IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
PROPOSTA DE EDUCAÇÃO TUTORIAL: REFLEXÕES COM PAULO FREIRE E PICHON-RIVIÈRE
Paulo Henrique Oliveira Porto de Amorim 1
Janaína Turcato Zanchin 2
(1. Graduando em Geografia pela Universidade Federal Fluminense / UFF; 2. Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS)
INTRODUÇÃO:
Este trabalho visa trazer uma reflexão a respeito da educação tutorial, baseando-se na experiência de dois grupos do Programa de Educação Tutorial, gerido pela Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação (PET - SESu/MEC) . O Programa Especial de Treinamento foi criado em 1979 como uma política pública de educação que visava formar quadros altamente qualificados, criando uma elite intelectual que fosse capaz de ocupar cargos importantes dentro e fora da Universidade. Contava com grupos de 12 bolsistas e um tutor. A partir do ano de 2003 passou a ser denominado Programa de Educação Tutorial, focando o tutor como essencial na sua estrutura. Tal mudança não veio acompanhada de um novo suporte teórico-metodológico da prática do tutorar. Cada grupo interpretou as transformações do PET de formas diferentes, resultando em práticas diferentes. À luz dos conceitos de Paulo Freire e Enrique Pichon-Riviére sobre o processo de aprendizagem, o trabalho atual representa o esforço de síntese das experiências de dois integrantes de grupos tutoriais, um da Psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e um da Geografia da Universidade Federal Fluminense (UFF) que ao defrontarem suas vivências e analisá-las criticamente convergiram para definições de qual deva ser um método de educação tutorial num grupo comprometido com a capacitação integral dos seus integrantes, assunto ainda pouco explorado no Brasil.
METODOLOGIA:
O ponto de partida para a realização deste trabalho é a experiência dos grupos tutoriais do PET da Geografia da UFF e da Psicologia da UFRGS. Para a comparação e análise utilizou-se de dois momentos concomitantes: de ordem objetiva, o levantamento dos planejamentos e relatórios anuais produzidos pelos grupos a partir do ano de 2003; de ordem subjetiva, a vivência de cada membro enquanto integrantes-estudantes dos grupos, valendo-se da observação participante como método . Para construção de um arcabouço teórico para análise e comparação dos processos grupais de aprendizado, recorreu-se às obras de Enrique Pichón-Rivière e Paulo Freire . Elencou-se critérios indicadores de uma prática grupal que favoreça os processos de aprendizagem coletiva, que podem ser verificados conforme o grau de operatividade que o grupo possuir com o seu objeto de trabalho/estudo, ou seja, grau com que os sujeitos apropriam-se da realidade para, a partir de então, poder modificá-la.
RESULTADOS:
Observamos que no período de 2003-2004 o grupo da Geografia foi marcado por uma pesquisa dividida em partes individuais entre os estudantes, que em poucos momentos puderam recompor o seu objeto coletivamente. Relatos dos integrantes apontam que a etapa mais valiosa do processo foi a realização de um trabalho de campo, ocasião em que se construiu o espírito de grupo. Durante 2004-2005 realizaram-se, concomitantemente três trabalhos distintos, porém qualificaram-se como coletivos por reunirem 3 ou 4 componentes cada e por buscarem um aprendizado verdadeiramente grupal. No grupo da Psicologia observou-se a instauração de um planejamento participativo, através do qual o grupo consegue se repensar. Assim, há uma passagem dos trabalhos de caráter prioritariamente individuais, que vigoravam até meados de 2003, para a construção de um trabalho que envolvesse todos os bolsistas. Posteriormente o grupo acaba por ampliar o número de projetos, possibilitando a coletivização através da criação de espaços para realizar discussões relativas a esses projetos e outras atividades. Observou-se nos relatórios anuais, em comparação longitudinal, uma queda das atividades planejadas que não foram desenvolvidas, em decorrência de um planejamento mais próximo a realidade grupal. Um traço comum aos grupos foi o incessante estímulo de seus tutores para que seus respectivos tutorados assumissem responsabilidades no planejamento e na execução das tarefas.
CONCLUSÕES:
Ao cruzar os resultados das observações com o conceito de educador-educando de Paulo Freire, concluiu-se ser parte fundamental da educação tutorial a partilha de responsabilidades entre o tutor e os demais componentes do grupo. Somente desse modo o processo grupal estará direcionado para uma aprendizagem efetiva, cumprindo assim a essência de sua missão. Assim, acredita-se que o papel do tutor, enquanto educador, é de problematizar a realidade junto aos seus estudantes. O tutor deve colocar-se na posição de sujeito para que os tutorados, como educandos-educadores, possam também se colocarem desta forma e assim apropriarem-se dos conhecimentos e termos uma educação tutorial verdadeiramente emancipatória. A problematização em um grupo tutorial remete à função do coordenador de grupos de Pichon-Rivière. Assim, entende-se aqui como um suporte metodológico ao tutor para realizar o seu trabalho como facilitador do processo de aprendizagem grupal, no qual os tutorados possam se apropriar dos conhecimentos e, a partir de então, operarem sobre eles e sobre o mundo. Sendo assim, considera-se que o tutor não é aquele que preescreve aos tutorados seus quefazeres na tentativa de lhes ensinar, mas sim aquele que busca junto com os tutorados saídas possíveis a problemáticas colocadas. Sua experiência é apenas um instrumento para a realização da tarefa, mas nunca entendido como saber cabal a ser transmitido ao educandos.
Instituição de fomento: Programa de Educação Tutorial - Secretaria de Ensino Superior do Ministério da Educação - SESu/MEC
 
Palavras-chave: Educação Tutorial; Metodologia; Processos grupais.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006