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F. Ciências Sociais Aplicadas - 1. Gestão e Administração - 5. Gestão de Pessoas

O PARADOXO DOS GESTORES: O BEM ESTAR QUE NÃO SE REALIZA NA PRÁTICA

Tânia Pereira Christopoulos 1
Selim Rabia 1
(1. Doutorandos da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas)
INTRODUÇÃO:

Nas últimas quatro décadas, a natureza do trabalho alterou-se significativamente. Segundo a OECD (1999) houve um aumento nos contratos de curto prazo, como possível resultado da desregulamentação. Como decorrência, há agora menor número de pessoas trabalhando, com maior carga, sentindo-se menos seguros e com menos controle sobre seu trabalho. Essa pressão afeta o comportamento dos trabalhadores e evidencia o sofrimento no ambiente de trabalho que afeta não somente o indivíduo, mas também a organização.

 

O grau de sofrimento no trabalho e a identificação de suas causas podem ser analisados a partir do uso de fatores que tendem a contribuir para que o indivíduo encontre condições de qualidade de vida no trabalho. Em 1973, Walton propôs os fatores necessários para a QVT (Qualidade de Vida no Trabalho):  a compensação justa e adequada, condições de trabalho, uso e desenvolvimento das capacidades, oportunidade de crescimento e segurança, integração social na organização, constitucionalismo, o trabalho e o espaço total de vida e a relevância social da vida no trabalho.

 

A presente pesquisa tem como objetivo compreender o paradoxo existente na percepção dos gestores quanto ao seu ambiente de trabalho e sua qualidade de vida pessoal e profissional. Para tanto, utilizou como referência fatores da QVT (Qualidade de Vida no Trabalho).

METODOLOGIA:

Para tratar do problema apresentado, foram utilizados o método quantitativo e o survey como estratégia de pesquisa. Optou-se pelo survey porque o mesmo pode prover uma descrição quantitativa sobre opiniões e percepções de uma população, a partir do estudo de uma amostra da mesma (Creswel, 2003). Além disso, foram consideradas as vantagens do survey sobre outros métodos de pesquisa, bem a como a economia de recursos que sua aplicação permite.

Os dados foram coletados no período de 05/09/2005 a 14/10/2005, por meio de questionários enviados por e-mail a gerentes e diretores de empresas. Tendo em vista o baixo número de respostas, novos questionários foram coletados entre os dias 04 e 09/04/2006, somando um total de 30 respondentes. A amostra utilizada foi, portanto, a amostra por conveniência, definida como aquela em que o pesquisador seleciona membros da população mais acessíveis (SCHIFFMAN, L. & KANUK, L.,2000).

O conteúdo dos questionários abrangeu tópicos que pretenderam investigar como os gestores se percebem em relação aos aspectos de satisfação, insegurança, carga de trabalho, relacionamento com seus pares e superiores e subordinados.

No questionário foi apresentada uma escala Likert, de 1 a 5, para que os entrevistados avaliassem as diversas variáveis, sendo que 1 era a menor nota e 5 a maior. A amostra foi composta por 3 diretores do sexo feminino, 12 diretores do sexo masculino, 3 gerentes do sexo feminino e 12 gerentes do sexo masculino, totalizando 30 pessoas.

RESULTADOS:

As questões que apresentaram maior grau de concordância são: 1) Gosto dos meus colegas de trabalho (4,11); 2) Meu local de trabalho é seguro e agradável (4,11); 3) Acredito que esta empresa é ética (4,15); 4) Meu superior nunca me tratou de forma autoritária (4,19) e; 5) Tenho orgulho em trabalhar nessa empresa (4,20)

Essas respostas reforçam os aspectos relativos à Integração Social na Organização (questões 1 e 4) e a Relevância Social do Trabalho na Vida (questões 3 e 5)

 

As perguntas que apresentaram menor grau de concordância são: 6) Meu tempo de trabalho é compatível com o meu trabalho (1,92); 7) Meu trabalho não invade minha vida pessoal (2,07); 8) A empresa cuida da minha carreira (2,26); 9) Nunca trabalho nos finais de semana (2,33) e; 10) Meu trabalho permite que eu dedique um tempo a família (2,46)

 

Percebe-se que boa parte das questões em que há deficiência diz respeito ao espaço da vida pessoal invadido pelo trabalho (questões 06, 07, 09 e 10). Portanto os executivos com cargos gerenciais, ao mesmo tempo em que têm orgulho da empresa e do seu trabalho, abrem mão de suas necessidades pessoais, ligadas à família e ao lazer.

 

Outro aspecto importante diz respeito às diferenças entre homens e mulheres. As mulheres, ressentem-se mais dos aspectos ligados à suas vidas pessoais, familiares, afetivas e lazer e com os aspectos ligados à segurança.

CONCLUSÕES:

No mundo do trabalho, os gestores modernos sofrem e muitas vezes reconhecem o sofrimento no trabalho, mas, muitas vezes não manifestam essa insatisfação, por motivos que incluem desde o receio até a falta de clareza do momento que estão vivendo.

 

A presente pesquisa permitiu captar alguns dos paradoxos na vida das pessoas que, em última instância, são responsáveis por conduzir os destinos das empresas e daqueles que lá trabalham.

 

O excesso de trabalho e a redução do espaço da vida pessoal e lazer é uma realidade que parece ser a tônica do momento atual. Com o desenvolvimento da tecnologia por um lado e a concentração de renda em nível global, é difícil imaginar uma mudança nesse estado de coisas.

 

As mulheres vem ganhando espaço dentro da alta hierarquia das empresas, mas parecem pagar um preço mais alto para manter-se nos cargos. As respostas entre elas e seus pares masculinos demonstram significativas diferenças nos aspectos vida pessoal e segurança.

Instituição de fomento: CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e FGV EAESP – Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas
 
Palavras-chave: Trabalho; Gestores; Qualidade de vida.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006