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H. Artes, Letras e Lingüística - 1. Artes - 6. Fundamentos e Crítica das Artes

MELODRAMA: A SOCIEDADE EUROPÉIA DO SÉCULO XIX NOS PALCOS POPULARES

Aureliano Lopes da Silva Junior 1, 3
Claudia Braga 1, 2
(1. Universidade Federal de São João del-Rei/UFSJ; 2. Departamento de Letras, Artes e Cultura/DELAC; 3. Departamento das Psicologias/DPSIC)
INTRODUÇÃO:

Este trabalho integra o projeto de pesquisa "Do Melodrama à Telenovela: dramaturgia popular no Brasil", desenvolvido no GETEB - Grupo de Estudos e Pesquisa em Teatro Brasileiro, e pretende analisar, sob a ótica dos estudos de gênero, os "atores" da sociedade francesa do século XIX, buscando em suas figuras masculina e feminina elementos que denotem traços de comportamentos estereotipados em suas ações na vida cotidiana, que encontram eco na tipificação de ambos os gêneros levada ao palco pelas obras melodramáticas.

O melodrama surgiu em fins do século XVIII, tendo se estendido e alcançado enorme popularidade durante todo o século XIX. Sua platéia era bastante diversificada e formada por membros de todos os estratos sociais, fato este fortemente influenciado pela Revolução Francesa, já que o gênero surgiu na seqüência das transformações por ela desencadeadas. Desde seu surgimento, ele acompanhou as transformações sociais de seu tempo e levou ao palco um retrato fiel do emergente ideal burguês de sociedade, o que justifica a análise desta forma teatral em conformidade com a sociedade que a produziu.

METODOLOGIA:

O recorte inicial deste trabalho foi o da escolha de um texto melodramático, dentre os vários estudados, que nos serviria como base para posterior análise. Após esta seleção, analisou-se a estrutura dramática deste, enfatizando a construção de seus personagens e contrastando-o com estudos teóricos prévios sobre melodrama, personagem e sociedade pós-Revolução Francesa. Objetivou-se, ao relacioná-los, o estabelecimento de padrões de estereotipia social em contraponto com sua representação tipificada, detectada no texto teatral. O melodrama escolhido foi a peça "Trinta Anos ou a Vida de um Jogador", de autoria de Victor Ducange e Dinaux e datado de 1831.

RESULTADOS:

Os resultados nos mostram que é impossível caracterizar esta sociedade sem discorrer sobre uma de suas características primordiais, a diferenciação exacerbada dos sexos, a qual segregará a mulher a uma posição inferior. Esta situação também é vista no palco, no qual a personagem feminina é construída como um tipo, o da inocente perseguida. Este tipo encontra-se à mercê das ações personagens masculinos: a perseguição pelo vilão e a defesa do herói, sendo reservado a ela apenas um papel passivo. A mocinha não age, alguém age por ela. Ela é reduzida tanto por sua condição de mulher como pelo seu lugar na estrutura da peça, o de apenas complemento e amparo às ações dos protagonistas.

A figura da mulher é de grande importância nestes dois âmbitos, sociedade e teatro, porém verificamos que em ambos a figura masculina é sua referência. Na sociedade, o seu espaço primordial é o ambiente doméstico, o lar, o qual será transposto e ocupado por ela no palco. Assim, mesmo sendo um dos personagens protagonistas do melodrama, a mulher encontra-se ali em uma posição secundária no que se refere à ação motora dos acontecimentos encenados, o que denota extrema coerência desta representação de seu papel social.

CONCLUSÕES:

Concluímos que tanto na sociedade européia do século XIX como no gênero melodramático, os personagens guardam a marca da tipificação. Os personagens do melodrama são estruturalmente construídos como tipos, da mesma forma que o cotidiano oitocentista, que é composto por figuras de mobilidade reduzida, devido principalmente às rígidas normas sociais que definiam o lugar dos mesmos. Estas normas eram ditadas pela diferenciação dos gêneros, em conformidade com a posição social definida pelas posses do indivíduo.

O homem era primordialmente o chefe de família, que comandava com extrema rigidez sua casa. Ele era a honra, a lei e o poder. Definia o futuro de seu filho homem, que um dia ocuparia seu lugar, bem como oprimia a mulher, dona de um espaço extremamente reduzido. A sociedade era caracterizada por uma extrema inflexibilidade de seus membros.

Concordamos que a situação da mulher não era agradável no século XIX, porém, é pouco provável que, com raras exceções, as próprias mulheres tivessem noção da submissão a que eram sujeitadas. Certamente, e principalmente, os homens também não questionavam seu posicionamento frente às mulheres. Esta era a norma, que nem sempre era contestada, sendo apenas assimilada e assumida como tal por toda a sociedade, e representada nos palcos que a ela se referiam.

Instituição de fomento: FAPEMIG
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Melodrama; Sociedade; Século XIX.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006