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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem
DEFASAGENS ESCOLARES E DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM: A REALIDADE DO  PRÉ-VESTIBULAR COMUNITÁRIO VILA SÃO LUIZ

 

Marcela Miguel Martins Henrique  1
Maria Luiza de Souza Andrade 2
(1. FEBF/UERJ- Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (aluna de Pedagogia); 2. FEBF/UERJ- Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (orientadora))
INTRODUÇÃO:

O Pré-Vestibular Comunitário Vila São Luiz (PVCVSL) surgiu da mobilização da comunidade do Bairro Vila São Luiz (Município de Duque de Caxias/RJ) na luta pelo acesso à Universidade. A FEBF (Faculdade de Educação da Baixada Fluminense), unidade integrante da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), que desenvolve suas atividades acadêmicas nesse mesmo bairro, acolheu esse Pré Vestibular em suas dependências. Para uma integração mais efetiva a FEBF desenvolve desde 2002 o Projeto de Extensão “A FEBF em diferentes espaços de formação: o Pré Vestibular Comunitário Vila São Luiz” que procura dar suporte pedagógico aos professores voluntários e alunos do Pré-Vestibular e, ao mesmo tempo, promover vivências em espaços educativos aos alunos do Curso de Pedagogia. Os bolsistas do Projeto realizam oficinas pedagógicas, orientações de estudo, dinâmicas de grupo, discussões de temas atuais com os alunos do Pré-Vestibular e procuram facilitar o trabalho dos professores voluntários, com sugestões pedagógicas e preparo de materiais didáticos. Em 2005 foi realizada pesquisa de cunho qualitativo, com objetivo de levantar dificuldades que os professores do PVCVSL percebem em seus alunos e se essas dificuldades são percebidas igualmente, ou não, pelos próprios alunos, além de investigar possíveis causas da evasão discente neste Pré-Vestibular.

 

METODOLOGIA:

Elaboração e aplicação de questionário com perguntas fechadas e abertas aos alunos do PVCVSL, entrevistas com professores-monitores e observações em sala de aula. Os dados coletados foram analisados de forma quantitativa e qualitativa. As respostas aos itens objetivos geraram gráficos e as falas dos professores e alunos foram analisados qualitativamente.

 

RESULTADOS:

Os dados apontam dificuldades surgidas no início do Ensino Fundamental (referentes a leitura, escrita e interpretação de textos, cálculos matemáticos, uso de fórmulas) e que não foram resolvidas no Ensino Médio. Os alunos, egressos de escolas públicas, revelam que não tiveram aulas de uma ou mais disciplinas, que consideram básicas para a sua formação, em pelo menos uma das séries do Ensino Médio. Os professores voluntários apontam defasagens de aprendizagem, mas ressaltam como mais grave os sentimentos de descrença, desânimo e insegurança criados a partir da percepção dos jovens sobre a sua “incapacidade de aprender”, o que os leva a internalizar a crença do “não direito” à Universidade. Atingidos em sua auto-estima, esses jovens precisam de estímulo e acompanhamento pedagógico para conseguirem ultrapassar as barreiras pedagógicas e emocionais que lhes são impostas. Por outro lado, as limitações sociais e financeiras sofridas por a eles e suas famílias levam-nos a desistir do estudo para aceitarem um emprego, muitas vezes, temporário. As mulheres, muitas vezes por imposição do pai, namorado ou marido ou por uma gravidez não planejada são obrigadas a desistir do estudo, convencidas que estão fazendo uma opção “por amor”. Essas são as causas principais do abandono do Pré Vestibular e, quase sempre, do sonho de chegar à Universidade.

CONCLUSÕES:

A pesquisa constatou um perfil escolar marcado por deficiências curriculares e de estímulo, que acentuam o não domínio de um capital lingüístico escolarmente rentável, uma das principais causas da incidência do fracasso escolar entre os alunos pertencentes às classes populares e que espelha o quadro de exclusão social, econômica e educacional­ a que está sujeita a população da Baixada Fluminense. Por outro lado, revelou que os alunos do Pré-Vestibular Comunitário Vila São Luiz, mesmo conscientes de suas dificuldades escolares, acreditam que cursar a Universidade vai lhes permitir “se dar bem na vida”, o que definem como conseguir um bom emprego e dar melhores condições de vida para a família. Essa crença mostra uma visão idealizada da Universidade, porém ...se por um lado, a educação não é a aliança das transformações sociais, de outro, estas não se fazem sem ela.  (Freire: 1995, p.25). O que parece ainda não ter sido compreendido pelos governantes brasileiros, uma vez que as políticas públicas não são elaboradas para suprir efetivamente as necessidades do ensino público. São políticas de governo, muitas implantadas sem continuidade e que não dão resultados objetivos. Neste sentido, os Pré Vestibulares Comunitários em geral, vêm ocupando o espaço que as Políticas Públicas em Educação deixam vago.  

 
Palavras-chave:  Pré Vestibular Comunitário; Universidade; Integração .
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006