IMPRIMIR VOLTAR
D. Ciências da Saúde - 5. Farmácia - 2. Analise Toxicológica

IDENTIFICAÇÃO DE ORGANOFOSFORADO E CARBAMATO EM AMOSTRAS DE URINA POR CROMATOGRAFIA EM CAMADA DELGADA (CCD), APÓS HISTÓRIA DE INGESTA DE CHUMBINHO.

Rafael Luiz Prim  1
Suellen Pericolo  2
Claudia Regina dos Santos  3
Alcíbia Helena de Azevedo Maia  3
(1. Hospital Universitário HU- Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC; 2. Acadêmica do curso de Farmácia - Análises Clínicas da UFSC; 3. Professoras do Departamento de Patologia da UFSC)
INTRODUÇÃO:
A utilização de praguicidas granulados (“chumbinhos”), como defensivos agrícolas, é legalmente permitida no Brasil. No entanto o seu uso, indevido, como domissanitário raticida, tem sido popularmente explorado. A literatura acerca desse assunto refere-se geralmente aos carbamatos (Aldicarb e Carbofuran) como ingredientes ativos dessa formulação, contudo verifica-se que o “chumbinho” comercializado ilegalmente pode conter outros ingredientes ativos como organofosforados. O fácil acesso corrobora para sua utilização como agente em casos de suicídio, homicídio e intoxicações acidentais. Ambos agentes tóxicos são uma importante causa de morbi/mortalidade no país. Atuam inibindo a enzima acetilcolinesterase, manifestando-se através de sintomas como sialorréia, fasciculações, vômitos, diarréia, miose, entre outros. Apesar dos sintomas serem semelhantes, os tratamentos diferem de forma significativa. Como em grande parte dos casos emergenciais o diagnóstico clínico é de difícil reconhecimento, a análise laboratorial para detecção e diferenciação destes compostos tóxicos é de suma importância para que a conduta terapêutica adequada seja praticada. Neste contexto este trabalho visa identificar o agente inibidor da acetilcolinesterase presente na formulação do chumbinho em amostras de urina encaminhadas ao Laboratório de Toxicologia de Emergência (TOXEM/UFSC).
METODOLOGIA:
Foram analisadas amostras de urina de 52 pacientes com história de ingesta de chumbinho no período de janeiro de 2004 a fevereiro de 2006. A diferenciação entre organofosforados ou carbamatos foi realizada na urina por CCD, utilizando como extrator diclorometano. A fase orgânica foi evaporada até secura, a temperatura ambiente, e posteriormente ressuspensa e expotada em placas de sílica gel 60. O sistema eluente foi uma mistura de clorofórmio: acetona (9:1). Os organofosforados foram revelados com solução de Cloreto de Paládio 0,5% e os carbamatos, utilizando reativo de diazocopulação com p-nitroanilina. Consideraram-se ainda parâmetros como a circunstância da exposição, idade, incidência de cura/óbitos e a dosagem da acetilcolinesterase.
RESULTADOS:
Das 52 amostras de urina analisadas, carbamato foi detectado em 59,6% dos casos, organofosforado em 13,4%, carbamato e organofosforado, juntos, no mesmo material biológico, em 1,9% e em 25,1% das análises não foi possível a identificação de nenhum dos inibidores da acetilcolinesterase. Em 46,1% dos casos não detectados, a atividade da colinesterase não estava inibida. As circunstâncias da exposição, em sua maioria (88,5%), envolveram tentativa de suicídio, principalmente na faixa etária produtiva da população (20-59 anos), já a idade infantil contribuiu com a metade dos acidentes individuais, que somaram 7,7 % das circunstâncias. Nesse estudo, a ingesta de pelo menos um inibidor de colinesterase foi detectada em 73,5% dos 49 pacientes que evoluíram a cura sendo que a taxa de óbito foi de 5,8%, todos com ingesta de carbamato.
CONCLUSÕES:

Apesar de vários estudos se referirem a chumbinho unicamente como carbamato, a formulação contendo organofosforado é igualmente permitida para uso agrícola no país, justificando o fato de que em 13,4 % dos casos o agente envolvido se tratar de organofosforado. Esse achado é relevante, visto que possibilita ao clínico adotar a conduta adequada frente ao quadro clínico do intoxicado. Quanto à circunstância da exposição ao chumbinho verificou-se que a tentativa de suicídio prevalece em relação às demais, ocorrendo em sua maioria na faixa etária produtiva da população. Já nos acidentes individuais, é considerável a exposição de crianças. Analiticamente a técnica pode ser considerada de cunho relevante no auxílio da detecção e diferenciação de compostos visto que das 52 suspeitas 74,9% dos casos foram confirmados e desses, 94,7% evoluíram para a cura.

Instituição de fomento: PROEXTENSÃO, FAPESC e Ministério da Saúde.
 
Palavras-chave: Chumbinho; Cromatografia em Camada Delgada; Colinesterase.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006