IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 8. Psicologia do Trabalho e Organizacional

ASPECTOS DO COTIDIANO PROFISSIONAL DO POLICIAL MILITAR: - UM ESTUDO DE CASO DE POLICIAIS MILITARES DA 1ªCIA DE ASSIS - S.P

Claudio Edward dos Reis 1
(1. Faculdade de Ciências e Letras/UNESP/Assis )
INTRODUÇÃO:
Há cerca de seis anos atuando como partícipe em processo de avaliação psicológica de policiais militares dentro do PAAPM – Programa de Acompanhamento e Apoio ao Policial, programa este construído, com a finalidade de acompanhar, avaliar e promover a assistência aos policiais militares envolvidos em ocorrências de alto risco, temos presenciado uma série de situações que afetam diretamente o cotidiano profissional desses policiais. Questões como as relações de comando, o relacionamento interpessoal, o cumprimento de tarefas, os padrões de obediência e desempenho funcional, além das questões de satisfação e motivação para o trabalho. Considerando que dada à natureza da ocupação, o índice de stress é alarmante, produzindo indivíduos com níveis preocupante de sofrimento psíquico. Assim, pesquisas dessa natureza objetivam fornecer elementos para uma melhor compreensão da atividade policial, dos aspectos da relação pessoal e profissional, de aspectos positivos e negativos da tarefa em si, bem como, daquelas situações que provocam o desgaste físico e psíquico e funcional. Acreditamos que o contato investigativo, além da própria convivência com essa população proporcionará elementos para uma discussão junto aos comandos, no sentido de criar novas situações para o trabalho diário, prevenindo ocasiões que provoquem casos que futuramente serão encaminhados ao Programa de Acompanhamento e Apoio, em suma, quando já se registrou a ocorrência que vitimizou alguém.
METODOLOGIA:
Adotamos como metodologia de trabalho a análise do trabalho, de aspectos descritivos do exercício profissional e dos relatos dos indivíduos pesquisados. Os dados foram coletados através de observações realizadas junto ao 32° Batalhão de Polícia Militar e 1ª Companhia, com sede em Assis. As observações foram desenvolvidas durante aproximadamente um ano e as entrevistas durante dois meses. Foram sujeitos da pesquisa, 50 policiais militares de ambos os sexos de diversas patentes na cadeia de comando, desde o soldado praça (nível de acesso à carreira) até capitães. As entrevistas tiveram como local, a sede da e 1ª Companhia localizada na cidade de Assis, estado de São Paulo.
RESULTADOS:
Devemos considerar que a instituição polícia militar foi criada e se sustenta sobre os pilares da hierarquia e da obediência e todo indivíduo que ingressa nas fileiras da corporação já sabe de antemão que esses pilares sustentam toda uma história de muitos anos. Contudo com a mudança da sociedade, novos desafios passam a interferir no seio das diversas instituições e a instituição polícia militar têm consciência da necessidade de atualizar-se. Assim, o próprio programa de Acompanhamento e Apoio ao Policial é prova desta nova postura da instituição. A participação de civis, discutindo questões até então restritas ao ambiente da caserna, revela uma mudança de mentalidade. É indiscutível a espírito de corpo presente na corporação, por outro lado, a possibilidade de discutir questões ligadas ao cotidiano da profissão revela oportunidades de se apontar problemas que afetam o trabalho, mas nem sempre são possíveis de serem apontados, pois sempre prevalece a hierarquia. Notamos uma participação efetiva dos sujeitos, e com isto pudemos indicar aos comandos alguns aspectos que estão interferindo no trabalho e que, por isso, acabam por criar situações de insatisfação e desmotivação. Também oportunizou-se condições para fortalecer imagens do trabalho policial que são importantes, como a identificação com a profissão e a dedicação ao trabalho, independente do risco que ela representa. Notamos a importância de se dar voz ao trabalhador, principalmente se este pertence à instituição como a polícia, que nem sempre oferece essas oportunidades.
CONCLUSÕES:
O trabalho revelou uma necessidade de escuta desses profissionais, independente do cargo ou da posição que ocupam. Revelou também a necessidade de se imprimir novos modelos de relação profissional e pessoal, onde se possa valorizar o respeito ao indivíduo e o reconhecimento das limitações e de seu comprometimento com a tarefa a ser executada. O trabalho propiciou a oportunidade dos policiais relatarem suas angústias com os desafios da função, mas revelou também a identificação e o desejo de ser policial, que muitos alimentam desde cedo. Ao estudarmos o cotidiano do trabalho policial, adentramos em situações que às vezes são ignoradas pelo restante da população, que se enxergam a corporação quando esta comete deslize ou irregularidades, o que para nós civis, já se configura como algo irreparável, pois se vitimou alguém. Acreditamos que podemos atuar de maneira cooperativa, auxiliando esses indivíduos para eles possam agir de maneira para produtiva, considerando em primeiro lugar o respeito à dignidade humana, a começar por eles mesmos.
 
Palavras-chave: Trabalho policial; Motivações; Insatisfações.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006