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C. Ciências Biológicas - 13. Parasitologia - 1. Entomologia e Malacologia de Parasitos e Vetores

Estudos para o Controle da Infestação por Maruim (DIPTERA: CERATOPOGONIDAE) nos Municípios do Vale do Rio Itapocú, Santa Catarina, Brasil.

Ulises Sebastian Sternheim 1
Enaly Silva Ribeiro 2
Lina Lane Ferreira 2
Reginaldo Peçanha Brazil 3
Paulo Roberto Pereira de Araújo 4
Maria Luiza Felippe-Bauer 2
(1. Fundação Jaraguaense de Meio Ambiente - FUJAMA, Jaraguá do Sul, SC.; 2. Deptº. de Entomologia, Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ, Rio de Janeiro, RJ.; 3. DBBM, Instituto Oswaldo Cruz/FIOCRUZ, Rio de Janeiro, RJ.; 4. Serv. de Biologia - FEEMA, Rio de Janeiro, RJ.)
INTRODUÇÃO:
Devido às queixas sistemáticas de picadas por maruim nos Municípios do Vale do Rio Itapocú, Santa Catarina, Brasil, e pela ausência de um método de controle desses insetos, realizou-se um trabalho multidisciplinar para identificar as espécies infestantes e seus criadouros preferenciais. Como a infestação tem importância regional, foram parceiros nesta pesquisa os municípios de Jaraguá do Sul, Corupá e Schroeder, representados pela Associação dos Municípios do Vale do Rio Itapocú (AMVALI), e o Instituto Oswaldo Cruz, que viabilizou sua realização. Nesta pesquisa buscou-se conhecer as áreas de ocorrência de infestação, a espécie prevalente na microrregião, a correlação entre a incidência de maruim e algum tipo de atividade antrópica, os possíveis micro-ambientes que constituem criadouros da espécie infestante e seu ciclo de vida (ovo a adulto), a fim de fundamentar futuros trabalhos de controle.
METODOLOGIA:
Para o mapeamento das áreas de infestação foram selecionados 76 pontos de coleta (47 pontos em Jaraguá do Sul, 20 em Corupá e 9 em Schroeder) entre residências, escolas e creches. Foram anotadas as atividades antrópicas predominantes e o grau de infestação (grave, média e fraca) com base na queixa da população. Para a identificação da espécie infestante foram feitas capturas esparsas em isca humana de março a agosto de 2002, sendo os exemplares fixados em álcool a 70%. Na procura de criadouros, selecionamos uma área de cultivo de banana em Jaraguá do Sul com infestação durante todo o ano (infestação grave). Foram definidos seis micro-ambientes para estudo: cepo (cortado e exposto) e pseudocaule de bananeira em decomposição (cortado e caído no solo), chão do bananal (com restos de folhas e frutos) esterco de galinha (montículos no chão do bananal), beira de riacho (parte úmida de riachos que atravessam o bananal) e “pool” de esterco de espécies pecuárias (depósitos frescos de esterco de bovino, eqüino e suíno na propriedade de plantio de banana). As coletas foram realizadas semanalmente de maio de 2003 a junho de 2004 com “armadilhas de eclosão” colocadas em triplicata sobre os substratos suspeitos. Cada armadilha permaneceu no local por 49 dias, findo o qual foram deslocadas para outros substratos semelhantes. Os maruins eclodidos foram retirados semanalmente e fixados em álcool 70% para identificação. Foram anotados os dados climáticos para análise.
RESULTADOS:
Nos 76 pontos amostrados obtivemos 2961 exemplares de Culicoides paraensis (1254 em Jaraguá do Sul, 1344 em Corupá e 363 em Schroeder). Confrontando o grau de infestação de maruins nos pontos de coleta com o ambiente circundante, concluiu-se que 39,5% dos pontos apresentavam infestação grave e destes, 80% tinham o cultivo de banana como atividade principal nos arredores. A análise dos criadouros demonstrou que a espécie infestante, C. paraensis, foi coletada em todos os meses de captura e substratos estudados. Foram obtidos 208 exemplares sendo 63% no cepo, 23% no esterco de espécies pecuárias, 9% no tronco, 2% no esterco de galinha, 2% na beira de riacho e 1% no chão do bananal. Para todos os substratos a eclosão de C. paraensis se estendeu até o período máximo de coleta (49 dias). A análise de variância (ANOVA) em combinação com o teste de Tukey apresentou diferenças significativas entre os substratos trabalhados. Cepo X pseudocaule (P<0,05); cepo X esterco de galinha, cepo X riacho e cepo X chão do bananal (P<0,01). Em nível de P<0,05, não houve diferença significativa para cepo X esterco de espécies pecuárias; a relação entre os demais substratos também não se mostrou significativa. A análise estatística não mostrou diferença entre os substratos trabalhados e as estações do ano. O pico de incidência de C. paraensis coincidiu com períodos de drástico declínio de precipitação pluviométrica.
CONCLUSÕES:
Concluiu-se que a espécie infestante nos municípios afetados é C. paraensis e que há grande correlação entre o cultivo de banana e a infestação de maruim. Como o cultivo de banana já existe na região desde 1930 e a infestação só se evidenciou a partir de 1997, infere-se que, durante este período, mudanças ambientais como a conversão cada vez maior de parte da mata atlântica em monocultura e áreas urbanizadas, o uso de agrotóxicos diversos e conseqüentemente a diminuição das populações naturais de predadores, propiciaram a proliferação do maruim nos bananais na última década, agravado pela presença constante do homem próximo ao criadouro, constituindo fonte segura de repasto sanguíneo. O cepo de bananeira em decomposição se mostrou o principal criadouro de C. paraensis na área em estudo, enquanto que o pseudocaule, o esterco de galinha, a beira de riacho e o chão do bananal não se mostraram bons criadouros. Observou-se que o período entre a deposição de ovos e a eclosão de C. paraensis pode ser maior que 49 dias, indicando ser o ciclo de vida (ovo a adulto) deste inseto bastante longo. Futuros trabalhos com vistas ao controle da infestação devem levar em conta o emprego de métodos de desativação dos cepos. O esterco de espécies pecuárias pode constituir criadouro secundário de C. paraensis, o que deve ser considerado nos programas de estímulo para a construção de esterqueiras, orientados pelos órgãos públicos.
Instituição de fomento: AMVALI, PIBIC/FIOCRUZ/CNPQ.
 
Palavras-chave: Culicoides paraensis; bananicultura; criadouros.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006