IMPRIMIR VOLTAR
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 1. Ecologia Aplicada
UTILIZAÇÃO DE GARRAFAS PLÁSTICAS TIPO PET NA CAPTURA DE ENXAMES DE ABELHAS INDÍGENAS SEM FERRÃO, ESPECIALMENTE Tetragonisca angustula (JATAÍ), PARA A VALORIZAÇÃO DO MANEJO SUSTENTÁVEL DA MELIPONICULTURA
Lidiane Ângela Scariot 1
Milena Cristina Carboni 1
Patricia Elizabeth Husch 2
Mauricio Rigoni 3
(1. Universidade Estadual do Centro-Oeste / UNICENTRO; 2. Universidade Estadual de Ponta Grossa / UEPG; 3. Universidade Federal de Santa Catarina / UFSC)
INTRODUÇÃO:
Abelhas indígenas sem ferrão ou meliponíneos são as principais polinizadoras da flora brasileira, sendo responsáveis, conforme o ecossistema, por 40 a 90% da polinização das árvores nativas. Assim, permitem a produção de frutos e sementes, o equilíbrio do fluxo de energia nas cadeias tróficas e a manutenção da variabilidade genética das populações vegetais. Muitas espécies de meliponíneos estão ameaçadas de extinção em conseqüência das alterações de seus habitats, causadas pelas atividades antrópicas como desmatamentos, queimadas, uso indiscriminado de agrotóxicos, processos de urbanização e ação predatória de meleiros. A criação de abelhas indígenas constitui a meliponicultura. Um dos principais problemas desta atividade é a captura de colônias com o objetivo de estabelecer um meliponário, visto que estas espécies nidificam predominantemente em ocos de árvores. A extração dos ninhos, em sua maioria, é realizada através da derrubada parcial ou total dessas árvores. Neste processo pode ocorrer ainda a destruição da própria colônia. Visando encontrar uma solução para a forma primitiva de extração de enxames da natureza, este estudo apresenta a utilização de garrafas plásticas do tipo pet como um método alternativo para a sua captura, especialmente para a espécie Tetragonisca angustula, a mais utilizada na região de estudo. Busca-se assim, promover a preservação do ecossistema, conciliando a meliponicultura com o uso sustentável do meio ambiente.
METODOLOGIA:
No local da realização dos experimentos, Município de Chopinzinho, Sudoeste do Paraná, a espécie Tetragonisca angustula (popularmente conhecida por jataí) é a mais utilizada para a meliponicultura local entre pequenos agricultores e povos indígenas. O método proposto consiste em quatro etapas: confecção das iscas, distribuição destas em locais apropriados, visitação periódica e observação dos resultados. Para a elaboração das iscas foram utilizados: uma garrafa pet, um pedaço de lona preta suficiente para envolver a garrafa (imitando assim o ambiente escuro das cavidades onde as abelhas nidificam), arame para prender a lona nas extremidades da garrafa, uma faca para fazer um buraco na tampa do descartável, onde se formará a entrada da colônia e, por fim, bolinhas de cera depositadas no interior da garrafa e na abertura da tampa, destinadas à atração da colônia. As iscas foram colocadas presas a troncos de árvores, a uma altura em relação ao solo de aproximadamente 60 a 80 cm, com o a tampa voltada levemente para baixo a fim de evitar a entrada de água da chuva. As iscas foram visitadas, inicialmente, a cada três dias até o registro da primeira ocupação. Posteriormente, estas passaram a ser quinzenais apenas para acompanhar o comportamento e desenvolvimento da colônia. A montagem e exposição das iscas foram realizadas no período de outubro de 2005 a março de 2006. A transferência dos ninhos para caixas racionais foi realizada e acompanhada a sua adaptação.
RESULTADOS:
Na área de estudo, a utilização de garrafas pet como iscas para T. angustula apresentou bons resultados quanto a sua eficiência e praticidade, pois o dispositivo imita bem o habitat natural da espécie, e a transferência da colônia, a qual é realizada através de um corte longitudinal ao longo da garrafa, para a caixa racional, é bastante simples e rápida. O modelo de caixa racional PNN é o mais apropriado para a espécie nesta região. A ocupação e nidificação ocorreram entre o décimo e o sexagésimo dia de exposição das iscas. Do total de dez iscas instaladas, ocorreram 70% de ocupações durante os meses de exposição. É importante citar a ocorrência da ocupação de algumas iscas por outras espécies de meliponíneos. Observou-se a preferência dos enxames pelas iscas instaladas em locais de mata pouco densa, e até mesmo em bosques abertos. As três iscas não ocupadas estavam em locais de mata mais densa, ainda que próximas a floradas. Durante a transferência das colônias para as caixas, a partir do trigésimo dia após a ocupação da isca, observou-se que em algumas delas já ocorria normalmente a produção de mel. Dentre as sete transferências realizadas, apenas uma não foi bem sucedida, devido a um erro de manejo, acarretando seu óbito. Enxames com menos de quatro semanas de ocupação da isca apresentaram dificuldade de adaptação, ou mesmo sobrevivência nas caixas de criação racionais. Para a próxima estação quente as caixas ocupadas estarão aptas para a retirada de mel.
CONCLUSÕES:
O método proposto para a captura de enxames de T. angustula foi testado com sucesso, demonstrando ser bastante eficiente, de simples confecção e manejo e economicamente acessível ao meliponicultor na aquisição de suas colônias, facilitando ainda mais a opção pela meliponicultura como uma excelente alternativa na geração de renda local. A espécie apresentou boa adaptabilidade ao modelo de isca, confirmada na rápida ocupação das iscas, seguida de permanência, produção de mel e estabilidade pós-transferência. A técnica reutiliza um material descartável e dá opções de refúgio às abelhas para nidificarem e aumentarem a sua população, amenizando seu risco de extinção. Ao mesmo tempo, proporciona a perpetuação dos diferentes biomas, o aumento de produção das culturas agrícolas e a manutenção da biodiversidade de flora e fauna associada, através da sua potencial polinização. Desta forma, a solução aqui apresentada para a captura de enxames de jataí demonstrou ser uma estratégia racional para a atuação sustentável da meliponicultura alcançando, conseqüentemente, a conservação tanto das espécies de abelhas sem ferrão quanto dos organismos relacionados.
 
Palavras-chave: meliponicultura; isca de garrafa pet; captura de enxames.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006