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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 2. Ecologia Aquática

EGLÍDEOS (CRUSTACEA, DECAPODA) COMO INDICADORES DE MUDANÇAS AMBIENTAIS NO ARROIO IMBAA, MUNICÍPIO DE URUGUAIANA, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL.

Luis Roberval Bortoluzzi Castro 1
Andrielli Vilanova de Carvalho 1
Liane Santariano Sant’Anna 1
Andre Ribeiro Castillo 1
Enrique Querol 1
Marcus Vinicius Morini Querol 1
(1. Departamento de Ciências Naturais, FAFIUR, PUCRS Uruguaiana)
INTRODUÇÃO:

Os ecossistemas aquáticos têm sido alterados de maneira significativa devido a múltiplos impactos ambientais indesejáveis resultantes da influência direta ou indireta do homem. O resultado disso está representado pela queda acentuada da biodiversidade aquática, em função da desestruturação do ambiente físico, químico e alterações na dinâmica e estrutura das comunidades biológicas (GOULART & CALLISTO, 2003).

A degradação dos recursos aquáticos tem sido motivo de preocupação do homem nas últimas décadas. Por esta razão existe um crescente interesse por conhecer e proteger os ecossistemas fluviais e estudar suas trocas com o meio, desenvolvendo critérios físicos, químicos e biológicos que possibilitem diagnosticar o efeito e a magnitude das intervenções humanas (NORRIS & HAKWINS, 2000).

Invertebrados bentônicos são utilizados como bioindicadores na avaliação dos impactos causados pelas diversas atividades humanas nos ambientes aquáticos por diversos autores, destacando-se CALLISTO et al., (2005); entre outros.

Os Anomuros do gênero Aegla, Leach (1820), são animais de hábitos bentônicos, encontrados em arroios e rios de correnteza, ocultos sob pedras e detritos vegetais. Destacam-se como elos importantes nas cadeias alimentares nos ambientes límnicos, pois, além de serem predadores de larvas aquáticas (MAGNI & PY-DANIEL, 1989), constituem importante fonte alimentar para aves, rãs e peixes (ARENAS 1976).

METODOLOGIA:

As coletas foram realizadas mensalmente, no período de maio de 2005 a março de 2006, no arroio Imbaá situado a latitude S 29º44´19,9´´e longitude W 57º00´26,8´´ no município de Uruguaiana, RS. Foram determinados três pontos de coleta distintos quanto ao substrato, correnteza, vegetação aquática e proteção ciliar, para melhor caracterizar a preferência de habitats, sendo que, para cada ponto foi demarcada uma área de 3m2. O primeiro ponto (P1), foi caracterizado por apresentar um substrato pedroso, fluxo contínuo de água, algas e uma boa cobertura ciliar, o segundo ponto (P2), localiza-se ao lado de um barramento (tráfego de veículos), não há vegetação marginal e um substrato areno-argiloso com grande quantidade de algas no fundo. O terceiro ponto (P3) é de fácil acesso e apresenta resquícios de pressão antrópica, não há presença de vegetação aquática, o solo é arenoso com pedras e pouca profundidade quando comparado aos demais. Para a captura dos organismos utilizou-se a técnica manual com esforço (CPUE), onde, um indivíduo coletou durante 10min. Ainda no local foram coletadas amostras de água para análises físico-químicas realizadas pela Companhia Riograndense de Saneamento de Uruguaiana (CORSAN). O material capturado foi encaminhado ao laboratório, onde foi medido, pesado, classificado até o nível de gênero e conservado em álcool a 70%. Para classificação a nível de espécie foram encaminhados alguns espécimes para especialistas da UFRGS.

RESULTADOS:

Durante o período amostrado foram coletados 108 Anomuros, vulgarmente conhecidos como caranguejos, do gênero Aegla, dos quais 7 foram capturados no P1, o mesmo número para o P2 e 94 espécimes para o P3, demonstrando uma melhor adaptação neste. Nos meses de agosto e setembro, ocorreu um aumento do número de indivíduos de diferentes tamanhos, podendo assim, indicar um possível período reprodutivo. Em relação aos parâmetros físico-químicos da água, a condutividade elétrica manteve-se constante, porém muito além do normal, com exceção do mês de maio, que também apresentou um teor de oxigênio reduzido devido, possivelmente, à falta de fluxo de água. Em novembro, as concentrações de amônia e nitrito apresentaram-se bastante elevadas, ocorrendo também uma queda brusca no pH e oxigênio dissolvido na água (OD), o que explica a mortalidade total de indivíduos capturados neste mês e o decréscimo no número de espécimes nos meses posteriores, chegando à zero em fevereiro.

CONCLUSÕES:

A partir dos resultados obtidos pode-se afirmar que o arroio está sofrendo uma forte pressão antrópica principalmente no P3, que se localiza próximo ao um lago de decantação de um frigorífico além de ser utilizado em atividades agrícolas. Ação esta, comprovada pelos dados observados em novembro, quando o arroio recebeu um despejo abundante de casca de arroz prejudicando a biota e alterando os parâmetros físico-químicos da água, tais como; elevadas taxas de nitrito e amônia,e baixas concentrações de OD e pH, resultando na diminuição populacional dos eglídeos e acumulando conseqüências nos demais meses. A alta condutividade encontrada deve-se ao alto teor de matéria orgânica lançada no arroio. Já no mês de maio este fator ocorreu em menor concentração devido ao bloqueio do fluxo de água para barragens locais.

O grau de sensibilidade dos indivíduos apontado em relação as mudanças ocorridas no meio, confirmam a importância destes crustáceos como bioindicadores de qualidade ambiental e por serem espécies representativas da fauna de invertebrados aquáticos continentais da América do Sul.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: crustáceos; bioindicadores; arroio imbaá.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006