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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre
FLORÍSTICA DA RESTINGA HERBÁCEO-ARBUSTIVA DO BALNEÁRIO DE MORRO DOS CONVENTOS, ARARANGUÁ. SANTA CATARINA
Rosabel Bertolin Daniel 1
Jairo José Zocche 1
Samuel Costa 1
(1. Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais (UNESC) – Criciúma, SC)
INTRODUÇÃO:

As restingas se destacam e despertam grande interesse no meio científico, por se apresentarem como ecossistemas frágeis, constituídos por grande diversidade vegetal. Conforme Resolução CONAMA 261/99 as restingas compreendem a um conjunto de ecossistemas que englobam comunidades vegetais florísticas fisionomicamente distintas, situadas em terrenos predominantemente arenosos, de origem marinha, fluvial, lagunar, eólica ou combinações destas, de idade quaternária, em geral com solos pouco desenvolvidos, as quais ocupam uma estreita faixa de areias ao longo do litoral brasileiro. As espécies vegetais encontradas nas restingas apresentam capacidade de suportar os fatores físicos predominantes como: salinidade; extremos de temperatura; presença de ventos fortes; baixa disponibilidade de água; solo instável, com baixa capacidade de retenção de água e; insolação intensa. Apesar de serem legalmente protegidas, as restingas encontram-se alteradas pela ação antrópica. A restinga do Morro dos Conventos encontra-se nessa situação, pois a mesma vem sofrendo impactos antrópicos, devido à destruição paulatina da vegetação de suas dunas, as quais estão espremidas por loteamentos e outras atividades. A presente pesquisa objetivou realizar levantamento florístico da comunidade herbáceo-arbustiva do Balneário de Morro dos Conventos, Araranguá (SC), bem como caracterizar os tipos de habitats predominantes, com a finalidade de fornecer subsídios para o planejamento do uso e conservação desse local.

METODOLOGIA:
O levantamento florístico foi realizado junto à restinga herbáceo-arbustiva  do Balneário de Morro dos Conventos (S 28° 56’ 16’’  e W 49° 21’ 25’’), município de Araranguá, sul do estado de Santa Catarina, no período de maio/2004 a julho/2005. Para tanto, foi adotado o método de caminhamento expedito, onde foram coletados indivíduos férteis e em estado vegetativo. Os espécimes coletados foram devidamente identificados por meio de consultas à bibliografia especializada e a especialistas em varias famílias botânicas. Os nomes científicos, bem como a autoria, foram confirmados de acordo com The International Plant Names Index (IPNI) e Centro de Referência em Informação Ambiental (CRIA), por meio de consulta ao site http://www.ipni.org. e http://www.cria.org, respectivamente. O material botânico coletado foi incorporado ao acervo do Herbário Pe. Dr. Raulino Reitz – CRI da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, Criciúma (SC). Os tipos de habitats colonizados pela vegetação herbáceo-arbustiva foram definidos por meio de observação, elaboração do perfil esquemático da área, além do levantamento planialtimétrico, com intervalos de 0,30 cm entre as respectivas curvas de nível, com o auxílio de Estação Total GTS – W 239 – Modelo Topcon.
RESULTADOS:
Foram registradas 124 entidades taxonômicas, pertencentes a 87 gêneros e 38 famílias. Dentre estas, 5 taxa foram identificados somente em nível de família e 7 em nível de gênero. As famílias mais representativas foram: Poaceae com 19 gêneros e 30 espécies; seguida por Asteraceae com 15 gêneros e 19 espécies; Cyperaceae com 7 gêneros e 12 espécies e; Fabaceae com 7 gêneros e 9 espécies. Essas quatro famílias contribuem com 55,17 % dos gêneros e 61,29 % das espécies registradas no presente estudo, e as demais 34 famílias com 44,83 % dos gêneros e 38,71 % das espécies registradas. Entre as espécies levantadas, merece destaque Axonopus parodii, por ser uma espécie que se encontra em fase de descrição, não tendo ainda sido registrada cientificamente (Ilsi Lob Boldrini, comunicação pessoal). Foram verificados quatro tipos de habitats: dunas frontais, com predomínio de Blutaparon portulacoides, Panicum racemosum, Spartina ciliata, Hydrocotyle bonariensis, Senecio crassiflorus; dunas internas, onde ocorrem Juncus sp. e Andropogon leucostachyus  nas depressões e Panicum racemosum, Senecio crassiflorus e Ipomoea pes-caprae nas encostas e topos das dunas; banhados, com presença de espécies hidrófilas como Nymphoides indica e; baixadas úmidas e secas, onde ocorrem agrupamentos de Poaceae, Cyperaceae e Fabaceae, adaptadas a condições de flutuação do lençol freático.
CONCLUSÕES:
A representatividade das famílias na presente pesquisa está de acordo com o esperado para áreas de restingas herbáceo-arbustivas do sul do Brasil, onde se verifica a predominância das famílias Asteraceae, Poaceae, Cyperaceae e Fabaceae, variando a ordem de importância das mesmas em diferentes locais, conforme a literatura consultada. Com relação à ocorrência de habitats distintos, foi constatado que do mar para a falésia ocorrem: as dunas frontais; dunas internas e; áreas de baixadas, que variam de secas a úmidas. Foram observados agrupamentos de vegetação rasteira com predomínio de Poaceae, Juncaceae e Asteraceae, sendo que a dominância de gêneros e espécies dessas famílias é alternada em função da topografia do terreno, salinidade, ventos intensos, baixa capacidade de retenção de água, baixa fertilidade e ação antrópica. Os estudos florísticos em áreas de restinga são importantes para que se entenda o funcionamento desse ecossistema, com o objetivo de definir critérios para o zoneamento do uso, ocupação e conservação, pois, para que uma área seja protegida, é necessário conhecê-la, principalmente do ponto de vista científico.
Instituição de fomento: CAPES
 
Palavras-chave: Comunidade vegetal ; Restinga herbáceo-arbustiva; Florística.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006