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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 12. Psicologia

TÉCNICO DE FUTEBOL E PSICÓLOGO: CONSTRUINDO UMA ALIANÇA DE TRABALHO

Karen Agostini Daldon 1
Irani Iracema de Lima Argimon 1
(1. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul / PUCRS)
INTRODUÇÃO:

Nos últimos anos, a Psicologia do Esporte vem ganhando maior importância no nosso país, consolidando seu esforço no meio esportivo e absorvendo muitos profissionais da psicologia. Uma abordagem não só individual, mas também grupal, e uma ênfase na prevenção de problemas psíquicos, torna-se o principal foco de trabalho dos psicólogos e profissionais que trabalham em conjunto.

            A Psicologia do Esporte é uma área nova de conhecimento da Psicologia, tanto para psicólogos, que a reconhecem como uma especialidade, quanto para profissionais do esporte, sejam eles atletas, técnicos ou dirigentes. Muitas vezes, esses profissionais não possuem conhecimento do auxílio que essa intervenção pode oferecer em uma prática esportiva, como o aumento do rendimento esportivo dos atletas ou a superação de situações adversas.

Quase meio século após a atuação pioneira, a Psicologia do Esporte no Brasil segue seu próprio rumo em diversas direções. Caminhando passo a passo com a Psicologia Geral, pode-se observar o desenvolvimento não de uma, mas de várias Psicologias do Esporte, distintas umas das outras devido ao referencial teórico que sustenta essa produção acadêmica e prática. Este estudo, portanto, pretende identificar como os técnicos de futebol significam o trabalho da psicologia do esporte, procurando entender como esta prática é produzida.

METODOLOGIA:

No presente estudo foi utilizado um método qualitativo, considerado mais adequado para a investigação dos objetivos propostos. O trabalho foi organizado a partir dos discursos dos técnicos, e, para a análise dos dados, foi utilizada a análise de conteúdo, o que nos permitiu a formação de categorias temáticas. Dessa forma, foram construídas quatro categorias relacionadas à Psicologia do Esporte, à realidade da atuação do psicólogo e à relação entre os profissionais e ao atleta no meio esportivo.

A coleta de dados foi realizada em clubes profissionais de futebol da cidade de Porto Alegre/RS, nos quais foram entrevistados cinco técnicos. Foi garantido o anonimato e o consentimento informado de todos os participantes. Através de uma entrevista semi-estruturada, com um roteiro flexível, investigamos questões que abordavam a atuação do técnico, do psicólogo e a interação entre os mesmos, além de outras questões pertinentes à relação da Psicologia do Esporte com o futebol. Estas entrevistas foram realizadas individualmente, no próprio clube onde trabalhava o técnico, com duração de aproximadamente uma hora. Tais encontros foram marcados em função da disponibilidade do entrevistado.

RESULTADOS:

O psicólogo do esporte contribui no mundo esportivo através de diversas atuações, dependendo da demanda, do tempo e das condições de trabalho. Percebe-se um incentivo à atuação do psicólogo nas categorias de base, sendo mais escassa em times profissionais.

A Psicologia do Esporte é vista como uma ferramenta secundária ao esporte, e a atuação de psicólogos fica restrita a situações especiais e emergenciais, não possuindo a noção de prevenção e trabalho contínuo. É uma área que descentraliza as tarefas, não ficando essas apenas sob o controle dos técnicos, que expressam em seus discursos os pré-conceitos e a desconfiança. Percebe-se que o técnico oscila entre o desejo de um trabalho mais integrado com a psicologia e o medo de este ameace o seu comando.

  Atualmente, é evidente a preferência pelo profissional da psicologia que tenha experiência no esporte com o qual irá trabalhar. Muitas vezes, outros profissionais do esporte acabam realizando uma parcela da prática da psicologia, com conhecimentos advindos de estudos paralelos. Os profissionais da comissão técnica parecem desvalorizar quem tem essa formação mais específica, “absorvendo” o seu trabalho.

O psicólogo utiliza diferentes recursos para divulgar sua prática e aprimorar sua comunicação com a equipe técnica, tais como palestras que exponham resultados do seu trabalho, com uma linguagem acessível. São formas de buscar uma maior inserção, para que, progressivamente, o psicólogo mostre ser essencial para a equipe técnica.

CONCLUSÕES:

Concluiu-se que a prática parece não condizer com o discurso produzido pelos técnicos de valorização do trabalho da psicologia. Evidencia-se uma prática corretiva, que atende somente a uma demanda imediata, não enfatizando a produção de novos caminhos para o bem-estar psíquico do atleta e de toda a equipe técnica.

Os psicólogos costumam abdicar de um olhar humanizado para se submeter às exigências da comissão técnica, já que se depara com uma instabilidade do mercado, que gera inseguranças e limitações, restringindo sua prática. Demonstra possuir dificuldade em explicitar seu papel, além de não ter um aprofundamento na interação entre conhecimento acadêmico de psicologia com prática do esporte.

A inserção do psicólogo é dificultada pela recepção que recebe dos profissionais do meio esportivo, principalmente do técnico, em função da resistência em descentralizar o poder no time. Entender e permitir que o psicólogo realize sua intervenção, respeitando sua ética profissional é uma barreira a ser vencida.

A Psicologia do Esporte está, cada vez mais, ganhando espaço no meio esportivo e conquistando a confiança dos demais profissionais. Todavia, os esforços para uma prática valorizada não devem ser interrompidos. Uma busca incessante por atualização, através de conhecimento e vivência, auxiliará o psicólogo do esporte a alcançar e consolidar seu lugar na esfera profissional.

Instituição de fomento: Sesu/MEC
 
Palavras-chave: Psicologia do Esporte; Técnicos; Futebol.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006