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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 6. Literatura
O  MEDIEVALISMO  NAS TEXTUALIDADES CONTEMPORÂNEAS: ESTUDO DE CASO

 

Maria Lúcia Ribeiro Monteiro  1
(1. Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL)
INTRODUÇÃO:

INTRODUÇÃO. Esse artigo trata de evidenciar traços medievais na expressão artística e nos costumes sociais contemporâneos, com o objetivo de facilitar o estudo e a leitura das textualidades atuais, através do resgate da literatura medieval, considerando que o passar dos tempos não consegue modificar totalmente o comportamento humano, mas (re)nová-lo apenas. Encontramos traços medievais ainda hoje em diversos manifestações sócio-culturais: na moda, na luta pela sobrevivência, em programas televisivos de humor, na literatura, nas peregrinações, em certos comportamentos sociais, tão próximos de nós, como, por exemplo, as barbáries que caracterizam as lutas de gangues dos grandes centros, o poder no tráfico de drogas, dentre outras manifestações. Interessei-me pelo assunto, principalmente para compreender com mais clareza tais fenômenos sócio-culturais. Para tanto, busquei leituras sobre a era medieval, período marcado historicamente pela temática da religiosidade, pelas Cruzadas, peregrinações, pela construção de muitos templos, pelo medo do inferno e pela submissão à igreja, características encontradas tanto na arte, como na filosofia e nas ciências em geral. A vida do homem era norteada para a salvação da alma, assim, as manifestações artísticas sempre centravam figuras de santos em seus quadros, por exemplo. A literatura foi marcada pelas cantigas (de amigo e de amor) e pelas novelas de cavalaria, com relatos de invasões e lutas de seus cavaleiros.

  

METODOLOGIA:

METODOLOGIA. Esse artigo foi desenvolvido a partir de pesquisas bibliográficas, portanto, constitui-se uma pesquisa de natureza descritivista. Segundo Rauen (2002, p. 190), a pesquisa científica pode ser de natureza quantitativa ou qualitativa, assim definidas pelo autor: Pesquisadores quantitativos, preocupados com a generalização, procuram diferenças numéricas entre dois grupos de pessoas, que diferem sob algum aspecto. Na pesquisa qualitativa, não se quer provar a existência de relações particulares entre variáveis. O trabalho busca uma descrição do fenômeno estudado, está interessado nas histórias dos eventos e nas suas interdependências. Constitui-se também um estudo de caso, por ser uma pesquisa que parte de uma análise mais profunda dos objetos de investigação (era medieval), de modo a permitir o seu amplo e detalhado conhecimento. Segundo Rauen (2005, p. 178), os estudos de caso possuem algumas características: (a) a descoberta (nesta pesquisa, a descoberta de traços medievais nas textualidades contemporâneas): parte-se de uma teoria, pois se parte do princípio de que o conhecimento não é algo acabado, mas uma construção que se faz e refaz constantemente; (b) interpretação de contexto: o contexto (aqui, tratamos do contexto medieval) é essencial para uma apreensão mais completa do objeto; (c) variedade de fontes de informação: um estudo de caso não se contenta com uma única visão do objeto, mas se recorre a vários dados de momentos e fontes diferentes.

RESULTADOS:

RESULTADOS. Nesse estudo, encontramos traços medievais bem acentuados: na moda, eles são visíveis em roupas atualmente usadas pela comunidade funk, metaleira, onde observamos a utilização excessiva de couro com detalhes em metal, franjas, correias, botas e cortes irregulares. Na literatura, encontramos semelhanças em poemas de Manuel Bandeira, como em Cossante, nos versos: Ondas da praia onde vos vi, Olhos verdes sem dó de mim, Ai! Avatlântica.... Como as cantigas, temos nossos poemas cantados na Literatura de Cordel, típica do Nordeste brasileiro, que representa com mais fidelidade a variedade informal da escrita não-padrão do português, linguagem que caracteriza a população mais sofrida. As figuras que ilustram a Literatura de Cordel parecem extraídas do bestiário medieval. Também pode-se associar algum traço de programas  de  TV, como  Casseta e Planeta, por exemplo, com  as  cantigas  satíricas. Em relação a comportamentos ligados à religião e a crenças, temos ainda hoje as peregrinações e romarias a São Tiago de Compostela (Espanha), Aparecida do Norte (Brasil), que também nos remetem à Era Medieval, onde haviam  as  Cruzadas. Nos estilos musicais atuais, encontramos em Book of Days, de Enya, por exemplo, sons e ritmos  que  se  assemelham  muito  ao  estilo  gregoriano  da  Idade  Média. Na luta pela sobrevivência, observamos claramente o reflexo das invasões bárbaras, quando acontecem  os  confrontos  entre  as  gangues  nas  favelas  do  Rio  de  Janeiro, por exemplo

CONCLUSÕES:

CONCLUSÃO. Como foi apresentado, o medievalismo marcou, de fato, uma era em que a religiosidade e as crenças foram utilizadas para subjugar o homem. O ser humano é, até hoje, facilmente influenciável, e a mídia de massa exerce um grande poder de convencimento. Esse tipo de discurso não deixa espaço para o espectador pensar.  Então, os menos esclarecidos simplesmente aceitam, seguem, obedecem ao que ouvem ou participam. Continua nítida a situação de “poderosos e submissos”. Havia um grande distanciamento entre os senhores feudais, influenciados pelo clero e o povo. Considero que este artigo evidenciou alguns desses traços medievais na textualidade contemporânea: nas expressões artísticas, nos costumes sociais, na moda (vestuário), na literatura, nas peregrinações, dentre outros. No período medieval, ocorriam com freqüência invasões e lutas. O medo do “outro” fazia com que lutassem para garantir seus domínios. Vemos isso ainda hoje, nas lutas entre os traficantes de drogas, até mesmo nas invasões bárbaras de grandes potências, como no caso da invasão contemporânea do Iraque pelos Estados Unidos. Acredito que neste trabalho consegui descrever parte do resgate do medievalismo em algumas situações do nosso mundo atual, atingindo o objetivo inicial a que me propus. E tais evidências nos levam ao raciocínio, segundo o qual, a evolução através dos tempos não  consegue  modificar  totalmente  o  comportamento humano, mas (re)tomá-lo sob novas tecituras, constituindo novas textualidades.

 
Palavras-chave: literatura medieval; textualidades,; contemporaneidade.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006