A atividade pesqueira corresponde ao segmento produtivo com maior expressividade quanto à geração de emprego e renda no litoral paranaense, conforme afirmam os diversos pesquisadores do setor. No entanto, esta atividade é caracterizada por uma série de problemas de gestão quanto ao desenvolvimento sustentável, apresentando graves conflitos entre os setores produtivos e a conservação dos recursos naturais. Este ensaio faz parte de um projeto de iniciação científica que está sendo desenvolvido no município de Guaratuba, Paraná, mais especificamente na comunidade de Caieiras, e possui objetivos gerais mais amplos, principalmente o levantamento do perfil sócio-econômico e cultural dos pescadores locais, bem como o acompanhamento na negociação do pescado e a catalogação das embarcações. No entanto, o presente ensaio objetiva de forma sistemática compreender os anseios, problemas e perspectivas desses pescadores artesanais quanto à continuidade de tal atividade pelas gerações futuras.

A cidade de Guaratuba foi escolhida por tratar-se do maior pólo pesqueiro do Paraná, principalmente quanto ao desembarque, e à atividade pesqueira em Caieiras, e tem por base a pesca ou captura de camarões marinhos de forma artesanal, mediante o emprego de embarcações motorizadas e redes específicas. Quanto ao levantamento dos dados, o instrumento de coleta foi uma entrevista estruturada, em uma amostra de 80 pescadores, estes visitados em seus domicílios e/ou em suas embarcações, perfazendo 95% do total dos atores daquela comunidade. Paralelamente às entrevista, foram acompanhadas as atividades com a realização de seminários e reuniões com a classe pesqueira local, visando a ouvir seus relatos e a utilizar o recurso etnográfico como mais uma opção de coleta de dados, assim validando o método qualitativo na pesquisa.  Na mesma ocasião dos encontros, foram abordados temas específicos, como, por exemplo, legislação pesqueira, gestão da produção, associativismo, nesta mesma fase da investigação, efetivou-se a constante participação em eventos promovidos pela colônia de pescadores locais e órgãos de pesquisa e extensão.

Constatou-se que a maioria dos pescadores entrevistados possuem apenas o primeiro grau incompleto (87,5%), o que implica em enormes dificuldades na gestão de sua produção, visto o ambiente, tanto natural como econômico, tão adversos, revelando, assim, certa ausência de conhecimentos, os quais seriam úteis num diálogo de saberes. Nesse sentido, dentre as deficiências apresentadas, destacamos a diminuição dos estoques naturais quanto ao volume de produção e tamanho do pescado. O pescador possui consciência de que a metodologia empregada para a captura dos pescados contribui de forma direta para a sua escassez, mas que culturalmente essa ainda é a melhor forma de continuarem na atividade. Dentre os entraves, a pressão exercida pelos órgãos ambientais por meio das legislações vigentes geralmente não condizem com o conhecimento empírico desses atores. Quanto à continuidade da atividade “pesca”, os pais não estão estimulando seus filhos a prosseguirem neste segmento, isto é, deixando de repassar o conhecimento da atividade. Não existe expressividade da classe nas decisões inerentes ao desenvolvimento da pesca, principalmente pela falta de organização e articulação política de seus representantes legais. A maior parte da produção, aproximadamente 80%, é comercializada com atravessadores, atividade esta, efetuada pelas mulheres dos pescadores, revelando a importante participação do gênero em processo de negociação. O poder de barganha desses atores na negociação é ainda incipiente em virtude da falta de organização dos mesmos quanto à avaliação dos gastos com insumos e do custo final, para o pescador, do camarão capturado. A Aqüicultura, que se apresenta como uma importante alternativa para a melhoria da renda e qualidade de vida dos pescadores, não possui aceitação expressiva na comunidade pesquisada, evidenciando a necessidade de formação de uma cultura para essa questão.

Torna-se imprescindível o desenvolvimento de projetos ou programas que mobilizem a comunidade na questão “organização e gestão do conhecimento sobre a atividade pesqueira”, pela criação de associações ou cooperativas de pescado, visando ao desenvolvimento sócio-econômico e cultural, baseado no conceito de desenvolvimento sustentável.  A mudança de visão tanto dos órgãos reguladores do setor como da classe envolvida deve ocorrer de forma conciliadora, em que a comunidade esteja diretamente envolvida na concepção, planejamento e execução das políticas públicas destinadas à atividade, valorizando, assim, o conhecimento local. Conclui-se que a pesca no litoral paranaense somente apresentará novas perspectivas quando as políticas públicas estiveram direcionadas à educação de base, incluindo a formação profissional dos filhos de pescadores, objetivando o desenvolvimento e a continuidade desse segmento.