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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre

METAIS PESADOS (Zn, Pb e Mg) EM Axonopus compressus (SW.) P. Beauv. (POACEAE) E NOS SOLOS CONSTRUÍDOS DE ÁREAS DE MINERAÇÃO DE CARVÃO A CÉU ABERTO RECUPERADA

Samuel Costa 1
Jairo José Zocche 1
Polliana Zocche de Souza 2
(1. Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais - PPGCA (Mestrado) – UNESC; 2. Curso de Ciências Biológicas - UNESC )
INTRODUÇÃO:

Apesar de importante recurso energético, a explotação o beneficiamento e a utilização do carvão mineral são atividades potencialmente poluidoras, que tornam disponíveis ao meio ambiente elementos tóxicos como os metais pesados. Os metais pesados são elementos de grande toxicidade para o homem, pois poluem os ecossistemas, entram na cadeia alimentar, tendo a sua concentração aumentada à medida que avançam os níveis tróficos, causando desta forma malefícios à saúde humana. A população que vive no entorno ou sobre as áreas mineradas de carvão, muitas vezes explora a pastagem que se desenvolve sobre os rejeitos, para alimentação do gado bovino. Os metais pesados podem atuar como fator limitante ao estabelecimento de plantas em solos contaminados. Plantas tolerantes a concentrações de metais pesados são de interesse particular à Ciência, pois representam modelos geneticamente selecionados, os quais podem ser utilizados em processos de fitorremediação. Esse processo consiste na utilização de plantas para estabilizar, colher ou mudar quimicamente os contaminantes para formas não perigosas podendo ser efetuado com custos financeiros e ambientais menores do que os métodos convencionais. Objetivou-se neste estudo verificar a concentração de metais pesados (Zn, Pb e Mg) em Axonopus compressus (SW.) P. Beauv. (Poaceae) e nos solos construídos de áreas de mineração de carvão a céu aberto recuperada.

METODOLOGIA:

A área de estudo localiza-se no Município de Siderópolis (SC), junto à mina do Trevo de propriedade das Empresas Rio Deserto, onde coletou-se amostras de solo (0 – 30 cm), raízes e folhas de Axonopus compressus (SW.) P. Beauv. (Poaceae) em duas áreas distintas: área 1 (solo construído há 2 anos em antiga cava de mineração de carvão a céu aberto); e área 2 (solo construído há 5 anos, em antiga cava de mineração de carvão a céu aberto). Determinou-se o conteúdo total de zinco, chumbo e manganês no tecido vegetal e extraível no solo, por meio de digestão total com HNO3 supra-puro e extração com HNO3 (0,1 N), respectivamente. Efetuaram-se as leituras em espectrofotômetro de absorção atômica com uso de forno grafite, comparando-se os valores de concentração dos metais em cada área e em cada compartimento do ecossistema com as médias mundiais citadas em literatura. Aplicou-se o teste “t” para verificar se as diferenças entre as concentrações médias de cada metal estudado, em cada área estudada, eram estatisticamente significativas (95%). Com a finalidade de verificar se havia correlação entre a concentração de íons disponíveis no solo e o conteúdo total destes nas raízes e folhas das plantas estudadas, empregou-se o Coeficiente de Correlação de Sperman (rs) (95%).

RESULTADOS:
Os valores de concentração dos elementos Zn, Pb e Mn, detectados no solo de ambas as áreas apresentaram tanto valores máximos quanto médios, abaixo dos limites de normalidade de acordo com as médias mundiais. Já as amplitudes de concentração total, nas raízes de A. compressus, dos elementos Pb em ambas as áreas e Zn na área 1, evidenciaram valores acima dos limites de normalidade. O mesmo não ocorrendo com o elemento Mn, que por sua vez, apresentou em ambas as áreas valores abaixo dos limites de normalidade. Chama a atenção o fato dos metais estudados terem se apresentado em baixas concentrações na forma disponível no solo e nas raízes estarem acima dos limites de normalidades. Quanto à diferença entre a concentração média de íons trocáveis no solo, dos três elementos analisados, entre as respectivas áreas estudadas, observou-se que apenas os valores médios de Mn nas folhas de A. compressus evidenciaram diferenças estatisticamente significativas. As amplitudes de concentração total, dos elementos Pb e Zn na planta estudada  encontraram-se mais elevadas nas raízes em ambas as áreas. Já a amplitude do elemento Mn, tanto na área 1 quanto na área 2 encontrou-se mais elevada nas folhas. Constataram-se coeficientes de correlação muito baixos entre os teores dos metais disponíveis no solo e total nas plantas, em ambas as áreas, pois os valores de correlação calculados mostraram-se menores do que os valores de tabela, sugerindo que estas duas variáveis são virtualmente independentes.
CONCLUSÕES:
O fato da concentração de Pb, Mn e Zn, na forma disponível no solo, estarem dentro dos limites de normalidade nas duas áreas, indica que o processo de recuperação da área minerada a céu aberto, em questão, até o momento tem-se mostrado eficaz, no que diz respeito à não disponibilização de íons tóxicos às plantas. O fato de A. compressus acumular concentrações acima dos limites de normalidade apenas nas raízes viabiliza a utilização das áreas mineradas a céu aberto recuperadas, como áreas de pastagem pelo gado bovino, excetuando-se os animais que se alimentam inclusive das raízes. No entanto, recomenda-se o monitoramento da planta analisada, pelo fato de ser uma espécie forrageira, a fim de verificar se a mesma não continuará concentrando metais pesados com o passar do tempo, contaminado desta forma a cadeia alimentar e causando danos à saúde humana. Pelo fato da concentração dos metais pesados analisados em seus tecidos ser muito superior aos valores detectados no solo, A. compresssus mostrou-se boa indicadora da presença de metais pesados disponíveis no solo, sendo recomendado o seu uso em processos de fitorremediação, pois apresenta-se bem adaptada às condições ambientais das áreas mineradas de carvão. Estas mesmas conclusões não podem ser estendidas para outros metais, nem tão pouco para outras espécies de plantas, ou outras áreas de mineração, necessitando-se de estudos adicionais.
Instituição de fomento: Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC
 
Palavras-chave: Metais pesados; Mineração de carvão a céu aberto; Recuperação ambiental.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006