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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 1. Lingüística Aplicada

DIÁRIO DE ADOLESCENTES: O GÊNERO TEXTUAL NO ENSINO DE LÍNGUA MATERNA, NUM ESTUDO DE CASO

Adriana Alves Daufemback 1
(1. Universidade do Sul de Santa Catarina-UNISUL)
INTRODUÇÃO:

INTRODUÇÃO. Considerando-se as dificuldades apresentadas pelos alunos em relação à produção textual nas escolas e a carência de uma concepção de linguagem que lhes confira significação à produção escrita, o presente artigo objetiva mostrar a escrita dos diários de adolescentes como forma de manifestação lingüística a ser valorizada pela escola e, ainda, argumentar sobre a classificação deste como gênero textual. Pretende-se também apontar a diversidade de gêneros de que se dispõe, questionando o próprio ensino de redação nas escolas, muitas vezes, calcado na tradicional trilogia narração, descrição e dissertação, enquadrando-se apenas ao uso normativo da língua, evidenciando-se que essa classificação não dá conta das diferentes práticas sociais através da linguagem, ou seja, não contempla os inúmeros gêneros textuais existentes, além de limitar o prazer do aluno em relação à escrita, principalmente, na produção textual da escola. Contudo, se o que se deseja é atrair o aluno para as possibilidades da língua, é preciso permitir que ele contribua com suas manifestações lingüísticas e se conscientize das diversas formas de expressão, sejam elas, orais ou escritas, com condições específicas de produção. Nesse sentido, torna-se interessante fazer uma comparação entre os diferentes contextos abordados no trabalho, isto é, a escrita do diário e a escrita da escola, indicando-se assim tais diferenças, a fim de se considerar também o diário como uma escritura valiosa para o uso da linguagem em seus mais variados contextos de uso.

METODOLOGIA:

METODOLOGIA. A realização desse trabalho se deu pela insistência de práticas didáticas que se limitam ao estudo do texto como modelo pronto e acabado, assim, o desenvolvimento de tal pesquisa parte, porém, de algumas considerações a respeito das novas teorias sobre os gêneros textuais, com base em Bakhtin na tentativa de assim defini-los, ressaltando-se a distinção dos gêneros em primários e secundários. Para certificar-se de que o ensino de Língua Portuguesa continua, em sua maior parte, baseado em regras e outros métodos de avaliação que não visam à comunicação como principal objetivo de escrita, analisaram-se dez gramáticas normativas utilizadas diariamente nas escolas, observando-se que tipos de conteúdos são apresentados. Foram feitas também algumas observações a respeito do vestibular, que muito contribui para as dificuldades de escrita.  A seguir, fez-se necessária a coleta e a análise dos diários, escritos por adolescentes de treze a dezesseis anos, estudantes de escolas públicas  que se dispuseram a colaborar com a pesquisa em questão, revelando, dessa forma, a riqueza dos subgêneros presentes nos diários, contrapondo-se a interpretações negativas atribuídas aos escritos dos diários presentes na obra O Seminarista, de Bernardo Guimarães. E ainda para reforçar as análises dos diários, elaborou-se um questionário endereçado a adolescentes que escreviam ou já tinham escrito diários, questionando-se sobre as diferenças entre a escrita escolar e a escrita do diário.

RESULTADOS:

RESULTADOS. Os resultados obtidos evidenciam a relevância da pesquisa e comprovam, de acordo com as pesquisas e análises feitas, mais espontaneidade no que diz respeito à escrita do diário. Das dez entrevistadas, nove responderam ter mais facilidade nesses tipos de escrita, analisadas nos diários sob a forma de relatos, poesias, narrações, descrições, escrituras sob códigos, letras de músicas, recortes de fotos, embalagens, ditados populares e recados, que se fazem de modo informal e subjetivo, o que, segundo as entrevistas, não quer dizer que se escreva errado, a diferença, ainda baseada nas respostas, é que, no contexto escolar, a essência do texto acaba não sendo prioridade, já que as preocupações se voltam a questões formais da língua. Evidencia-se isso, ao se fazerem algumas observações em relação às gramáticas e ao vestibular, que a maior parte das gramáticas analisadas volta-se exclusivamente à parte de fonologia, morfologia e sintaxe e poucas delas fazem referência à literatura. Apenas quatro delas fazem referência a questões especificamente voltadas à produção textual, mesmo assim, aparecendo na tradicional forma conhecida. Os critérios de avaliação cobrados no vestibular também inibem a escrita do aluno, que se preocupa muito mais em agradar ao corretor a escrever o que realmente gostaria. Logo, o presente estudo evidencia a diversidade dos gêneros como uma grande contribuição para o desenvolvimento da escrita, seja em contextos formais ou informais.

 

CONCLUSÕES:

CONCLUSÃO. O estudo realizado permitiu, tanto através das leituras como das conversas, a confirmação de que o modelo padrão de norma culta, muitas vezes, assusta os alunos na hora de se expressarem pela forma escrita. Não se pode negar, é claro, a importância do conhecimento do padrão culto ao aluno, mas, em muitos casos, a maneira como é trabalhado acaba por limitar a sua escrita na escola. Nesse artigo, o que se pretendeu evidenciar foi a importância de colocá-lo em contato com a diversidade de gêneros textuais existentes, melhorando, assim, a produção textual do aluno, tornando a escrita mais atraente e significativa nos seus diferentes contextos, ao invés de prender-se somente ao ensino tradicional. Muitas manifestações textuais ainda serão descobertas no mundo de linguagens dos alunos, certamente, aparecerão diários, cartas, e-mails, desenhos e tantas outras formas de que se dispõe para se realizar um texto escrito. Por isso, com este trabalho espera-se, por parte dos professores, que as aulas de Língua Portuguesa se tornem mais prazerosas, resultando numa produção textual mais satisfatória: propõe-se, assim, um olhar diferente para o ensino e aprendizagem de língua materna, que possa enriquecer o trabalho de estudo da língua em sala de aula, vivendo-a em toda sua diversidade. E que o conhecimento e o domínio dos diferentes tipos de gêneros sirvam para ampliar a compreensão da realidade, apontando formas mais concretas de participação social.

 

 
Palavras-chave: gênero textual; diário de adolescente; ensino.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006