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B. Engenharias - 1. Engenharia - 14. Engenharia

UMA AVALIAÇÃO DAS ÁGUAS SUPERFICIAIS DE PARTE DA BACIA DO RIO PIRACICABA, ABRANGENDO MUNICÍPIOS NA MACRO-REGIÃO DE CAMPINAS

Newton Landi Grillo 1
(1. FEAU/UNIMEP)
INTRODUÇÃO:

O trabalho tem por objetivo investigar a situação dos recursos hídricos superficiais de parte da Bacia do Rio Piracicaba, formada pelos rios Jaguari, Atibaia e Piracicaba, no trecho delimitado pela região conurbada de Campinas S.P. compreendendo os municípios de Valinhos, Campinas, Hortolândia, Nova Odessa, Sumaré, Santa Bárbara d’Oeste e Americana, mais o trecho que abrange os municípios de Paulínia, Limeira e Piracicaba. Esta região demarcada caracteriza-se pela grande densidade populacional e industrial, ambos em expansão, o uso de seus recursos hídricos são crescentes, havendo transposições para outras bacias, perdas de água tratada por vazamentos nas tubulações, por evaporações nas caldeiras e sistemas de refrigeração industrial, na evaporação de lavouras irrigadas, e em vários açudes e reservatórios. Os três rios bem como ribeirões e córregos que neles deságuam são muito afetados em suas vazões pelas inúmeras obras de engenharia que os segmentam, por retiradas e despejos de água e esgotos realizados pelos municípios e indústrias. Na contribuição ao debate destaca-se a necessidade de se investigar os problemas atuais, considerando a existência de limitações reais hoje, implicando no desenvolvimento futuro da região.

METODOLOGIA:

O presente trabalho faz parte de um projeto maior de pesquisa em andamento na qual investigamos a poluição atmosférica, focos de contaminações provocadas por despejos urbanos e industriais, e a situação dos principais rios e ribeirões considerando que a região é um sistema aberto, por onde fluem matérias e energia. Em um retrospecto histórico, baseado em informações não acadêmicas como notícias de jornais e televisão, assim como relatos de pescadores do rio Piracicaba, último desaguadouro de toda a bacia até atingir a represa de Barra Bonita, revelou que o rio foi outrora volumoso e piscoso. Vários relatos já apareceram na mídia retratando a mortandade de peixes causados por baixa oxigenação em alguns pontos dos rios, doenças em populações ribeirinhas, e pela falta de água em vários bairros dos municípios nas épocas de estiagem. A partir destas constatações, percorremos vários trechos dos rios e ribeirões, muitos atravessando áreas urbanas recebendo efluentes a "céu aberto" ou via tubulações, percebendo-se visualmente e/ou pelo odor emanado, pela falta de vegetação ciliar, que as condições das águas superficiais apresentavam problemas. A partir dessas constatações investigamos teses, dissertações, documento de órgãos oficiais e de empresas, que relatam dados de análises laboratoriais sobre as águas em vários trechos dos rios, ribeirões e represas, inclusive pontos de captação para abastecimento urbano.

RESULTADOS:

O índice de tratamento de esgoto sanitário de uma população acima de 2.500.000 habitantes situa-se em torno de 15%. O rio Atibaia recebe grande quantidade de efluentes urbanos e industriais, fontes difusas de matéria orgânica e inorgânica, e seus sedimentos apresentam toxidade. A represa de Salto Grande encontra-se hipereutrofizada com a presença também de clorofenóis. O rio Jaguari apresenta altíssimos índices de alumínio, de Coliformes Termófilos (CT) e baixo Oxigênio Dissolvido (OD). Os principais ribeirões, o Anhumas, Tatú e Quilombo, estão comprometidos por contaminações de fenol, metais pesados, CT, e o rio Piracicaba apresenta condições críticas, com baixos índices de OD, alta Demanda Bioquímica de Oxigênio, e, em alguns pontos, concentrações de metais pesados. Os dados de captação de águas superficiais de grandes indústrias cadastrados pelo Comitê da Bacia Hidrográfica são baseados em demandas outorgadas e não nas reais, havendo discrepâncias entre diversas fontes consultadas. Na sub-bacia do rio Atibaia, a demanda geral supera a disponibilidade indicando alto reuso, na sub-bacia do rio Piracicaba atinge 26,7%, ambos em épocas de estiagem. O índice de perdas de água tratada nas tubulações da região pode chegar a 40%, agravado pela transposição de 31 m3/s de águas que formam a bacia do rio Piracicaba para a Região Metropolitana de São Paulo; esse volume corresponde aproximadamente a vazão do rio Piracicaba, no Salto, em épocas de estiagem.

CONCLUSÕES:

O trecho da Bacia do Rio Piracicaba compreendido entre os municípios em análise apresenta a maior concentração populacional e industrial da Bacia, e mostra-se como um local onde o usos de seus escassos recursos hídricos é intenso. A pressão urbana exercida sobre esses recursos revela-se nos índices de captação e perdas, indicando a importância da manutenção de tubulações e ajustes nas medições, além disso, como os pontos de captação não coincidem com os pontos de despejos, alteram-se as vazões de córregos e ribeirões, podendo ocasionar transbordamentos em locais urbanizados. A pressão industrial se manifesta nas inúmeras captações de volumes significativos de água para seus processos, muitos com expressivo uso consuntivo, devolução de efluentes, em alguns casos, com concentrações acima dos permitidos pelo CONAMA. Os lançamentos urbanos e industriais provocam baixos índices na qualidade das águas; detecta-se vários locais comprometidos e altamente contaminados com cargas orgânicas, problemas de eutrofização, de metais pesados, inclusive em locais próximos de captações urbanas. A crescente indisponibilidade das águas superficiais pressiona o aumento da extração de águas subterrâneas, e como não há controle sobre essas captações, o quadro desenhado é incerto. A análise sobre os recursos hídricos na região investigada aponta condições preocupantes pois seus limites já se encontram superados, seja no que diz respeito à vazão, ou à poluição.

 
Palavras-chave: Recursos hídricos; Água-poluição; Impactos ambientais.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006