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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 7. Educação Infantil
BRINQUEDO OU TREINO PARA ENSINO DE SOLUÇÃO DE PROBLEMAS: COM ENFOQUE EM ALGUMAS EXPERIÊNCIAS SOCIAIS DOS SUJEITOS.
Maria Alice de Campos Rodrigues  1
Sandra Lucia Silva  1
Silvia Helena Ferreira Fortes Bassi  1
(1. Programa de Pós-Grad. em Educação Escolar - FCL/Ar - UNESP)
INTRODUÇÃO:

Pesquisas sugerem que crianças que têm a chance de brincar com os materiais a serem usados para solucionar problema, desempenham tão bem quanto as que são treinadas a usarem tais materiais, e se saem ainda melhor do que um grupo controle (Smith & Simom,1986; Smith & Dutton,1979;Sylva, Bruner e Genova,1976). Bem como crianças que brincaram livremente com os objetos podem produzir mais alternativas de usos dos objetos do que outras que apenas imitaram um adulto demonstrando os usos dos objetos (Dansky&Silverman,1976). Dada a flexibilidade e a natureza relativamente descontraída do comportamento de brincar, alguns sugerem que a sua função (ao menos um resultado mais prevalente) é o aumento das habilidades e dos tipos de comportamentos novos que ajudam na solução de problema. Além desses estudos a obra bastante compreensiva de BRUNER, SYLVA & GENOVA (1976)  também favorecem a indagação sobre a importância de se estudar comparativamente comunidades tão próximas entre si e tão diferentes, especialmente visando-se contribuições para se pensar na educação infantil. Como sustentar os resultados dos estudos acima citados examinando-se realidades diferentes? Seriam observados entre crianças de realidades sociais tão diferentes?  Como tais condições afetam a criatividade, a aprendizagem e as ações relativas a solução de problemas? Como a experiência pré-escolar da criança  colabora para a obtenção de tais resultados?

METODOLOGIA:
57 crianças (4 anos e 6 meses a 4 anos e 6 meses) de um assentamento rural e de uma pré-escola urbana, foram observadas em 4 Grupos experimentais : I-Brinquedo, II-Treino, III-Tarefa 1 e Tarefa 2 e IV-Tarefa 2, por três experimentadores, durante um mês, aprox., enquanto solucionavam problema do tipo lure retrieval implicando 2 níveis de dificuldade (Tarefa 1 e Tarefa 2). Utilizou-se réplica de Simon&Smith(1983): Cada criança dos GI e GII tinha 2min de habituação à situação, com os materiais (conjuntos de bastões e blocos de encaixe), a serem usados na solução do problema, seguidos de mais 8min de interação com o experimentador em ações lúdicas ou de exibição dos usos dos materiais; após o que lhe era apresentado o problema. As do GIII eram apresentadas direto à Ta.1 e à Ta.2, e as do GIV recebiam só a Ta.2. Sete dicas programadas por grau de dificuldade da criança (1 min. sem ação em certa etapa da solução) - 5 na Ta.1 e 2 na Ta.2. Todas as sessões foram filmadas e as falas, transcritas. As ações (VERBAL E MOTORAS) foram categorizadas ( categorias amplas, de A a F e subcategorias) considerando-se suas regularidade, forma, ocorrência e funcionalidade em relação maior ou menor com o problema. Indo de ações próprias para a solução do problema (A) até ações reveladoras de distanciamento/desinteresse (F). Examinou-se o tempo de solução e o número de dicas por Grupos, em cada realidade social.
RESULTADOS:
:()100% das crianças do meio urbana solucionaram a Ta.1 e 97,37%, também a Ta.2.; enquanto que só 33,3% das crianças do meio rural solucionaram a Ta.1 e 52,6%, a Ta.2. ().O tempo de solução foi maior nas crianças do meio rural, ( ) tal como o número de dicas em qualquer das Tarefas. () Nos três aspectos houve melhora na Ta.2 para ambos os grupos (sendo dramática tal melhora para algumas crianças ‘urbanas’. () Encontrou-se uma grande diferença entre os dois grupos quanto às ações que revelam distância/desinteresse (notou-se, ainda, ausência de ludicidade nessas ações) em relação à solução do problema (categoria F) - que só foi apresentada (com alta freqüência) pelas crianças ‘rurais”, especialmente no GIV (83%). Já a categoria A foi a mais freqüente nas crianças ‘urbanas’. Essa diferença deu-se tanto na Ta.1 como na Ta.2. tal como durante a habituação e nos 8 min. seguintes. (6º) Entre as crianças ‘urbanas’ não se verificou diferença entre os Grupos II e III (com experiência com os materiais), nem entre estes e os Grupos II e IV (sem tal experiência). Entre as crianças ‘rurais’ a situação de treino foi pouco mais favorável, sendo que no GI elas precisaram de mais dicas e mais tempo. Da análise refinada das falas das crianças e dos experimentadores verificou-se que as crianças ‘urbanas’ tinham muito mais interesse no problema, interagiam mais e de forma mais direcionada ao problema, eram mais criativas nos argumentos, nas suas respostas e perguntas.
CONCLUSÕES:

Nas condições aqui descritas parecem dramáticos os efeitos do meio e da experiência pré-escolar sobre a forma e a capacidade de solução de um dado problema pelas crianças. Embora seja difícil separar tais efeitos, também, daqueles devidos possivelmente por fatores não controláveis, como a não familiaridade com o tipo de situação e com experimentadores tão estranhos para as crianças ‘rurais’( aspecto retomado em outro estudo). Embora se diga que ser criativo requer tempo e imaginação (o que é típico da criança), ser criativo requer autoconfiança, algum conhecimento, receptividade e capacidade de brincar, o que precisa ser estimulado com vigor no contexto escolar e da educação. Estes resultados não confirmam totalmente os achados de alguns autores quanto ao valor da experiência prévia da criança com materiais aplicáveis à solução de um dado problema, especialmente de forma lúdica, embora nossa análise mais refinada dos nossos dados mostre uma tendência para confirmar aqueles achados, por exemplo no tempo gasto nas tarefas e no número de dicas maiores para as crianças ‘rurais’ sem experiência com os materiais. Isto favorece a idéia de que ‘um direcionamento moderado muito provavelmente levará à criatividade. Embora a abordagem e a exploração infantis sejam... espontâneas, elas ocorrem em situação de aprendizagem orientadas que conduz à descoberta de respostas apropriadas”( Moyles, 1989).  CNPq

Palavras-chave: Solução de problema  Brinquedo  Ensino

Instituição de fomento: CNPq
 
Palavras-chave: Solução de Problema; Brincadeira; Ensino.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006