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F. Ciências Sociais Aplicadas - 12. Serviço Social - 1. Serviço Social Aplicado
COOPERATIVA DOS TRABALHADORES AUTÔNOMOS DA SELEÇÃO E COLETA DE MATERIAIS RECICLAVEIS – COOSELC: UM ESPAÇO DE ORGANIZAÇÃO DOS CATADORES DO JANGURUSSU?
Yanaeê Kelly Pessoa Ferreira de Melo 1
Francisca Valcélia Carneiro 1
Epitácio Macário Moura 1, 2
(1. Universidade Estadual do Ceará/UECE; 2. Prof. Dr. )
INTRODUÇÃO:
Com o crescimento industrial e populacional de Fortaleza, a quantidade de resíduos sólidos produzidos também aumentou, servindo como fonte de rendimentos e sobrevivência para muitos desempregados que se transformaram em catadores de materiais recicláveis. A precarização, o desemprego e a exclusão são outros fatores relacionados ao aumento do número de pessoas que sobrevivem da coleta e venda de materiais recicláveis. Uma visita ao antigo aterro sanitário de Fortaleza, no bairro Jangurussu, atesta este fato: para lá se dirigem rotineiramente vários trabalhadores em busca do sustento. Eles se dividem em dois grupos: aqueles que fazem parte de uma cooperativa e os que não tem nenhuma forma de organização. É do primeiro segmento que tratamos nesta pesquisa. Consideramos relevante analisar os mecanismos de organização destes trabalhadores, suas contradições, avanços e desafios em face do enfrentamento dos vários problemas que os afetam. Buscamos compreender o processo de formação e evolução histórica da Cooperativa dos Trabalhadores Autônomos da Seleção e Coleta de Materiais Recicláveis — COOSELC. As perguntas que nos guiam na pesquisa são: como se originou e se desenvolveu a COOSELC? Qual a relação da cooperativa com o poder público? Como se dá a participação dos cooperados nas decisões da cooperativa? Qual o sentido da cooperativa para os cooperados? Que contradições, limites e possibilidades a cooperativa apresenta enquanto forma de organização destes trabalhadores?
METODOLOGIA:
A pesquisa é de caráter qualitativo e foi delineada da seguinte forma: seleção e exploração de bibliografia que trata diretamente da questão e de problemas correlatos; recolha e análise de projetos e documentos da cooperativa; compilação de dados coletados em jornais locais sobre a formação e a ação da cooperativa em estudo; visitas à autarquia municipal responsável pela limpeza e tratamento do lixo,com entrevistas voltadas aos gestores de tal instância e à assistente social que acompanha diretamente o funcionamento da COOSELC, a fim de obtermos informações sobre as relações entre o poder público e a referida cooperativa; e visitas in loco com entrevistas aplicadas à diretora da cooperativa e aos trabalhadores cooperados, envolvendo uma amostra de cerca de 45% dos trabalhadores.
RESULTADOS:
Os dados evidenciaram que a cooperativa surgiu a partir da desativação do aterro sanitário do Jangurussu em 1998, quando o Governo do Estado, pressionado pela opinião pública, desenvolveu o Projeto Sanear com o intuito de implantar três aterros sanitários para atender à Região Metropolitana de Fortaleza, através de financiamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID. Duas importantes questões demandadas pela mobilização dos catadores que entraram na pauta do projeto foram a construção de uma Usina de Triagem de Resíduos e a formação de uma cooperativa de catadores. Quanto às atuais condições de funcionamento da COOSELC, verificamos que as atividades de separação e coleta de materiais estão comprometidas pela falta de equipamentos de trabalho adequados. Através das falas de 104 membros da cooperativa, observamos que a maioria não participa da tomada de decisões, não tem conhecimento sobre o funcionamento e as atribuições da cooperativa e sente-se coagida pelas atitudes da atual diretora. Uma das maiores limitações ao processo de autogestão da COOSELC deve-se à ampla dependência financeira e política desta em relação ao poder público municipal. Percebemos que, apesar das dificuldades de organização, a freqüência assídua dos catadores aos espaços físicos da cooperativa apresenta-se como uma possibilidade de envolvimento maior com a manutenção da entidade, pois nas ocasiões em que estão reunidos discutem sobre seus problemas e propõem soluções.
CONCLUSÕES:
O estudo demonstrou que, para que a Cooperativa possa desenvolver sua auto-sustentabilidade, faz-se necessário o redirecionamento da relação entre ela e o poder público local, competindo a este contribuir para a melhoria das condições infra-estruturais, através de investimentos na aquisição de novas máquinas de coleta e seleção de material e na reforma do espaço físico, tendo em vista que a cooperativa sozinha não dispõe de capital para empreender tais projetos. Também se constitui papel da administração municipal desenvolver ações que incentivem os cooperados a participarem efetivamente do funcionamento da cooperativa, por meio de curso de capacitação sobre cooperativismo e de atividades que despertem neles o espírito de coletividade, solidariedade e autonomia. Além disso, a organização dos próprios trabalhadores é um aspecto de fundamental importância para o rompimento dos vínculos de dependência com o poder público e para superação das dificuldades postas pela insalubridade do ambiente, pois a reestruturação e a reorganização da cooperativa serão possíveis a partir não da imposição de órgãos públicos, mas da mobilização e do engajamento dos próprios catadores.
Instituição de fomento: Programa de Educação Tutorial - PET de Serviço Social
 
Palavras-chave: Cooperativa; Organização; Catadores de Lixo.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006