Inibidores de proteases são proteínas de ampla distribuição no reino vegetal, capazes de inibir as atividades da tripsina, quimiotripsina e outras proteases. Estes inibidores são classificados em duas categorias principais: os de alto peso molecular, com especificidade primária para tripsina (inibidores Kunitz) e os de baixo peso molecular, sendo estes últimos capazes de inibir a ação tanto da tripsina quanto da quimiotripsina (inibidores Bowman-Birk). O inibidor Kunitz é encontrado nas sementes de soja, sendo o mais abundante e o mais sensível a variações de temperatura.

Lectinas são proteínas capazes de reconhecer e se ligar a sítios específicos, como os receptores glicosilados de enterócitos, podendo prejudicar os processos de digestão, absorção e utilização de nutrientes. Vários trabalhos têm sido feitos com inibidores de proteases, principalmente com os inibidores de tripsina encontrados em sementes de leguminosas. Entretanto, a maior parte dos resultados obtidos está relacionada com o efeito de tais inibidores sobre a atividade pancreática e intestinal. Sabendo-se das conseqüências deletérias de fatores antinutricionais sobre a digestão de proteínas, propôs-se observar a influência de dietas contendo esses fatores sobre o desenvolvimento e microestrutura testicular em ratos neonatos.

Os animais em fase pré-púbere utilizados foram divididos em 6 grupos experimentais:

Grupo 1: controle negativo, tratamento com dieta aprotéica (AP),

Grupo 2: controle positivo, tratamento com dieta a base de caseína (CAS),

Grupo 3: tratamento sem fatores inibidores de protease e lectina e sem fervura (KtiLec^- 0),

Grupo 4: tratamento sem fatores inibidores e 25 minutos de fervura (KtiLec^- 25),

Grupo 5: tratamento com fatores inibidores e sem fervura (KtiLec⁺ 0),

Grupo 6: tratamento com fatores inibidores e 25 minutos de fervura (KtiLec⁺ 25).

Os animais foram eutanasiados e alguns órgãos (testículos, glândulas vesiculares, fígado e epidídimo) foram coletados, pesados e fixados em solução fixadora de Karnowsky a 4%. Os testículos foram desidratados em série alcoólica crescente e processados para a inclusão em Historesin^®.

As análises morfométricas foram realizadas utilizando-se microscópio de luz (Olympus AX70 e BX41), a fim de se verificar possíveis alterações entre os elementos testiculares, tanto no túbulo seminífero quanto no tecido intersticial. Foram calculados o índice gonadossomático (IGS), a proporção túbulo/interstício, a proporção de túbulos com/sem lúmen, o diâmetro tubular e a altura do epitélio seminífero.

As médias foram calculadas utilizando-se o programa STATISTICA para Windows, considerando as diferenças significativas quando p<0,05.

Os animais do grupo Aprotéico (controle negativo) apresentaram todos os parâmetros alterados quando comparados ao grupo Caseína (controle positivo) e a todos os tratamentos. Esses dados serviram de base para os grupos tratados com soja, mas não entraram nas análises de comparação de médias. As comparações foram sempre com o controle positivo.

Animais de todos os tratamentos apresentaram redução significativa nas médias de pesos testiculares. Os IGS obtidos apresentaram variação (p<0,05) para os grupos 4 e 5. Não houve alterações (p>0,05) nas proporções túbulo/interstício, assim como na proporção de túbulos com/sem lúmen.

Animais que receberam dieta sem aquecimento (grupos 3 e 5) apresentaram os menores valores de diâmetro tubular e altura do epitélio, quando comparados com os animais do grupo controle (p<0,05).

Todos os animais dos grupos tratados apresentaram redução no peso das glândulas vesiculares (p<0,05) sendo a maior queda observada no grupo que recebeu dieta sem aquecimento e sem inibidores. Este mesmo padrão foi observado para o peso hepático. No entanto, o grupo cuja dieta não possuía fatores inibidores e que passou pelo processo de fervura, obteve aumento significativo na média de peso hepático dentre todos os outros animais tratados.

Os grupos 3 e 5 apresentaram redução do peso da albugínea (p<0,05), e nos grupos 4 e 6 foi observado  pequeno aumento do peso desta túnica (p>0,05), quando comparados ao grupo com dieta a base de caseína.

O peso corporal dos animais tratados apresentou-se reduzido indicando efeito negativo na digestão de proteínas.

Todos os tratamentos apresentaram efeitos sobre o desenvolvimento e a estrutura testicular, assim como sobre as glândulas vesiculares. Isto indica que as alterações na digestão de proteínas, apesar de não retardarem o desenvolvimento gonadal, provocaram redução no diâmetro tubular e na massa das glândulas vesiculares.