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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial
AS REPERCUSSÕES DO AMBIENTE LINGÜÍSTICO-CULTURAL NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO DO FILHO/EDUCANDO SURDO
Angela Nediane dos Santos 1
Vera Lucia Marostega 1
(1. Universidade Federal de Santa Maria - UFSM)
INTRODUÇÃO:
Este trabalho pretende apresentar uma pesquisa realizada durante os anos de 2004 e 2005, vinculada ao Curso de Especialização, da Universidade Federal de Santa Maria, UFSM. Tal pesquisa aborda o tema da comunicação entre família ouvinte, filho surdo e escola para surdos, e sua influência no desenvolvimento e aprendizagem do aluno surdo. O trabalho realizou-se no contexto de uma escola para surdos, localizada na cidade de Santa Maria, RS. A Educação Especial, especificamente na área da surdez, marca um espaço de transição bastante significativo, deixando o olhar clínico-terapêutico, e passando a representar a surdez em um outro campo. Esse novo espaço pode ser chamado de Estudos Culturais, Pedagogia da Diferença ou Pedagogia dos Surdos, que traz um outro modo de representar os surdos e a surdez. Este olhar sócio-antropológico percebe a língua de sinais como a língua própria da cultura surda. Esta língua necessita ser adquirida de forma natural e espontânea como qualquer outra língua. Para tanto, a criança surda deve estar inserida em um ambiente lingüístico e cultural equivalente às suas condições sócio-culturais. No Brasil a língua de sinais é chamada de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), a qual foi reconhecida em 24 de abril de 2002 através da Lei Federal nº 10.436 e regulamentada em 22 de dezembro de 2005, pelo Decreto nº 5.626. A língua portuguesa é a segunda língua a ser aprendida pelo sujeito surdo, por meio da escrita.
METODOLOGIA:
A escola em que realizou-se a pesquisa é estadual, e está organizada por ciclos de formação. Atende a população surda da educação infantil, do ensino fundamental e da educação de jovens e adultos. Esta escola iniciou suas atividades em 2000 e sua criação é o resultado de movimentos e lutas da Comunidade Surda, dos professores e familiares das pessoas surdas. Esta escola assume uma postura sócio-antropológica, visto que a comunicação acontece por meio da língua de sinais, sendo esta língua parte de uma cultura, a cultura surda. Nesta escola o surdo é visto como diferente, não por não ouvir, mas por ter uma cultura própria. Através de revisão de literatura, observações e entrevistas semi-estruturadas, buscamos analisar como a comunicação entre a família ouvinte, o filho surdo e a escola para surdos influencia no desenvolvimento e aprendizagem do sujeito surdo Os sujeitos participantes da pesquisa foram quatro famílias ouvintes com filhos surdos que estudam na escola para surdos; quatro professoras, dos quatro alunos surdos pertencentes às famílias, e duas instrutoras de língua de sinais, que atuam como instrutoras de língua de sinais para pais e comunidade. Com todos os sujeitos da pesquisa foram realizadas entrevistas semi-estruturadas. Além dessas entrevistas, foram realizadas observações diretas das aulas de língua de sinais oferecidas pela referida escola, para pais e comunidade.
RESULTADOS:
A partir das entrevistas com as famílias foi possível constatar que a descoberta da surdez gerou diferentes atitudes nas famílias. A maioria das famílias buscou tratamento fonoaudiológico. O primeiro contato com a língua de sinais aconteceu a partir dos 5 anos de idade dos filhos surdos. No entanto, esse contato não significou a busca pela aprendizagem desta língua por parte de todas as famílias. Cabe ressaltar aqui, que quanto mais cedo a pessoa surda adquirir a língua de sinais, melhor será a potencialidade de desenvolvimento e aprendizagem. Em relação à escola para surdos, as famílias afirmam que os filhos gostam muito de ir à escola. Isso porque, o contato com seus pares possibilita uma comunicação fluente e a construção da identidade, a possibilidade de interagir em um ambiente em que pode ser compreendido e compreender, com maior facilidade, através da língua de sinais. Além disso, o acesso aos conteúdos pela sua língua própria também auxilia o seu desenvolvimento e aprendizagem. A partir do que as professoras expressaram fica evidente que a aprendizagem e o desenvolvimento desses alunos acontece através da interação social. Os relatos das professoras mostram que cada família tem uma forma diferenciada de se comunicar com o filho surdo, e que esta comunicação influencia de forma significativa na aprendizagem e desenvolvimento desse educando.
CONCLUSÕES:
A partir da revisão de literatura, das observações e das entrevistas realizadas, consideramos que a aprendizagem acontece por meio da interação social. Esta interação só acontece quando as partes se comunicam através de uma língua expressada e compreendida. O meio social e cultural onde a criança vive é essencial para o seu desenvolvimento e aprendizagem. Portanto, o modo como a comunicação entre a família ouvinte, o filho surdo e a escola para surdo acontece influencia de diversas formas o desenvolvimento e a aprendizagem do sujeito surdo. A língua de sinais, é o meio de comunicação mais adequado à pessoa surda, por pertencer à cultura surda, e se apresentar na modalidade espaço-visual. No entanto, a maioria das crianças surdas nascem em famílias ouvintes. O seu primeiro contato é com a língua oral, lingua de seus pais, a qual não é adequada às necessidades culturais das pessoas surdas. A partir da descoberta da surdez do filho, diversas são as atitudes dos pais. Uma delas é a busca por tratamentos fonoaudiológicos. Outra alternativa possível, é o contato com uma comunidade surda, com a cultura surda. Acreditamos que a relação entre a família e a escola precisa ser mais próxima. Família e escola devem discutir juntas a educação de seus filhos/educandos. Essa discussão, no caso da escola para surdos, deve aproximar essas duas instituições, na busca de uma pedagogia da diferença.
Instituição de fomento: Apoio da CAPES - Benefício PROESP/SEESP/CAPES - UFSM
 
Palavras-chave: família ouvinte; escola para surdos; língua de sinais.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006