizado numa propriedade agrícola familiar, produtora de arroz irrigado, no município de Jacinto Machado, sul do estado de Santa Catarina. Para o registro das aves, adotou-se o procedimento de observação direta com binóculo (16x50), a partir de um ponto fixo, tendo sido observada uma área de 6 hectares. Somente foram considerados registros efetivos, aves pousadas nas lavouras ou nas taipas. Os censos foram realizados durante três dias consecutivos por mês, de outubro de 2004 a setembro de 2005, sempre ao amanhecer, com 50 minutos de observação por dia. Foram 12 meses de coleta de dados, totalizando 30 horas de observação. Para verificar se houve associação entre a flutuação nos registros de espécies de aves e a altura média das plantas de arroz, da lâmina de água e da vegetação espontânea nas taipas, foi utilizado o teste de correlação de Pearson. Todas as análises foram realizadas com o programa computacional Bioestat 3.0.
RESULTADOS:
As aves registradas pertencem a 21 espécies, distribuídas em 9 ordens e 17 famílias. Na fase vegetativa da cultura do arroz, foram registradas 15 espécies, destacando-se as que se alimentam de animais pequenos em águas rasas (girinos) dentro dos quadros. À medida que as plantas foram crescendo, diminuiu o número de espécies de aves dentro dos quadros de arroz, como confirmado através da análise de correlação de Pearson, que mostrou associação negativa significativa entre o número de espécies registradas e a altura média do arroz (n = 12, r = -0,658, p < 0,05). Nas fases reprodutiva e de maturação do arroz, destacaram-se 7 espécies: Casmerodius albus (garça-branca-grande) e Amazonetta brasiliensis (marreca-pé-vermelho), que foram encontradas em áreas de espelho de água onde o arroz não se desenvolveu, inclusive nidificando nas taipas; Jacana jacana (jaçanã), Vanellus chilensis (quero-quero) e os passeriformes Chrysomus ruficapillus (garibaldi), Leistes superficialis (polícia-inglesa) e Sicalis flaveola (canário-da-terra). Na entressafra, verificou-se aumento no número de espécies presentes nos quadros de arroz, principalmente para alimentação. Foram registradas 21 espécies neste período, com predominância de passeriformes nos quadros sem inundação e de garças, marrecas, quero-queros e jaçanãs nos quadros alagados. Não foi verificada associação significativa entre a flutuação nos registros de aves e as variáveis altura da lâmina de água e da vegetação nas taipas.
CONCLUSÕES:
Não foi observada a presença de aves migratórias na área durante a pesquisa. As aves registradas consistem em espécies de hábitos alimentares generalistas, que tinham na lavoura disponibilidade de alimentos como insetos, girinos, rãs, moluscos, lagartos, cobras e outros pequenos animais. No período de entressafra foi observado maior número de espécies do que na safra. Na propriedade onde se desenvolveu esta pesquisa, após a colheita, metade dos quadros de arroz permaneceu inundado e a outra metade permaneceu sem inundação, o que favoreceu o aumento do número de espécies de passeriformes nas áreas secas e dos ciconiformes nas áreas alagadas. À medida que o arroz cresceu, e principalmente na fase de maturação, foram encontradas apenas espécies de aves capazes de caçar as rãs e caramujos que se desenvolvem no arroz mais alto. Na fase de reprodução do arroz irrigado predominou Chrysomus ruficapillus, em grande número dentro do arrozal, o que foi atribuído à presença de insetos; esta espécie foi a mais freqüente e a que apresentou maior abundância relativa ao longo do estudo. O manejo agroecológico da cultura do arroz, por contribuir para a manutenção da diversidade de espécies que podem servir de alimento, é uma alternativa viável para compatibilizar a atividade agrícola com a conservação da avifauna.
 
Palavras-chave: Biodiversidade; Aves; Arroz irrigado.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006