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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL FACILITADOR DE MOITAS DE Eucalyptus sp. NA RESTINGA DA PRAIA DA JOAQUINA, ILHA DE SANTA CATARINA, SC.

Mariela Figueredo Simões de Jesus 1
Tânia Tarabini Castellani 2
(1. Acadêmica do Curso de Ciências Biológicas/UFSC; 2. Professora do Departamento de Ecologia e Zoologia/CCB/UFSC)
INTRODUÇÃO:

Facilitação é o processo onde ocorrem interações positivas entre plantas, em que a presença de uma dada espécie proporciona condições mais apropriadas ao estabelecimento de plantas menos tolerantes, e tem sido freqüentemente relatada em ambientes xerofíticos. A vegetação de restinga se caracteriza por fisionomias herbáceas, subarbustivas, arbustivas e arbóreas que podem ocorrer em mosaico ou apresentar-se numa certa zonação no sentido oceano-continente. O setor de dunas frontais da restinga da Praia da Joaquina, nos últimos 16 anos, sofreu alterações naturais e antrópicas, mas aumentou sua cobertura vegetal e riqueza específica. O estabelecimento de plantas arbustivas e arbóreas, não presentes anteriormente, foi registrado sob moitas da exótica Eucalyptus sp. no cordão de dunas situado logo após a duna frontal. Desta forma, o presente estudo teve como objetivo principal avaliar as alterações causadas pelas moitas de Eucalyptus sp. em relação à facilitação de espécies arbustivas e arbóreas da restinga em uma comunidade de duna predominantemente herbácea/subarbustiva.

METODOLOGIA:

O estudo foi desenvolvido no período de maio de 2005 a janeiro de 2006. Foram feitos o levantamento e mapeamento das moitas de Eucalyptus sp. e dos indivíduos de espécies arbustivas e arbóreas, nos sub-bosques destas moitas (borda e interior). Estes indivíduos tiveram ainda sua altura e diâmetros do caule medidos. Foram consideradas plantas de borda de moita, aquelas que se localizavam até 1m do limite externo da moita em direção ao interior desta. O mesmo procedimento foi feito para as áreas-controle (com exceção do mapeamento). Estas foram amostradas em parcelas de tamanho equivalente ao das moitas e se localizavam em áreas adjacentes a estas, com características de substrato e habitat similares. Em campo, cada planta amostrada foi diferenciada quanto ao morfotipo e foi coletada, prensada e encaminhada aos especialistas do Horto Botânico da UFSC para identificação. Indivíduos menores de 20cm não foram amostrados. Desta forma, foram obtidas a riqueza de espécies arbóreas e arbustivas, as chances de ocorrência e a densidade de cada espécie nos sub-bosques e áreas-controle. Testes estatísticos (c2) foram aplicados a fim de testar a hipótese de que a ocorrência de cada espécie era similar nas duas áreas. Calculou-se a média e desvio padrão, da altura dos indivíduos e do diâmetro do caule, visando comparar o tamanho dos indivíduos nos sub-bosques e nas áreas-controle.

RESULTADOS:

Foram mapeadas 22 moitas de Eucalyptus sp. Um total de 266 indivíduos de espécies arbustivas e arbóreas foi registrado, sendo 208 nos sub-bosques e 58 nas áreas-controle. Nos sub-bosques ocorreram 11 espécies arbustivas e arbóreas, pertencentes a 10 famílias botânicas. Nas áreas-controle foram registradas 6 destas espécies. A espécie com maior número de indivíduos foi Dodonaea viscosa (107), seguida por Myrsine sp. (56) e Guapira opposita (19), estas últimas com ocorrências significativamente maiores nos sob-bosques. A maioria das espécies teve maior abundância de indivíduos nos sub-bosques das moitas, considerando as espécies que tiveram n³10, e apenas D. viscosa teve abundância similar nas duas áreas (c2=1.579; p=0.246). As espécies Clusia criuva, Myrsine parvifolia, Alchornea triplinervia, Lithrea brasiliensis e Ouratea sp. só foram encontradas nos sub-bosques, entretanto, apenas as duas primeiras tiveram número representativo de indivíduos (n³10). A maioria das espécies teve maior número de indivíduos localizados em áreas de borda das moitas, e apresentou altura média maior nos sub-bosques, assim como maior diâmetro do caule. Numa correlação não-paramétrica observou-se uma tendência significativa de que, quanto maior a área da moita, maior o número de espécies e o número de indivíduos encontrados. Das 11 espécies, 4 apresentaram indivíduos florescendo e/ou frutificando nos sub-bosques das moitas.

CONCLUSÕES:

Todas as espécies arbustivas e arbóreas encontradas nos sub-bosques são características de restinga, porém não são comuns de ocorrerem na formação herbácea/subarbustiva do presente trabalho, com exceção de D. viscosa e Vitex megapotamica. Devido à maior abundância de indivíduos nos sub-bosques das moitas, estas espécies podem ser categorizadas como espécies que necessitam de facilitação para seu desenvolvimento, ao menos nessa área. Exceção é feita à pioneira D. viscosa, que teve abundância similar nos sub-bosques e áreas-controle. As moitas de Eucalyptus sp. podem representar para as espécies lenhosas arbustivas e arbóreas levantadas, uma redução da severidade do ambiente sobre o solo mais exposto da restinga, proporcionando sítios mais protegidos do vento, dos raios solares diretos, e, conseqüentemente, com temperaturas mais baixas. Com exceção de D. viscosa, todas as espécies são dispersas por pássaros, sendo suas dispersões aparentemente favorecidas nestas moitas pelo uso dos indivíduos de Eucalyptus sp. como poleiros para aves, que utilizam-nos como local de descanso e/ou nidificação, como foi observado.

 
Palavras-chave: facilitação; restinga; Eucalyptus sp..
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006