Dentre os seres que habitam o lixo identificam-se os ratos, baratas, moscas, cães, aves e o homem; catador de lixo (Lima, apud Vendrame, 2005). Esta exposição acaba colocando em risco a saúde dos mesmos já que podem sofrer desde pequenos problemas epidérmicos, até doenças mais graves, com risco de morte.

Assim como a escassez de água potável, o efeito estufa, a geração e o descarte de resíduos sólidos, comumente chamados de “lixo”, tem sido alvo de preocupação ao longo da última década. O lixo é uma questão a ser abordada de forma complexa, pois envolve, além de aspectos econômicos, políticos e ambientais, também aspectos sociais e psicológicos (GONÇALVES, 2001).

Em geral, o lixo é definido como sendo composto por resíduos sólidos descartados pela população. Os profissionais encarregado de sua coleta e do seu destino final são genericamente chamados “catadores de lixo”. A visão social desse grupo de trabalhadores e sua própria auto-imagem é problemática do ponto de vista de nossa sociedade. Há um menosprezo devido a própria ocupação associada a limitações econômicas e condições insalubres de trabalho, que acarretam em desvalorização social.

As pesquisas realizadas até então (PORTO, GONÇALVES & JUNCÁ, 2004 e HESPANHA, 2004) retratam apenas o perfil dos catadores de lixo. Não obstante o interesse dessa pesquisa teve como objetivo enfatizar as representações sociais que os catadores de lixo fazem sobre seu trabalho, destacando a concepção que possuem sobre sua atividade laboral.

O presente estudo foi desenvolvido entre maio e novembro de 2005. Participaram desta pesquisa trinta catadores de lixo, de ambos os sexos, estado civil, tempo de trabalho e escolaridade variados. O critério para estabelecer este conjunto referenciou-se na necessidade do catador de lixo ser filiado a cooperativa, onde foi firmado o termo para o desenvolvimento do projeto.

Os dados foram obtidos nas estações de coleta de lixo da prefeitura da cidade de Cascavel, onde o lixo é recebido por meio dos catadores, das empresas, escolas, postos de entrega e, posteriormente, é separado, processado, triturado e vendido.

Para a realização da pesquisa foram utilizados termos de consentimento livre e esclarecido que foram assinados por todos os participantes e dois questionários individuais. O primeiro apresentou perguntas de evocação livre e o segundo questões dissertativas seguindo a proposta de metodologia qualitativa e quantitativa da teoria das representações sociais. Esses questionários foram elaborados com linguagem simplificada e apresentados oralmente pela pesquisadora.

As respostas obtidas foram ouvidas e anotadas, e, posteriormente as mesmas foram comparadas e distribuídas em categorias, a fim de estabelecer o percentual das palavras associadas à trabalho e das questões dissertativas.

A amostra dos participantes constitui-se predominantemente por mulheres (57%), com elasticidade na idade, dos 36 aos 65 anos; sendo grande parte casada (50%). Com relação à escolaridade, a maioria dos participantes (54%), apresentou-se com o ensino médio incompleto. Quanto ao tempo de trabalho a maioria (36%) apresentou de 1 mês a 1 ano. Somente 17% dos participantes não possuem filhos, sendo que a maioria (43%) possui de um a três filhos.

Com relação à representação social da palavra ‘trabalho’, 31% dos participantes atribui relação de importância e necessidade, 29% qualificaram o trabalho como sendo positivo, 16% negativo, 12% associaram à palavra ‘trabalho’ características relacionadas à atividade (ex: em casa...), 10% relacionaram a palavra ‘trabalho’ como ocupação e apenas 2% relacionam a palavra ‘trabalho’ ao tempo de serviço (“toda vida”).

Quando perguntado aos indivíduos se o trabalho deles teria alguma ligação com a saúde, a grande maioria (68%) respondeu que sim; sendo que apenas 21% consideraram o trabalho como causador de doença e 11% relacionaram o trabalho com a promoção de saúde.

Grande parte (33%) alegou satisfação quando esta coletando e trabalhando nas ruas. Porém, ao responderem como acham que são vistos pela população, a maioria (59%) destacou ‘discriminação’. Sobre a importância que dão ao seu trabalho; 67% alegam o cuidado pelo meio ambiente, 18% relacionam a importância do seu trabalho com o sustento e 12% não dão importância.

De modo geral o presente trabalho constatou que o trabalho tem uma conotação positiva e a tarefa profissional desenvolvida pelos catadores de lixo não é associada à doença. Em contrapartida ao que é pressuposto pelo senso comum, e ressaltado pelas pesquisas que analisam as condições físicas do ambiente laboral na constituição da saúde dos trabalhadores, os participantes parecem conscientes dos cuidados que devem ter para não apresentarem doenças quando associam sua tarefa à algo negativo para a sua saúde.

A guisa de uma conclusão, destaca-se a relevância social da atividade de catar lixo, identificada pelos próprios trabalhadores, o que bem pode influenciar no bem estar dos mesmos.