O Brasil está entre os cinco países com maior biodiversidade de espécies e ecossistemas do mundo. As áreas florestais no Brasil somam 544 milhões de hectares. Com o avanço da civilização, certas regiões florestais foram bastante exploradas e destruídas. Os impactos desta destruição são refletidos na exploração das florestas de forma inadequada, com danos à fauna e à floresta no tocante às arvores remanescentes; prejuízo à regeneração natural; aumento da emissão de dióxido de carbono; degradação do solo e perda na qualidade da água, comprometendo partes ou mesmo ecossistemas inteiros. Até a década de 1960, a principal fonte de suprimento de madeira para o setor de base florestal era de florestas nativas. A criação de legislação específica definiu uma nova política florestal brasileira: a do reflorestamento em larga escala. As florestas plantadas são compostas principalmente por povoamentos de Eucalyptus e Pinus. No Triângulo Mineiro verifica-se uma expansão deste plantio devido à instalação de indústrias moveleiras e da extração de carvão vegetal, tornando necessária a formação de profissionais capacitados a utilizar tecnologias adequadas para uma exploração racional das florestas nativas e plantadas. Devido à expansão de plantio de florestas no Triângulo Mineiro e a formação pelo CEFET-Uberaba-MG de Técnicos Agrícolas, este trabalho tem por objetivo verificar como é tratada a relação interdisciplinar da silvicultura no currículo do curso.

A pesquisa teve como foco o módulo de Silvicultura do Curso Técnico Agrícola oferecido pelo CEFET-Uberaba-MG. O levantamento de dados foi realizado através de questionários aplicados aos nove professores do Curso, e aos dezoito alunos do módulo de Silvicultura.  O corpo discente investigado é formado por alunos do sexo masculino e do sexo feminino e a faixa etária oscila entre 17 e 21 anos. Optou-se, nesta pesquisa, pela utilização de questionários, previamente elaborados. O questionário aplicado aos docentes foi composto por dezesseis questões, sendo uma aberta, podendo ocorrer mais de uma resposta em seis questões. As perguntas cobriam os seguintes aspectos: a forma como é ministrado o módulo e a relação do módulo com as questões ambientais e de sustentabilidade, a relação do módulo com a silvicultura. O questionário aplicado aos alunos foi composto por dezesseis questões, sendo duas abertas, podendo ocorrer mais de uma resposta em sete questões.  As questões abrangeram a forma como são ministrados os módulos; o tratamento dado às questões ambientais; a competência e o interesse do aluno para tratar assuntos relativos ao meio-ambiente e à sustentabilidade. Nas questões abertas a análise final considerou todos os termos utilizados, através de agrupamento de conceitos que se repetiam. Os questionários foram acompanhados de uma carta esclarecendo acerca dos propósitos da pesquisa, e de outra, solicitando autorização do pesquisado para o uso das informações prestadas. 

Considerando que se espera de um profissional que enxerga a reciprocidade do conhecimento uma atitude e uma postura interdisciplinar, que supere a fragmentação do saber, foi possível verificar que apenas metade dos professores do curso técnico agrícola do CEFET-Uberaba relatou que aborda conhecimentos relacionados ao módulo de silvicultura. Os alunos confirmaram esta afirmação ao concluírem não haver relação entre o módulo de Silvicultura e os de Mecanização Agrícola, Drenagem, Irrigação e Fitossanidade. De acordo com os mesmos apenas os módulos de Viveicultura e Manejo e Conservação do Solo apresentam relação com a Silvicultura. Mesmo assim, alunos e professores consideram que os alunos têm competências profissionais para exercerem atividade na área de preservação e conservação ambiental em silvicultura. Quanto ao desenvolvimento sustentável, a totalidade dos professores observou que essa questão é sempre abordada nos módulos. Porém, 61% dos alunos não conseguiram definir o que é “desenvolvimento sustentável” e 82% conceituaram “meio ambiente” de forma inadequada. Sob o ponto de vista dos alunos, o maior problema que atinge as florestas brasileiras é o desmatamento, seguido pelas queimadas e pela falta de orientação aos produtores. Problemas como: poluição, não reflorestamento e crescimento de carvoarias também foram mencionados. Foi constatado o desconhecimento por parte dos professores das atividades de silvicultura desenvolvidos pela escola.

O que se pode observar é que no ensino relacionado à silvicultura oferecido pelo CEFET-Uberaba não existem objetivos partilhados entre a maioria dos módulos. O trabalho interdisciplinar, portanto, não é adequadamente realizado. A constatação de que os alunos não vêem relação entre o módulo de Silvicultura e os de Mecanização Agrícola, Drenagem, Irrigação, Agrometeorologia e Fitossanidade demonstra esta falta de articulação entre as disciplinas, uma vez que estes conhecimentos estão estritamente interligados às questões de proteção ambiental e conseqüentemente à Silvicultura. Quanto à formação do técnico agrícola na área de silvicultura, foi possível verificar um conhecimento satisfatório da realidade do setor florestal brasileiro, mediante inclusive o posicionamento dos alunos frente aos problemas ambientais relacionados às florestas. Outro item que merece atenção é o fato dos alunos não terem conseguido conceituar desenvolvimento sustentável, denotando uma visão reducionista, fragmentada e estreita de um conhecimento que se torna cada vez mais indissociado das demais áreas do conhecimento. Foi possível observar que a consciência ética ambiental entendida como essência do ato educativo, como o cerne da competência dos professores, principalmente daqueles que tratam de algo tão valioso como a natureza, não está claramente expressa nas informações prestadas por alunos e professores.