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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial
PROMOÇÃO DE REPERTÓRIO SOCIAL E ACADÊMICO EM ALUNOS COM DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM UTILIZANDO PROFESSORES COMO MEDIADORES DE ENSINO
Renata Cristina Moreno Molina 1
Zilda Aparecida Pereira Del Prette 1
(1. Departamento de Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos /UFSCar)
INTRODUÇÃO:
A escolarização constitui uma fase em que as crianças precisam lidar com duas importantes tarefas: relacionar-se bem com colegas e adultos e apresentar um desempenho acadêmico que atenda as expectativas de seu ambiente. Conforme atesta a literatura, essas duas tarefas são mutuamente interdependentes: as crianças com necessidades educacionais especiais e, particularmente aquelas com dificuldades de aprendizagem, tendem a apresentar problemas de relacionamento interpessoal, os quais tendem a interferir sobre a aprendizagem acadêmica. Neste contexto, investir na formação continuada dos professores para a tarefa de promover interações sociais educativas e o repertório de habilidades sociais dos alunos constitui meta relevante, embora nem sempre suficientemente explorada nos programas de formação desses profissionais. Assim, este trabalho teve como objetivos: 1) elaborar e aplicar um programa de formação continuada do professor, visando assessorá-lo em serviço na promoção de habilidades sociais em seus alunos com dificuldades de aprendizagem; 2) avaliar os possíveis efeitos deste programa sobre o repertório acadêmico e social destes alunos.
METODOLOGIA:
Este trabalho foi conduzido sob um delineamento quase-experimental composto por três professores e seus alunos de escolas estaduais de São Carlos, divididos em três grupos: a) grupo de intervenção (sala de aceleração-SA1), b) grupo controle 1 (sala de aceleração-SA2) e c)  grupo controle 2 (sala regular do ensino fundamental -SR). As salas de aceleração eram compostas por alunos com dificuldades de aprendizagem e a sala regular por alunos com desempenho acadêmico satisfatório. Todos os alunos foram avaliados antes e depois da intervenção em termos do repertório acadêmico (leitura, escrita e matemática) e social (auto-avaliação e avaliação pelo professor dos comportamentos habilidosos, passivos ou agressivos). Para monitorar o programa de formação foram realizadas avaliações acerca das concepções e do desempenho do professor da SA1 (Questionário sobre relações interpessoais e Observações de subclasses de habilidades sociais). As avaliações pré-intervenção do professor e dos alunos da SA1 orientaram a seleção das estratégias de intervenção, cujos objetivos incluíram: a) compreensão da importância das habilidades sociais para a vida social e acadêmica dos alunos; b) percepção da relação entre seu comportamento e o dos alunos; c) compreensão e aplicação, em sala, de estratégias para o ensino de habilidades sociais necessárias à superação de déficits de aquisição e/ou desempenho dos alunos nesta área. As 31 sessões foram realizadas duas vezes por semana no período escolar dos alunos.
RESULTADOS:
Para verificar as diferenças obtidas no repertório acadêmico e social dos alunos entre a pré e pós-intervenção foram realizados o Teste T e o teste Anova (post hoc de Scheffe). Em termos do repertório social, as tendências dos três grupos foram semelhantes na auto-avaliação, destacando-se apenas a redução de reações habilidosas na SR (T=5,86; p=0,00). Na avaliação do professor as diferenças entre as duas avaliações foram significativamente positivas em todos os grupos nas reações habilidosas (SA1: T=-3,47; p=0,00; SA2: T=-2,94; p=0,01; SR: T=-16,33; p=0,00), mas a redução de passivas e agressivas ocorreu apenas na SR (T=4,73; p=0,00 e T=2,76; p=0,01, respectivamente). Em termos do repertório acadêmico, as diferenças entre pré e pós-intervenção foram significativamente positivas em leitura, escrita e matemática para a SR (T=-20,55; p=0,00, T=-4,94; p=0,00 e T=-4,97; p=0,00, respectivamente) e em leitura e escrita para a SA1 (T=-4,72; p=0,00 e T=-5,69; p=0,00, respectivamente). Com relação ao professor da SA1, enquanto no Questionário de Relações Interpessoais a comparação entre a pré e a pós-intervenção indicou dificuldade em identificar e avaliar suas estratégias de promoção de relações interpessoais e redução de comportamentos inadequados em sala,  nas observações foi registrado um repertório diferenciado de habilidades sociais caracterizado pela positividade na expressão facial, no humor/afetividade e na autoridade na maioria das subclasses.
CONCLUSÕES:
A dificuldade do professor em reconhecer e promover habilidades sociais e reduzir problemas de comportamento em sala de aula, mostrada no questionário, pode estar vinculada ao fato dos ganhos no repertório social da SA1 não terem sido equivalentes aos obtidos pela SR. Por outro lado, a positividade dos dados obtidos no repertório acadêmico e nas observações em sala  levanta questões sobre fatores do programa de intervenção que podem ter levado a estes resultados, como por exemplo, a falta de compreensão sobre a importância das habilidades sociais para a vida social/acadêmica dos alunos e a dificuldade em  observar, analisar e discriminar os seus progressos sociais. A avaliação desta etapa levou ao planejamento de uma segunda (em andamento) que tem como objetivos: 1) elaborar, aplicar e avaliar um programa de formação continuada de professores de classes de aceleração (em grupo), visando promover habilidades sociais em seus alunos e reduzir a ocorrência de conflitos interpessoais em sala de aula; 2) avaliar os possíveis efeitos deste programa sobre o repertório de habilidades sociais de alunos com dificuldades de aprendizagem, sobre a ocorrência de conflitos interpessoais em sala de aula e sobre o repertório de habilidades sociais educativas dos professores.
Instituição de fomento: FAPESP
 
Palavras-chave: Formação de professores; Habilidades sociais; Dificuldades de aprendizagem.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006