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A. Ciências Exatas e da Terra - 7. Oceanografia - 3. Oceanografia Geológica

SETORIZAÇÃO DA ZONA ESTUARINA DO RIO MACIAMBÚ

Cyro Conti Milan 1
João Marcos Barreiros Joaquim 1
Carla Bonetti 1
Jarbas Bonetti Filho 1
(1. Laboratório de Oceanografia Costeira (LOC-UFSC))
INTRODUÇÃO:

O estuário do rio Maciambu está localizado na porção central do litoral do estado de Santa Catarina, mais precisamente no município de Palhoça, dentro dos limites do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro (PEST). Segundo dados da FATMA, que é a fundação estadual que administra o parque, o PEST é a maior unidade de conservação e proteção do Estado de Santa Catarina. O objetivo deste trabalho é compreender a distribuição dos foraminíferos bentônicos que ocorrem junto ao substrato daquele estuário e avaliar sua utilização como indicadores do gradiente fluvio-marinho que se estabelece ao longo do eixo estuarino. Buscou-se também considerar as relações entre estes organismos e alguns parâmetros hidrológicos e sedimentológicos. A utilização desses protozoários em oceanografia é justificada pela sua abundância, diversidade, potencial de preservação e facilidade de coleta em campo, estocagem e preparação laboratorial. A importância dos estudos sobre as relações existentes entre a fauna bentônica e as características hidrodinâmica do meio deve-se, entre outros, à aplicabilidade deste conhecimento no desenvolvimento de técnicas adequadas ao diagnóstico e ao monitoramento ambiental.

METODOLOGIA:

A coleta das variáveis sedimentológicas e físico-químicas foi realizada durante maré de sizígia, no dia 27 de abril de 2005. A malha amostral foi composta por 11 estações dispostas ao longo do perfil longitudinal do estuário. As estações de amostragem foram posicionadas com o auxilio de um GPS Garmin GPSMAP 76S, mantendo-se eqüidistância de 0,5 km entre elas. A determinação da temperatura e salinidade da coluna d’água foi realizada mediante a obtenção de um perfil vertical contínuo, utilizando-se um STD SensorData.Os sedimentos foram coletados com um amostrador tipo Van-Veen e a granulometria determinada pelo método de peneiramento e pipetagem. Foi destacada uma alíquota de 50 ml de sedimento úmido para o estudo dos bioindicadores bentônicos. Estas sub-amostras foram peneiradas a úmido em malha de 0,062 mm, secas e flotadas em CCl4. O material flotado foi triado sob lupa, identificando-se os foraminíferos (protozoários marinhos) e as tecamebas (protozoários de águas doces). Para a setorização estuarina foram utilizados os seguintes descritores biológicos: densidade, razão Vivos/Totais (V/T), freqüência relativa de calcários, freqüência relativa de aglutinantes e ocorrência de tecamebas. Estes dados foram integrados estatisticamente aplicando-se a técnica de analise de agrupamento e correlacionados com os dados hidrológicos (temperatura e salinidade) e sedimentológicos (teor de matéria orgânica, teor de carbonatos, diâmetro médio dos grãos e grau de seleção).

RESULTADOS:

No que se refere aos descritores biológicos analisados, o tratamento estatístico sugere a ocorrência de três setores distintos estabelecidos a partir do agrupamento das estações de coleta. O primeiro grupo compreende as estações 1, 2, 4, 5, 6, sendo a 1 a estação mais a jusante. De modo geral, essas estações foram as que apresentaram maiores densidades, predomínio de organismos de testa calcária, pouca presença de tecamebas e as maiores razões V/T. Outro grupo compreende as estações 3, 7, 8, 9, nas quais as densidades são menores, assim como a razão V/T, havendo o predomínio de testas aglutinantes e maior presença de tecamebas. O último grupo engloba as estações 10 e 11, localizadas a montante, nas quais se observa a mais baixa densidade de foraminíferos e ocorrência exclusiva de testas aglutinantes. Os dados referentes à sedimentologia mostram o predomínio de areia fina nas estações 1 e 2, areia entre média e grossa nas estações 4 a 9 e areia muito grossa nos últimos pontos. A exceção foi a estação 3, que apresentou maior profundidade, na qual ocorreu silte médio com alto teor de matéria orgânica. Quanto aos parâmetros hidrológicos, os resultados mostram que, de maneira geral, a temperatura foi maior junto ao fundo e menor em direção ao interior do estuário. Observou-se a presença de água marinha ao longo de todo o seu eixo longitudinal. A salinidade variou entre 36.04 (estação 1, fundo) e 1.09 (nas amostras de superfície mais a montante, estações 10 e 11).

CONCLUSÕES:

Com base nos resultados alcançados pode-se concluir que a distribuição das diferentes espécies de foraminíferos está relacionada, no Rio Maciambu, ao balanço existente entre o fluxo de água doce e a influência marinha, onde as oscilações de temperatura e principlmente de salinidade resultam em diferentes ambientes. Na porção mais a montante, onde esses descritores apresentaram menor valor, dominam espécies aglutinantes, principalmente Miliammina spp. A jusante, onde a salinidade e a temperatura foram mais altas, dominam espécies calcárias, destacando-se os gêneros Ammonia e Elphidium. A transição de espécies calcárias para aglutinantes ocorreu de forma gradativa ao longo do estuário, exceção feita a uma amostra localizada no estuário inferior mas com características biossedimentológicas tipicas de setores mais a montante. Esta ruptura no gradiente está relacionada provavelmente a uma contribuição fluvial localizada neste ponto, ocorrendo o domínio de espécies aglutinantes e sedimentos finos.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: estuário; foraminíferos; setorização.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006