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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação
PARÂMETROS ORGANIZACIONAIS E SÓCIO-ANTROPOLÓGICOS NO ESTUDO DAS RELAÇÕES AUTORIDADE/ESCOLA.
Karina Augusta Limonta Vieira 1
(1. Unesp- Faculdade de Ciências e Letras, Campus de Araraquara)
INTRODUÇÃO:

O fenômeno da autoridade constitui-se presente na cultura escolar brasileira, seja nas relações intra e inter escolares, portanto, apoiado nos parâmetros organizacionais (comportamento organizacional) e sócio-antropológicos (internalização dos valores, impositividade autoritária e a construção do sentido). Partindo desses estudos e de Suano – que cruza as duas abordagens de modo crítico; de Morgan, tanto nos estudos sobre simbolismo organizacional, quanto nas duas metáforas de organizações (organizações como sistemas políticos, e organizações como instrumento de dominação); das investigações de Foucault com relação ao panóptico disciplinar, a governabilidade e as liberdades reguladas, e enfim; das pesquisas psico-institucionais de Goffman. Procuraremos aquilatar em que medidas a escola é uma instituição total e/ou organização complexa, a partir do balanço crítico da noção de cultura brasileira em seus parâmetros autoritários e nas flexibilizações que comporta.

 

METODOLOGIA:

Por se tratar de uma pesquisa social, fatos como a autoridade escolar e suas marcas na/da cultura brasileira foram analisados por meio de um levantamento qualitativo bibliográfico, cujo caráter teórico, fundamentando-se a partir dos parâmetros organizacionais (teoria do comportamento organizacional); parâmetros sócio-antropológicos (Sócio-antropologia e Antropologia do poder), e dos referenciais teóricos de Helenir Suano, Gareth Morgan, Michel Foucault, Erving Goffman, Maurício Tragtenberg, Roberto da Matta, Sérgio Buarque de Holanda, Antonio Cândido e Muniz Sodré, Massimo Canevacci e Zygmunt Bauman.

 

RESULTADOS:

Os estudos de Suano mostraram que a escola possui sua própria cultura, cujos indivíduos possuem suas personalidades. Do ponto de vista da análise da teoria do comportamento organizacional, Argyris e Likert, indicaram a incongruência entre o crescimento de uma personalidade saudável e as exigências da organização formal. Na organização formal baseada nos princípios burocráticos de Weber, a tendência é que se eleve o grau de autoridade e, a dependência e descontentamento dos trabalhadores. É o que Morgan mostra nas metáforas política e de dominação, em que nas relações superior/subordinados existe exploração, mando, controle. Já a análise da Sócio-Antropologia e da Antropologia do Poder mostraram o quanto a formação da cultura brasileira influenciou no desenvolvimento desse tipo de atitude autoritária. As relações mantidas por rituais e cerimoniais (Cohen e Balandier) foram trocadas pela manipulação técnicas, contratuais e instrumentais, a fim de assegurar o poder. É assim que Foucault descreveu a escola como Panóptico, Goffman como instituição total, Tragtenberg como organização complexa. Definições dadas a uma organização que se constitui em uma máquina de dissociar a pessoa vigiada e a que vigia e, principalmente, vir a assegurar o bom funcionamento automático do poder. Ou, “governabilidade” e “liberdades reguladas” que significam uma internalização e individualização pela pessoa e pelo grupo dos dinamismos externos do poder, do controle e da disciplina.

 

CONCLUSÕES:

Autores como S. Buarque de Holanda, A. Cândido, Muniz Sodré, R. da Matta constataram que a sociedade brasileira possui caráter autoritário, dominador e impositor. Para Argyris e Likert a mudança dessa postura autoritária acontecerá quando os sentimentos de dependência e submissão do empregado forem deixados de lado. Será, então, a modificação da liderança autoritária para uma liderança mais “democrática”, “participante”, “colaboradora”, para o fim do comportamento negativo. E, Morgan propõe que as metáforas mostrem um caminho para a criação de uma teoria organizacional para os explorados, ou seja, criar uma teoria das organizações como mudança social. Pois, ela encoraja a lidar com a exploração do real. Ao passo que na Sócio-Antropologia, Cohen e Balandier, consideram a valorização dos meios informais (parentela, amizade, ritual, cerimonial, e muitas outras atividades ou padrões simbólicos implícitos naquilo que se conhece como “estilo de vida”) a fim de permitir que os indivíduos tenham atitudes mais livres e conscientes do seu papel na sociedade. Contudo, reconstruir os simbolismos, valorizar os meios informais desta máquina de dissociar a pessoa, e de disciplinar, só seria possível se pensássemos diante de uma visão pós-moderna. Aquela que busca a indeterminação, a desconstrução, o descentramento, a hibridação, a participação e a atuação dos grupos sociais que constituem a sociedade brasileira.

 
Palavras-chave: autoridade; escola; organização.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006