No momento atual, a ação do designer mudou; ele, por ser agente cultural, não pode pensar apenas no mercado; tem o dever de pensar no projeto com matérias primas reutilizadas, recicladas e seu descarte na natureza; tem de garantir a competitividade; tem de respeitar a cultura local e promover a busca pela igualdade social e o desenvolvimento das cidades; precisa portanto praticar o desenvolvimento sustentável. O meio ambiente pede socorro, precisamos mudar o cenário atual de degradação do Planeta, a conscientização da sustentabilidade é necessária, assim como as mudanças nos ciclos tecnológicos, produtivos, biológicos, na área social e nos padrões do consumo. O estudo apresenta a experiência da realização de projetos sustentáveis entre as diferentes áreas do saber; designers, professores e alunos do curso de Desenho Industrial da Universidade Presbiteriana Mackenzie e as comunidades das ONG’s Florescer e Aldeia do Futuro, situadas em regiões carentes da cidade de São Paulo, projetaram juntos, uniram a técnica ao artesanato e transformaram o aprendizado em ensino.

Em época de mundialização econômica e de planetarização nas questões ambientais, a intenção é conservar o planeta Terra, no presente, para as gerações futuras; torna-se necessário que sejamos mais coerentes com o padrão de uma sociedade sustentável. A presente pesquisa praticou a meta da universidade: a articulação entre ensino, pesquisa e extensão. Foi realizado um levantamento bibliográfico, referencial teórico e revisão crítica da literatura, cujos autores discutem sustentabilidade, desenvolvimento sustentável, agenda 21, terceiro setor, ONG´s, globalização, regional, eco design e design sustentável. Após entendimento dos conceitos, foram selecionadas as ONG’s Florescer e Aldeia do Futuro, situadas em comunidades carentes da periferia de São Paulo, que iriam desenvolver a parceria com designers, profissionais do ensino do curso de Desenho Industrial. Realizou-se in loco o registro da criação, discussão e produção dos projetos sustentáveis com formas múltiplas, que economizam matéria prima de refugo e são elaborados a partir de técnicas artesanais, transmitidas de geração a geração. A partir dos registros iconográficos realizados no decorrer da pesquisa, foi produzido um DVD com fotos das oficinas, dos objetos, das entrevistas e da relação de trabalho na comunidade. A última etapa foi organizar exposições, para avaliar a repercussão dos produtos no mercado.

Designers, professores, alunos e as ONG´s Florescer e Aldeia do Futuro de São Paulo desafiam a problemática do ambiente insustentável, pois desenvolveram projetos sustentáveis a partir de resíduos doados por empresas privadas. O trabalho realizado nas ONG´s coloca em prática a proposta do reconhecimento de nossas culturas, porque promovem a produção de objetos com características locais. Foi realizada uma catalogação das técnicas artesanais utilizadas por suas comunidades. Na ONG Florescer projeta-se, a partir da reutilização e reaproveitamento de resíduos têxteis, retalhos de jeans. A Aldeia do Futuro produz peças, utilizando técnicas artesanais de fuxico e amarradinho. As ONG’s resgatam o artesanato, peça fundamental para a ampliação da convivência entre o designer, o professor, o aluno e a maestria do artesão; essa vivência engrandeceu a relação dos dois lados, pois surgiram recriações das técnicas. Os projetos valorizam o homem, o apreço aos valores locais e reafirma a identidade cultural da região e qualifica a produção artesanal, que traduz a cultura regional. A originalidade dos projetos desenvolvidos atende a inovação necessária à indústria; os projetos surpreendem o mercado e integram ações sociais. Os objetos participaram da última Feira Craft realizada na cidade de São Paulo; as ONG’s venderam e fizeram novos contatos. Esses projetos desenvolvidos na pesquisa participarão nas cidades de Milão e Florença, em abril do corrente ano, de exposições sobre Design Sustentável. Os resultados foram positivos, a equipe projetou objetos utilizando resíduos doados pela indústria e agregaram valor comercial, utilizando o saber tradicional das técnicas artesanais, que a comunidade possuía. 

O mundo contemporâneo privilegia a variedade de gosto; não se pode, no entanto, esquecer de preservar a Terra Azul, pois a produção em exagero prejudica a todos e destrói o meio ambiente, colocando em risco a diversidade cultural. A partir dessa experiência de trabalho, que visava à projeção de objetos com conceito da sustentabilidade, entre empresas do terceiro setor, do designer, do professor e do aluno, foi possível verificar que todos têm papel importante na educação e na ação social. Essa relação entre o saber técnico e o saber tradicional permitiu ao aluno, em formação, envolver-se com as ONG’s Florescer e Aldeia do Futuro, conviver com uma realidade diferente da sua, dando-lhe a oportunidade de repensar e assumir o seu papel de cidadão, de orientador e educador. Esse trabalho poderia se aplicado em outras regiões carentes do Brasil, pois todo o processo de desenvolvimento da pesquisa serviu como de educação ambiental, pois se discutia sobre a concepção do projeto, o seu descarte, a importância do uso de matéria prima reciclada e reutilizada. A pesquisa legitima a parceria de trabalho, pois proporciona a auto sustentabilidade da comunidade, fornece a troca de informações sobre a metodologia do projeto e a técnica, proporciona a inclusão da mão de obra no mercado e o respeito à cultura. Prepara o aluno em formação, o futuro designer; para projetar centrado no homem, na ecologia e na ética; pratica, portanto o exercício do design correto, mas sem perder de vista o mercado consumidor.