A IDENTIDADE ÉTNICA INDÍGENA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA

Este trabalho apresenta uma análise da inserção e das imagens do indígena veiculadas nos textos escritos dos livros didáticos de História, das séries inicias, e o seu papel no processo de construção da identidade nacional brasileira, no período referente ao final do século XX e início do século XXI, mais precisamente entre 1996/2003. A intenção é verificar as possíveis mudanças geridas através das novas propostas historiográficas e curriculares brasileiras acerca das identidades étnicas, e sua possível  “ressemantização” no ensino de História.

Para a viabilização deste trabalho, utilizamos como metodologia à pesquisa documental com base na análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais, dos Guias Didáticos e de sete manuais didáticos produzidos entre os anos de 1996/2003. Nos manuais didáticos são coletados dados sobre os indígenas no passado, o trabalho indígena, as línguas indígenas, as tradições culturais e os indígenas hoje buscando delimitar a pesquisa neste período por ser neste que se institucionalizaram os Parâmetros Curriculares Nacionais e também a implantação da política de escolha do livro didático pelo professor, tendo em seu auxílio a publicação de guias, elaborados pelo Ministério da Educação e Cultura

A incursão investigativa nas fontes documentais selecionadas nos possibilitou perceber algumas características que nos pareceu afluir como lacunas, incoerências, preconceitos que permanecem nos textos escritos. Das sete amostragens selecionadas observamos que o trabalho indígena é veiculado apenas dentro do contexto de uma divisão de trabalho por sexo, há um silenciamento sobre o sistema de trabalho e as horas trabalhadas; percebemos evidências das narrativas dos feitos dos portugueses-brancos, visto que, os estudos da temática indígena, ainda permanecem incluídos em uma unidade ou em um capítulo dos livros; evidenciamos sinais dos indígenas como atores coadjuvantes da história do Brasil; notamos um maior número de textos que retratam os indígenas no passado e por último, no que se refere aos Parâmetros Curriculares estes sinalizam para a construção uma identidade não estática, porém, o que está colocado nos livros didáticos apresenta vestígios da não absorção do que está proposto e veiculado nos Parâmetros Curriculares Nacionais, quanto às identidades étnicas indígenas.

Mediante a verificação de sinais de ambigüidade, de permanências e mudanças, do velho e do novo, nos manuais didáticos, faz-se necessário ampliar o foco de investigação e de implementação de políticas públicas, que estimulem alcançar o duplo desafio de conciliar os direitos de igualdade dos cidadãos e os direitos à diferença de culturas, evitando a guetização e a impermeabilidade de grupos culturalmente diferenciados, que possam alimentar posturas discriminatórias e, de colocar em pauta, conhecer, reconhecer e lutar para a superação das desigualdades sociais, sem a qual não há verdadeira diversidade cultural. Daí a necessidade de se aperfeiçoar a análise das políticas públicas, dos Parâmetros Curriculares Nacionais e dos Guias Didáticos, dos materiais didáticos, dos saberes e práticas dos professores de História, enfim da cultura escolar, contribuindo para a compreensão e implementação de políticas e saberes que atendam aos atuais desafios deste inicio do século, referentes à questão das identidades e o ensino de História.