O presente trabalho integra estudos sobre as experiências de formação em Alternância, com ênfase nas Escolas Família Agrícola – EFA’s brasileiras. As EFA’s têm como um dos princípios fundamentais a Pedagogia da Alternância, que combina no processo de formação do jovem agricultor, períodos de vivência na escola e na propriedade rural. A alternância mais que sucessões repetidas de sequências família-escola, visa desenvolver na formação dos jovens situações em que o meio escolar se posiciona em interação com o meio sócio-familiar (Silva, 2000). Nesta lógica, a presença de uma Associação, juntamente com a participação e o envolvimento efetivo das famílias na gestão da escola, a perspectiva de desenvolvimento rural sustentável são outros princípios que orientam o projeto pedagógico das escolas de formação em alternância. É neste contexto que o objetivo geral do nosso trabalho foi analisar o processo de implantação das Escolas Família Agrícola na Zona da Mata Mineira. Especificamente, buscamos resgatar, sistematizar e descrever as diferentes trajetórias históricas das EFA’s de Acaiaca, Araponga e Ervália, além de caracterizar as dinâmicas dos processos de participação e de parceria desenvolvidos pelas suas Associações das escolas na construção de seus Projetos Político Pedagógico.

A abordagem metodológica utilizada apoiou-se nos princípios da pesquisa qualitativa, por apresentar-se como a mais apropriada para a apreensão da relativa novidade das experiências de formação em alternância, além de possibilitar o desvelamento das singularidades das diferentes dimensões deste objeto de estudo. Partindo desta concepção metodológica, utilizamos a técnica de triangulação de dados, conjugando três dimensões analíticas: os processos e produtos centrados nos atores sociais, obtidos através de entrevistas com os agricultores das EFA´s em implantação, visando tanto a reconstituição da trajetória histórica das EFA´s quanto a caracterização dos processos participativos realizados na construção de seus Projetos Político Pedagógico; os elementos produzidos pelo meio dos atores sociais extraídos de fontes documentais, como atas de fundação e de assembléias, estatutos e relatórios visando a complementação para reconstituição da trajetória histórica das EFA’s e os processos e produtos originados pela estrutura sócio econômica, cultural e política dos atores, extraída de produções acadêmicas envolvendo aspectos sobre associativismo, processos e práticas participativas e parcerias. A sistematização e análise das informações foram orientadas pelos procedimentos do Método de Análise de Conteúdo.

Identificamos na reconstituição e na análise das trajetórias históricas de implantação das três Escolas Família Agrícola a presença e o envolvimento das famílias dos agricultores, de lideranças comunitárias, além de contribuições diversas oriundas das parcerias estabelecidas na socialização de dinâmicas, saberes e práticas sociais. Um outro elemento comum identificado foi a presença dos ideais e valores disseminados pelas Comunidades Eclesiais de Base – CEB’s, nas origens do envolvimento e da motivação das famílias dos agricultores para a criação das EFA’s. Através da análise dos processos históricos de implantação das EFA’s, constatamos ainda que as práticas participativas construídas encontram-se associadas aos contexto sócio-histórico, econômico, político e cultural no qual estes sujeitos estão inseridos. Em linhas gerais, nossas análises evidenciam ainda, nas representações dos sujeitos sobre participação, uma pluralidade de concepções que são inerentes e singulares aos sujeitos e grupos que compõe cada Associação de Escola Família Agrícola. Todavia, a despeito de suas trajetórias e perspectivas distintas, um desafio comum às experiências analisadas é a necessidade de ampliar a participação efetiva das famílias nas Associações, para uma melhor condução dos processos de construção dos Projetos Político Pedagógico.

O conjunto de nossas análises indicam que é em articulação com os processos, práticas e dinâmicas orientadoras dos diferentes processos de implantação das EFA’s que emergem as compreensões, lógicas e referências  sobre o processo de construção dos Projetos Político Pedagógico das escolas. Assim é que, na complexidade das relações, práticas e esforços evidenciados, podemos considerar que, de uma maneira geral, as trajetórias, vivências e conhecimentos acumulados pelos envolvidos nas experiências de construção do Projeto Político Pedagógico das EFA´s da Zona da Mata Mineira, tem propiciado e dinamizado relações de poder que são próprias de um processo de participação. São experiências educativas que têm trilhado rumos que perpassam por caminhos onde existem limitações e avanços, mas que têm, sem dúvida, contribuído e consolidado reflexões e práticas de luta por uma educação do campo.