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E. Ciências Agrárias - 5. Medicina Veterinária - 2. Inspeção de Produtos de Origem Animal

ESTUDO DE PREVALÊNCIA DE Salmonella sp EM OVOS NÃO INSPECIONADOS NA CIDADE DO SALVADOR – BAHIA.

Raphaël Auguste Dantas 1
Alexandra Caribé Araújo Souza 2
Lia Fernandes Régis 2
(1. FACULDADE DE FARMÁCIA - UFBA; 2. ESCOLA DE MEDICINA VETERINÁRIA – UFBA)
INTRODUÇÃO:

Os ovos são uma importante fonte nutricional de proteína de origem animal. O elevado teor nutritivo, aliado ao baixo custo e facilidade de aquisição do produto justificam seu consumo freqüente por todas as classes econômicas. Entretanto, os ovos devem ser limpos e embalados com todos os cuidados das Boas Práticas de Fabricação para impedir a veiculação de patógenos ao consumidor. Os ovos produzidos em condições inadequadas podem carrear diferentes espécies de Salmonella ao homem e no Brasil são estimados, anualmente, 34.000 casos de salmonelose, grande parte incriminada pelo consumo de ovos contaminados. A ingestão de ovos crus ou sob forma de cremes, maioneses, gemadas e sobremesas diversas como musses e sorvetes ou ovos insuficientemente cozidos é a principal causa de infecção por Salmonella. No Brasil são poucos os levantamentos sobre a presença de Salmonella em ovos. Este trabalho teve por objetivo avaliar a presença de Salmonella sp. na casca e gema de ovos brancos de galinha não inspecionados comercializados em quitandas e pequenos estabelecimentos comerciais nos bairros de Santa Cruz, Chapada do Rio Vermelho, Vale das Pedrinhas e Nordeste de Amaralina, todos situados na cidade do Salvador e é o primeiro estudo de prevalência em ovos desta natureza realizado na capital baiana. A área estudada possui cerca de 250 mil habitantes, distribuídos em 9 Km2 e fica próximo ao centro da cidade, ponto estratégico para a distribuição à população de ovos potencialmente contaminados.

METODOLOGIA:
Foram selecionados 34% dos estabelecimentos comerciais de cada bairro de forma aleatória tomando-se uma dúzia de ovos em cada estabelecimento, totalizando 45 dúzias de ovos dos quatro bairros. Os ovos foram encaminhados, à temperatura ambiente, ao Laboratório de Sanidade Avícola da Bahia vinculado à Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia e imediatamente submetidos à análise microbiológica. Os ovos analisados foram quebrados, assepticamente, em fluxo laminar e separada gema de clara e casca. Todas as gemas de uma mesma dúzia foram unidas em um recipiente estéril para formar um pool assim como as cascas. O pool de casca e o pool de gemas foram submetidos à incubação por 24 horas a 37°C em Água Peptonada Tamponada (APT) e Caldo Lactosado Simples (CLS), respectivamente. Após a incubação foram aliquotados 1 mL do APT e do CLS para Caldo Tetrationato (TT) e mais uma vez incubado às mesmas condições. Após incubação, com o auxílio de uma alça bacteriológica foram transferidas pequenas alíquotas do TT para os meios seletivos Ágar SS e Ágar Verde Brilhante e incubados mais uma vez as mesmas condições. As colônias bacterianas suspeitas foram submetidas a exame microscópico com a coloração de Gram e às provas bioquímicas de oxidase, TSI, LIA, citrato e indol. Após incubação nas mesmas condições as amostras com perfil bioquímico compatível com a Salmonella tiveram o diagnóstico confirmado através de uma prova de soroaglutinação rápida polivalente para Salmonella.
RESULTADOS:

Ao final do estudo de corte trasversal randomizado, com p≥0,05, com nível de confiança 95% observou-se que das 45 amostras analisadas, sete (15,55%) estavam contaminadas com Salmonella spp., sendo que seis (13,33%) amostras apresentaram contaminação apenas na casca e somente uma (2,22%) estava contaminada tanto casca como gema. O aspecto das cascas dos ovos das amostras positivas variou entre muito suja (28,57%) e suja (71,43%), chamando a atenção para o fato de que nenhuma das amostras positivas apresentou aspecto de casca limpa. As sujidades encontradas nas amostras analisadas foram de penas, fezes da própria ave e outras sujidades que não foram possíveis identificar, mas que provavelmente resultaram de uma manipulação e armazenamento inadequados.

CONCLUSÕES:
Este resultado merece a atenção dos órgãos competentes no sentido de fiscalizar os estabelecimentos que comercializam ovos não inspecionados, com o intuito de evitar que a população os consuma. Freqüentemente é relevada a importância dos manipuladores de alimentos como potenciais fontes de contaminação. Eles podem ser significativos no desenvolvimento e manutenção das infecções produzidas pelo agente, tendo em vista que a presença da bactéria apenas na casca sugere contaminação após a postura. A manipulação dos ovos na granja por funcionários que não observam regras básicas de higiene ou por contato com superfícies contaminadas podem ser um importante veículo de contaminação dos ovos. A presença da bactéria apenas na gema pode sugerir, a princípio, que esta foi contaminada ainda no ovário ou oviduto das aves contaminadas. Entretanto, como a amostra em que a gema estava contaminada também foi encontrada Salmonella na casca, é provável que a bactéria tenha migrado da superfície da casca para a gema, chamando a atenção para a importância da estocagem em temperatura de refrigeração logo após a postura, pois, sabe-se que em ovos estocados à temperatura ambiente por um período acima de 24 horas pode ocorrer a migração da bactéria da casca para a gema. Com isso fica demonstrada diretamente a importância da lavagem e sanitização adequada dos ovos logo após a postura, que pode contribuir para a redução na contaminação e/ou multiplicação da Salmonella nos ovos.
 
Palavras-chave: Samonella; ovos; inspeção.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006